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    Arquivo: Edição de 15-01-2009

    SECÇÃO: Crónicas


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    Poluição sonora

    O ser humano nasceu para viver em harmonia – consigo e com o meio ambiente.

    Não é por acaso que sentimos a magia do Éden e de Adão e Eva. Haverá cenas mais idílicas do que as do Paraíso?!, apesar da serpente?

    Temos que combater os ruídos. Lutar contra a poluição sonora é urgente. Se a acuidade auditiva se vai deteriorando com a idade, os mais novos, frequentadores das discotecas e de aparelhos nos ouvidos, vão ficar surdos.

    Os numerosíssimos telemóveis, de altos toques ou a debitar música, vão dar gerações de anomalias auditivas.

    Na zona da rua de Costa Cabral (Antas-Porto), fomos surpreendidos por estridentes toques de ambulâncias, rumo ao Hospital de S.João; seguindo-se carros da Polícia Judiciária, em alaridos, com delinquentes para o edifício sede. Ao passarem, lembram o inferno! Deixam-nos em transe, especados nos passeios da rua.

    Pensávamos que só em Nova Iorque era possível tal espalhafato. O cinema e a televisão eram pródigos em mostrarem a gritaria dos vários carros dos polícias americanos perseguindo os bandidos, em ruas de quatro faixas de rodagem, agora podemos assistir, na rua de Costa Cabral, a uma miniatura desses acontecimentos!

    Os sons fora do normal vindos das casas vizinhas são hoje perturbantes, elevados decibéis das colunas de som tornam o juízo sem o perfeito juízo!

    Nas aldeias transmontanas, assistimos a sons de encantar…O chiar dos carros de bois recolhendo ao povoado, carregados de sacos de batatas, milho (espigas) ou lenha, faziam sons melodiosos. Os miúdos chegavam a adivinhar pelos sons os carreiros a chegar.

    Não esqueço as estórias do Balhestra, sentado no cruzeiro, dizendo: «…ia cheio de medo à frente do carro de bois, carregado de cavacos para vender na Régua, enquanto atravessava a ponte velha do rio Douro: as rodas faziam estalar as travessas de madeira entre as guardas da ponte; agarrava-me aos cornos do paivoto, pronto para cair ao rio (!); ao som dos estalos da ponte chegávamos a terra.»

    Após a Segunda Guerra Mundial, suponho, foi decretada a proibição da chiadeira dos carros. A GNR esperava os carreiros para os multar.

    Numa feira de Santo António (Vila Real), o Augusto levou a junta de bois e o carro para venda ou troca. No regresso, o novo carro carregado de mercearia, raia seca e sardinhas em barricas, ao subir os Torneiros começou a chiar. Ao lusco-fusco, apareceram os guardas, de canhotas ao ombro, mandando parar. O Zé de Vila Marim, seguia atrás, tocando umas vitelas, compradas para os talhos de S.João de Pesqueira, sossegou o Augusto, dizendo:

    « – Ó sr. guarda! Já vou a pôr sabão no eixo (como não o tinha) esfregou, com giestas, tiradas da berma do caminho, mas o carro continuou a cantar!

    – Está multado!

    – Espere, espere, sr. guarda – tirou a caixa de fósforos do bolso e, como fosse sabão, tentou lubrificar o eixo, e falando para o Augusto:

    – Anda devagarinho, vai deixar de chiar!

    Como a madeira do eixo arrefeceu, o Augusto descoroçoado puxou os bois e… safaram a multa!

    Se os ruídos são uma praga, é reconfortante podermos recordar sons harmoniosos da natureza:

    O cantar dos ralos ou o coaxar das rãs, numa noite cálida nos lameiros da Tenaria (Roalde);

    Acordar numa “chitaca“ africana, ir à varanda colonial, e ouvir a sinfonia da passarada nas matas!

    Por: Gil Monteiro

     

     

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