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    Arquivo: Edição de 15-02-2006

    SECÇÃO: Crónicas


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    Solidão

    A solidão começa a ser palavra chave, quando se analisa a sociedade envelhecida. Não é uma inevitabilidade, mas quase. Qualquer família antiga, mesmo com meia dúzia de filhos, os progenitores tendem a ficar sós. Portanto, tanto os que constituíram família ou não, têm o mesmo fim – viverem no isolamento de familiares!

    Os idosos actuais ainda vão tendo algum apoio dos filhos ou netos, mas a vida “moderna” leva-os para lares, hotéis próprios ou para instituições de classes profissionais, como o Lar do Comércio ou a Casa do Artista, quando têm essa sorte!

    A solidão tem cura ou deixa de doer, quando há alternativa. A leitura é o principal remédio. A televisão suaviza a falta de contactos e de conversa, mas cria vícios, passa a ser uma droga! E os computadores e a Internet? São óptimos passatempos, quando se sente o pulsar rápido da evolução dos conhecimentos e interesses da Humanidade. Caso contrário, é um mundo louco a destruir um pacato cidadão, que se viu e desejou para “decorar” a tabuada!

    A minha querida mãe, ao passar os últimos anos de vida, em estadias de três meses nas casa dos quatro filhos, jamais se queixou ou sentiu o isolamento, pois lia e relia qualquer livro, principalmente os religiosos. Os livros da vida dos Santos e os contos de Miguel Torga lutavam pelas consultas! Nunca consegui saber as vezes foram lidos. Quando se gosta!?...

    Ilustração RUI LAIGINHA
    Ilustração RUI LAIGINHA
    Ao ver algum tempo a televisão, dizia:

    – Cala lá esses macacos! E, nem sempre eram desenhos animados!...

    Há muitas solidões. A maior deve ser dos presos e doentes, lá diz uma das Obras de Misericórdia: “Visitar os encarcerados e enfermos”.

    O estar só pode aparecer em qualquer situação e idade. Como será a do emigrante?

    Com os meus oito anos senti o isolamento. Quando a Regente Escolar, D. Albertina, a leccionar em Roalde (S. Martinho de Anta), emigrou para o Brasil, tive de ser transferido para a Escola de Provesende, passando a viver na quinta familiar, próxima do Senhor Jesus, com os caseiros velhotes.

    Na companhia de um cão rafeiro, chamado atrevido, passeava nas vinhas e olivais, e esquecia a saudade. Ou ia para a estrada do Pinhão meter conversa com o cantoneiro, Sr. Henrique, que arranjava as valetas e deitava pazadas de terra ao macadame! Ouvia-lhe estórias de partir a moca!. Assim, consegui o primeiro amigo adulto ...

    Os animais são óptimas companhias. Criam linguagens, só compreendidas por quem os conhece.

    Tenho um cão citadino, conhecido por “salsicha”, que sabe, ao rigor dos minutos, as horas a que chego a casa e quando o levo à rua. Se não o conduzo ao passeio, vem saltar-me às pernas!

    Havendo necessidade de puxar conversa aos residentes de Paranhos (Porto), ele seria o agente. Adultos, novos e idosos não resistem à conversa, motivada pela passagem do cãozito. São as crianças, acompanhadas pelos pais, que mais o afagam.

    Se tivéssemos “todos” possibilidades de possuir um animal de estimação, nem que fosse uma pequenina tartaruga ou um passarinho bico de lacre, a solidão tinha horas mais curtas, e os grupos de velhos, nos bancos dos jardins ou sentados nos corredores dos shoppings, seriam mais felizes!

    Passar pelo jardim do Marquês de Pombal, agora destroçada pelas obras do Metro, causa dó ver tantos cabelos brancos à deriva!

    Por: Gil Monteiro

     

     

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