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    Arquivo: Edição de 30-12-2006

    SECÇÃO: Crónicas


    O Marão

    Para o transmontano-duriense o mundo era só aquém Marão, e pensava: “Serra melhor não há”! No dia a dia, a serrania indicava: neve, nuvens ou o tempo vai mudar. Ao longe, era o boletim meteorológico. Descendo-a estávamos no Porto (Amarante era a fralda dos montes!).

    “Tens uma quinta grande!?... É um Marão” – dizia o Ferreira Gomes, da cidade do Porto, ao Dr. Serôdio, quando visitou a Terrincha.

    Logo, para impressionar, o dono dizia: “O comboio do Tua leva meia hora (!) a atravessá-la”.

    “Este lameiro vale pouco! É como o Marão… não dá palha nem grão!” –, afirmava o Rodrigues, ao tentar comprar a leira da Fonte do Monte ao taberneiro Alfaiate (tinha trocado a tesoura, o giz e a fita métrica, pela tasca de vinho, petróleo e mercearia; e chincalhão e fito na rua!).

    Se o que disse tem a ver com a memória de miúdo, hoje, diria: “Melhor que o Marão, só outro Marão!”. Nem o Alvão (tão falado), Gerês ou a Estrela terão o mesmo encanto. Viver na montanha é amar o Céu! Razão tinha Miguel Torga em situar no Marão o Reino Maravilhoso.

    A obsessão do poeta-contista, pelas serranias, era tão grande que o ouvi dizer, no seu cenáculo do consultório médico, em Coimbra:

    “Recebi a visita duma colega vossa” – estava com o Andrade, professor no liceu de Lamego – natural de Ovar, que me falou com tanto empenho e beleza do mar, que tirei da estante o Mar, e disse: “Tome!, encha--se de Mar!”.

    Tal sorte não tive. Leu-nos poemas sobre os marinheiros dos barcos rabelos e sobre a vida do duriense (deu uma rabecada ao Andrade, por estar em Lamego e não conhecer São Leonardo da Galafura); e eu, conterrâneo, com a avó materna a tratar por prima a sua mãe e irmã, vi recolher o livro à pilheira (estante metida na parede, por cima e atrás da secretária), ficando-me, até hoje, o desprazer de não conseguir ter um livro oferecido pelo grande poeta-contista.

    Enquanto estudante no Porto, as viagens de e para Vila Real, eram, quase sempre, feitas nas camionetas Oliveira Águeda ou comboio. O Corgo e o Douro têm de perdoar, pois preferia subir e descer o Alto de Espinho ao som do roncar do motor das camionetas. Na paragem da Boavista, depois estrada da Campeã, começava o encantamento, que só terminava no largo do Convento de São Gonçalo de Amarante, quando via o Santo, ia ao café ou observava os impactos das balas, no granito da ponte ou nas paredes da igreja, resultantes da traulitada (revolução monárquica do Norte, de Paiva Couceiro).

    “O Marão vai ser descaracterizado” – afirmou a Maria Fernanda, quando entrevistada para Televisão sobre a segurança do IP4.

    As regras de trânsito postas em prática e a futura auto-estrada, com um túnel de seis quilómetros (!), a sair ou entrar na Campeã, iria acabar com a interioridade. No entanto, irei fazer figas à nova auto-estrada, e continuar a subir as voltinhas do Marão!

    O Sport Clube de Vila Real teve, nos tempos áureos – anos cinquenta – grande amizade com os adeptos do Sporting de Espinho (caso raro entre oficiais do mesmo ofício!).

    Assisti a uma confraternização, dedicada à caravana espinhense, na chegada à Vila (rua Central), antes do jogo no Campo do Calvário, que jamais poderei esquecer.

    “Sabem o que recordo dessas festividades”?

    Numa faixa de pano, empunhada pelas gentes de Espinho, lia-se em letras gordas:

    “Vêm as ondas do mar beijar as ondas da serra”.

    Por: Gil Monteiro

     

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