Ensino – aprendizagem
«Os professores dos 2º e 3º ciclos e ensino secundário vão prestar provas para poderem vir a leccionar», ouvi hoje pela rádio. «O cumprimento da Proposta de Bolonha assim o exige», informava o locutor. É matéria de monta!...
Aos comentários ouvimos a surpresa dos inquiridos e as curtas respostas. Foi curioso verificar que a novidade não foi linearmente reprovada, como é qualquer inovação.
Desde o primeiro ano que leccionei, no Liceu de Lamego, sempre disse:
– Nenhum professor devia ser autorizado a exercer funções sem o estágio ou um colega mais velho a orientar--lhe a primeira aula.
Nesse liceu (anos sessenta) apenas tinham estágio o Reitor, a Vice-Reitora e um dos professores de Educação Física (Prof. Girão).
Todos os docentes, mesmo o Senhor Cónego Noronha, a leccionar Religião e Moral, eram eventuais, colocados por telegrama em Setembro e despedidos, após a conclusão dos exames, em Julho/Agosto.
As candidatas a professoras do ensino técnico ou liceal tinham de realizar exame de acesso ao estágio (os homens entravam directamente). Estagiavam nas escolas normais (Lisboa, Porto e Coimbra). As vagas eram muitas...
Quantos tinham a coragem de realizar o Curso de Ciências Pedagógicas e dois anos a pagar propinas?
Por mais que se critique, a formação será sempre uma valorização, ainda que mesmo negativa. Os metodólogos eram competentes e o ensino actualizado.
SURPREENDIDO
COM OS BENEFÍCIOS
DO ESTÁGIO
Quando concluí o estágio, no Liceu Rodrigues de Freitas, e voltei a leccionar, passados os dois anos, fiquei surpreendido: foi diferente o decorrer das aulas e a aprendizagem dos alunos.
O Porto, apelidado Cidade do Trabalho, tem a maior Universidade do País. O número de alunos e os cursos o confirmam. Sempre foi assim?
Quando foi extinta a Faculdade de Letras e sem o curso de Direito, os universitários eram menos do que em Lisboa. No entanto, criado o Liceu Normal do Porto, formavam-se muitos professores efectivos.
Passando os estágios pedagógicos a serem integrados nos cursos superiores, desde os educadores de Infância aos docentes de Matemática ou Latim, deu-se um salto na qualidade e quantidade de docentes. Pena é o que se passa agora; com a natalidade baixa há menos alunos e mais professores! No ensino universitário já há docentes desempregados!
Ainda que no País a percentagem de licenciados seja inferior aos parceiros europeus, temos que convir que as condições económicas e falta de alunos não levam a preencher as vagas das várias universidades; enquanto candidatos a médicos ou arquitectos continuam à espera de entrarem no ensino superior!
NOVAS
TECNOLOGIAS
SIM!,
– MAS SEM
EXAGERAR
As novas tecnologias devem ser aplicadas na Educação, mas não exagerar. Aprendi, e continuo a ter por válido: «A educação tem muito de imitação». A eficiência, a pontualidade, a afabilidade e até o sorriso de quem ensina ganham raízes nos educandos. A máquina jamais poderá substituir o professor – aluno, pai – filho ou avô – neto. A imagem vale muito, mas o “feedback” é sempre importante.
Por mais que se cultive o uso da imagem e a pesquisa de dados (Internet incluída) o ditado, bem soletrado e explicado, será sempre um pilar da aprendizagem.
Quando encontrei a Mariazinha, distraído a ver os seus cabelos louros transformados em estriga de linho, fiquei perplexo ao ouvir-lhe:
– Deu-me explicações de Francês (!), ainda era aluno do liceu de Vila Real. Concluiu:
– Até ditados fazia!...
Por:
Gil Monteiro
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