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    Arquivo: Edição de 15-10-2005

    SECÇÃO: Crónicas


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    Biomassa

    Somos um país privilegiado. Por enquanto, temos o flagelo dos incêndios, pois ainda há floresta e obra humana a queimar! E quando não houver? Portugal será um deserto com alguns oásis, como a Serra de Sintra, e pouco mais... A desertificação começou ontem.

    É preciso, é urgente, acabar com as queimadas das matas e vegetação das serras, montes, baldios e antigos terrenos agrícolas abandonados, onde os pinheiros, tojos, silvas e giestas tomaram os locais do milho, centeio, batatais ou vinhas. Como?

    A minha formação geológica contribuiu para equacionar uma hipótese de combate aos incêndios. A conclusão é simples. Mas antes de a escrever, deixem que conte o seguinte:

    Nos idos anos setenta, sendo Professor no liceu Alexandre Herculano, fui visitado pelo colega António Silva, assistente na Faculdade de Ciências de Lisboa, a fim de o acompanhar à Serra de Valongo, para recolha de fósseis de trilobites, necessários aos trabalhos da tese de doutoramento.

    Vestidos a preceito, com escropo e martelo de geólogo, lá fomos partir pedras!

    Trabalho duro e pouco rendoso, mesmo a partir as ardósias velhas, empilhadas nos muros abandonados da serra!

    A curiosidade e a sagacidade das nossas gentes são enormes: prontificou-se, um bando de rapazotes a fazerem o trabalho, mediante um preço por cada fóssil e tipo de conservação!

    O que fomos fazer?! No encontro da semana seguinte, eram tantos e tão bons os achados que tivemos de baixar os preços!... No encontro seguinte acabamos com o negócio!

    Pois bem, se o Governo da Nação estipulasse um preço alto e “a brio”, como se dizia por Trás-os-Montes, por cada carrada de mato, resultante da limpeza do solo das serras e matas, os antigos caminhos pedrestes e de carros de bois, seriam limpos em pouco tempo, tudo era lucro. O preço a pagar, por a biomassa recolhida, seria menos do que o custo dos carros dos bombeiros destruídos nos incêndios, e muito menos do que um submarino, comprado para a Marinha de Guerra, e utilizado para vigiar os poucos cardumes de atum à entrada do Mediterrâneo!

    As “fábricas” de biogás, uma por cada distrito, teriam matéria prima para todo o ano, mesmo com contenção nas entregas de estrumes e ramos. Os preços dos materiais recolhidos seriam pagos a primor, e sempre ...

    Desde já, estou disposto a entregar os matos que deixei crescer, desmazeladamente, na vinha do Vale da Trave e no lameiro dos Escovais (S. Martinho de Anta). Só pedia que no meio da limpeza não levassem a velhinha e raquítica cerejeira, sobrevivente na escombreira da estrada que cortou o antigo campo de milho, feijão e feno.

    A desertificação humana nas zonas rurais é o grande causador dos incêndios. Ninguém tem necessidade de limpar os montes para estrumar os campos, deitá-los às cortes do gado ou secar as ruas enlameadas. Mais, o trânsito das pessoas, animais e carros de bois impediam o crescer das silvas, tojos e pinheiros nos caminhos. Seria possível um incêndio no caminho da fonte da Tenaria? Nunca. Era um corta-fogos natural.

    A minha ideia a favor da conservação do meio ambiente é uma homenagem ao Dr. Catarino Nunes que, no primeiro ano no liceu Camilo Castelo Branco, em Vila Real, ao ver a minha colecção de rochas, numa caixa de sapatos da loja do Sr. Matins da rua Central, ao ver que, no lugar da argila, tinha um bocado de telha da fábrica da Estação, afirmou a sorrir:

    – Sim senhor! Também pode ser!...

    Por: Gil Monteiro

     

     

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