800 anos de Roalde
Nem sonhando, poderia imaginar que a povoação onde nasci, entre montes e vales e vivendo com os pais e avó materna, era tão famosa!
Pois é: o lugar de Roalde, com a fonte da Tenaria, teve Foral concedido por D. Sancho I (em 1208)! No dia de Santa Maria Madalena, padroeira da Terra, vai haver festa rija. Lá estarei para ver e contar!...
Tive uma infância povoada de magia. Não posso deixar de referir uma: levado por os irmãos à capela, em ruínas da Senhora da Veiga, e bater com os pés na entrada do templo para ouvir o eco do sino aí soterrado! – Diziam!
Ainda suponho que se ouvia mesmo!
Jamais esquecerei que ao saibrar uma vinha, perto das ruínas, o Lapatão descobriu um pote de barro enterrado! Foi um assombro e um desassombro!, pois, na vez de conter moedas de ouro, tinha sementes carbonizadas. Seriam resultantes de esconderijo, pelas sucessivas invasões nómadas?
Nas constantes deslocações dos ibéricos, no tempo dos suevos, vândalos e celtas, os animais domésticos e as sementes valiam mais que ouro! No regresso às zonas agrícolas, caso dos lameiros da Senhora da Veiga, era só semear e colher! O local das sementes teria sido perdido? Ou seria dos que foram fixar-se nos arredores do santuário de Panóias? Nas terras de Constantim e Torneiros já haveria oliveiras?
Ao saber que o meu ADN poderá vir desses antepassados, passo a gostar, ainda mais, do Jardim de Carreira e dos miradouros: Senhor do Calvário, Meia-Laranja, Trás do Cemitério e outros de Vila Real!
Quando passei a residir na Grande Cidade (Porto) para continuar os estudos, não poderia vir a crer que o meu lugarejo transmontano teria sido tão importante como o antigo Burgo Portucalense! Assim, o Daniel afirmava:
– Os povos do interior eram mais hábeis e aguerridos do que os da beira-mar. Um peixe sempre se apanha, mas [para] matar um veado, coelho ou perdiz era preciso muita astúcia e enfrentar os lobos! Veja-se a importância do Viriato e dos pastores dos montes Hermínios.
Não há dúvida!, a água pura da Fonte da Tenaria, fresca de Verão e quente no Inverno, forma um ribeiro, rega os lameiros e, quando chega à “Queda”, já tem força para girar as mós de meia dúzia de moinhos. (A Ana Moleira, com a sua burra, distribuía a farinha de milho e centeio, a todo o lugar, pois os outros moleiros, com possantes machos, distribuíam as farinhas e farelos, desde Sabrosa a S. Martinho). Depois dos moinhos, pela reunião de outras pequenas redes hidrográficas, como as da Magalhães e de Paradela de Guiães, já passa a ter nome de rio, e desagua na margem direita do rio Douro, próximo de Galafura.
A água que consumi na cidade do Porto, durante o meu crescimento intelectual, teria moléculas de onde nasci?!
Um privilégio de Roalde é ter, por doação perdida nos tempos, talvez duma família Cabral da casa do Peitoril com pedra de armas e paredes interiores forradas de argamassa e colmo, um legado de alguns montes nos arredores (Termos) destinado à capela de Santa Maria Madalena. Os rendimentos eram e são para obras e festas, e para um pároco rezar a Missa todos os domingos! Lembro o Sr. Ferreira e o Sr. José Carvalho como administradores do importante legado.
Espero que os proventos dos Termos sejam bem empregues na “Festa dos Oitocentos Anos de Roalde”.
Por:
Gil Monteiro
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