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    Arquivo: Edição de 15-04-2008

    SECÇÃO: Crónicas


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    Ano agrícola

    Há vários indicadores do ano agrícola. Os lavradores e os trabalhadores previam, e ainda não esqueceram, mesmo vivendo nas cidades, se ia ser ano bom de vinho, azeite ou pão! Salvo acidentes impróprios e raros, os prognósticos tinham boa percentagem de acerto.

    Quando no Inverno rebentava o “Juiz do Bouço”, ou seja: da quinta do Bouço vinha tanta água das chuvas que o ribeiro inundava, e nos campos alagados corria um lençol de água até à fonte da Tenaria (Roalde)! Não só os fenos e os trevos passavam a crescer mais, devido à “água de lima”; como os bois, cabras e ovelhas medravam pela engorda, e os milheirais e batatais iriam produzir bem – a água não iria faltar! “Ano de nevão, ano de grão” era outra certeza.

    Na ida a Soutelo do Douro observei que as andorinhas, regressadas mais cedo, já tinham filhotes. Vê-las alimentar, pelos progenitores de bicos cheios de insectos, foi um espectáculo!

    Porquê tantos insectos, ao redor da quinta? Tempo demasiado quente?, como tal agoirento: talvez, veremos…, mas ano farto!

    Se a Primavera começou mais cedo, outros seres beneficiaram, entre os quais os melros, os pardais e as pombas selvagens e domésticas. Até as galinhas, saídas do local confinado, e libertadas no terreno de cerejeiras e oliveiras, depenicam as folhinhas de relva, com pressa e gula!

    Supondo que o tempo trouxe fartura aos animais, teria de haver abundância de ninhos, claro! Num instante dei com dois de melro: um numa oliveira, onde o Filipe o investigou, vendo o interior forrado a lama; o outro, num cipreste tão alto que não se conseguiu saber se estavam a por ovos! Activo andava o casal dos melros!

    A Maria Fernanda, ao apanhar o fresco da tarde de sábado na varanda, entusiasmada pelos ninhos descobertos, resolveu dar atenção a uma rola furtiva a poisar na árvore, em frente da casa.

    Tanto mirou, tanto mirou, entre os ramos, que avistou um ninho de rola! Foi verdade!, mesmo com dificuldades de observação: a ramagem era espessa e abundante. Só da varanda foi possível presenciar o ninho de pauzinhos e chamiços, onde se podia observar o pescoço da rola poisada.

    Quando também consegui ver o ninho fiquei contente!

    As rolas aves de arribação abundantes quase desapareceram, devido à caça desenfreada e à extinção dos campos de cereais, e ao uso dos herbicidas e das águas contaminadas.

    Será que as rolas já se reciclaram? Larvas nascidas das amêndoas e azeitonas abandonadas nos campos, não faltam. As sementes campestres serão os novos alimentos?

    Sempre gostei de animais. “Mal feito fora” dizia o Balhestra, quando narrava as estórias sentado à volta do Cruzeiro, rodeado de atentos ouvintes (!) Quem bebeu água da Tenaria tem de ser amigo de seres vivos, mesmo de todos!

    As coníferas, onde as rolas construíam o ninho, foram plantadas no ano em que comecei a leccionar no liceu de Lamego, já lá vão mais de quatro décadas (e não parece!). Foi graças ao Engº. Melo, empenhado no repovoamento vegetal da serra das Meadas, que recebi a oferta das plantas para Soutelo. Foram postas num socalco, junto ao muro, a servir de sebe. Hoje, os dois ciprestes sobreviventes dão sombra à casa e têm ninhos de rolas!

    Por: Gil Monteiro

     

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