COMEMORAÇÕES DO 25 DE ABRIL EM ERMESINDE
Direitos das mulheres e República em destaque no 25 de Abril em Ermesinde
A Junta e Assembleia de Freguesia de Ermesinde levaram mais uma vez a cabo a sua sessão solene comemorativa, que decorreu no auditório da Junta, na manhã do dia 25 de Abril, após a realização da “Caminhada da Liberdade” e a cerimónia de hasteamento das bandeiras.
A sessão solene contou com as intervenções políticas de representantes das várias forças com elementos eleitos na Assembleia de Freguesia.
Seguiu-se-lhe a entrega dos prémios do concurso de cartazes aberto à comunidade escolar.
Integrado nas comemorações decorreu também um espectáculo, realizado na noite do dia anterior, no Parque Urbano de Ermesinde, do qual damos conta na página seguinte, e a já tradicional Corrida Juvenil, cujos resultados relatamos no suplemento “Ermesinde Desportivo”.
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Fotos URSULA ZANGGER |
Dado início à sessão solene pelo presidente da Assembleia de Freguesia, Raul Santos, coube a primeira intervenção a Alexandra Ferraz, da CDU, cujas palavras sublinharam a importância do 25 de Abril para os direitos das mulheres.
Após enunciar uma longa lista de discriminações de género – negação do acesso a variadas profissões, proibição de determinadas práticas desportivas, proibição de viajar sem autorização dos maridos, direito dos maridos abrirem a correspondência das mulheres, desigualdade no casamento e educação dos filhos, proibição de recorrer a contraceptivos sem o acordo dos maridos, necessidade de autorização dos pais ou maridos para a inscrição em colectividades – num desfiar de situações «que hoje nos parecem absurdas e ridículas, mas que se perpetuaram por longos anos», Alexandra Ferraz passou a enunciar os direitos conquistados no plano do trabalho, da vida local e do apoio social, apesar dos ataques dos «governos de turno». Lembrou também o fim da guerra colonial, «perdida e criminosa».
Por fim apelou à vigilância no sentido de «combater todos os retrocessos em marcha ou anunciados».
O orador seguinte foi Jorge Videira, da Coragem de Mudar, que pôs a tónica no paralelismo da comemoração do Centenário da República e o das comemorações referentes ao 25 de Abril, que consagram uma reconquista dos ideais da República – liberdade, igualdade e direitos cívicos.
Referiu depois a cidade de Ermesinde como tendo uma memória e um passado de lutas, manifestações e de prisões que fazem parte da história da resistência cívica ora à Monarquia, ora à República, ora ao Estado Novo».
Abordou depois o que falta cumprir em Abril e, por via disso, ao «descrédito da classe política». E terminou com votos de mobilização, inconformismo e esperança.
Seguiu-se-lhe Diva Ribeiro, do PS, que começando por evocar os combatentes anti-fascistas, destacou também as mulheres que dedicaram a vida ao combate pela liberdade.
Recordou a ausência do Estado-Providência durante 48 anos e, com o advento do Estado Novo, lembrou como a situação da mulher regrediu.
Depois, fazendo referência à discriminação sobre as mulheres (enumerando situações análogas às antes referidas no mesmo sentido por Alexandra Ferraz), mostrou as diferenças trazidas com o 25 de Abril e de que era exemplo a constituição actual da Junta de Freguesia de Ermesinde (cinco mulheres em sete elementos).
Terminou pondo ainda a tónica na questão feminina: «Cumprir o 25 de Abril é continuar a lutar para acabar com as injustiças contra as mulheres».
«Cumprir o 25 de Abril é lutar pela igualdade plena, pela paridade e pela liberdade».
Teresa Raposo, do PSD, encerrou as intervenções em nome das formações políticas, começando por uma nota pessoal de quem não tinha testemunhado por si a data histórica, com pena, porque sabia que «teria vivido intensamente aqueles momentos».
Recordando depois uma das razões invocadas para a Revolução pelo MFA no próprio 25 de Abril, «o crescente clima de total afastamento dos Portugueses em relação às responsabilidades políticas que lhes cabem como cidadãos», mostrou a preocupação com o estado de coisas actual, considerando que «há que voltar a trazer os jovens para a intervenção pública», confiando nos contributos das suas «ideias renovadas» e da sua «irreverência».
Evocou depois os fundadores do PSD, cujos primeiros órgãos nacionais eram constituídos por «28 pessoas... 27 homens e apenas uma mulher». E continuou: «Foram precisos 34 anos para que uma mulher assumisse a liderança de um partido político em Portugal». Ou ainda: «Olhem para as vossas famílias e para as vossas casas, e imaginem como é que elas seriam se as vossas mães, mulheres ou irmãs tivessem uma participação política e social mais activa, o impacto que isso não teria nas vossas vidas».
E apontando já à conclusão, «o 25 de Abril não se esgota numa época, num momento ou num aniversário que se comemora. É preciso continuar a fazer a revolução no dia a dia, conquistando a liberdade, mas também a igualdade (...). A população portuguesa mostrou ao longo dos tempos que sabe lutar pelos seus interesses, unindo--se em tempos de crise, reivindicando os direitos que possui, saindo à rua quando é necessário, enfim, escolhendo o que é melhor para si e dizendo Basta! quando pensa que já chega.
Esta é uma dessas alturas porque são estas as portas que a Revolução abriu!».
Em nome da Junta de Freguesia interveio então Luís Ramalho, que começou por fazer uma leitura do significado da palavra Liberdade, a partir dos conceitos consagrados num dicionário. Assim evocou a decisão de poder agir livremente, consoante as próprias natureza, fantasia e vontade e o poder de agir sem coerção.
Lembrou depois os mecanismos da censura, o conceito de tolerância, a aceitação dos outros, com as suas diferenças, não apenas em relação às mulheres, mas também às pessoas portadoras de deficiência, às minorias étnicas e a todas as outras minorias e até a todos os seres vivos.
E defendeu o direito das pessoas exercerem a sua liberdade excepto nos casos definidos pela lei.
Lembrou o direito, mas também o dever de votar, e terminou apelando à responsabilidade pelos excessos do uso da liberdade.
O último orador foi o presidente da Assembleia de Freguesia, Raul Santos, que começou por recordar a aparente passividade com que os militares conseguiram derrubar a ditadura, sem derramamento de sangue.
E prosseguiu mostrando a política de desenvolvimento: «auto-estradas, transportes, ensino, saúde, segurança social, justiça, leis do trabalho, comunicações, para só falar nas principais. E com a integração de Portugal na União Europeia...».
Para as duas gerações de após o 25 de Abril isto dirá pouco, «porque sempre viveram em democracia e com os meios e bens necessários, próprios das sociedades modernas e desenvolvidas (...)».
Falou depois da crise actual, «onde o mercado de trabalho foi o mais afectado», mas considerou que a esperança deve manter-se, «exigindo aos nossos governantes que cumpram com os seus programas e à oposição que seja credível nas suas propostas.
Finalmente abordou a responsabilidade das autarquias, defendendo em Valongo, a dinamização das zonas industriais, o investimento empresarial, a transferência de competências para a Junta de Ermesinde, principalmente na área da Acção Social, em articulação com as IPSS.
«Temos de estar atentos e agir perante estas realidades, contribuindo para a resolução dos problemas, principalmente dos mais desprotegidos e carenciados, só assim estamos a cumprir os ideais do 25 de Abril».
Terminadas as intervenções políticas a sessão prosseguiu com a cerimónia de entrega de prémios aos vencedores (ou seus representantes) do concurso de cartazes do 25 de Abril.
Por:
LC
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