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    Arquivo: Edição de 30-03-2006

    SECÇÃO: Educação


    A PÁGINA DOS JOVENS

    Olha e vê

    Olho-te. Olho-te bem dentro e vejo o que tens dentro do que te escondes. Tu olhas mas nem me vês. E eu espero… o mundo também espera que um dia me vejas, que o vejas e te vejas a ti. Mas nada… o mundo continua à espera e tu olhas para tudo, olhas o céu, as nuvens, as pessoas à volta, o mundo à tua volta. Olhas mas és cego por dentro. Quantos queriam os olhos! E tu apenas olhas…

    Olhas para ti mesmo e não vês o que eu vejo por dentro do que te escondes. Um coração… tão frágil, que pulsa sangue tão pouco, que não pulsa calor para ti e para o mundo. Continuas a sorrir como se sentisses o coração bater. Mas não sentes… tu olhas mas não vês e és cego e não sabes…

    O coração a parar, a parar, cada vez mais, tão lentamente que até dói, tão lentamente que até pára o meu por instantes.

    Vejo os teus olhos fechar, vejo os teus lábios fechar, vejo os teus braços e pernas fechar, vejo o teu corpo fechar-se ao mundo… Vejo o teu corpo no chão mas ele não me vê e assim continua, fechado sobre si mesmo, cego mesmo quando morre.

    Não me morras! Diz o meu coração mas o teu nem responde… Continua quedo e mudo no chão, com veias que estão vazias e cheias de morte para ti.

    Tento fugir do que me prende, do que te prende… Tento atravessar o que te protege e ao mesmo tempo te mata, o que te torna tão fraco… Caio, parto-me em bocados pequenos que tentam chegar a ti, por alguma fresta do teu olhar… Parto-me em vão… Enquanto tu te quebras em dois, caído no chão, de olhar perdido em nada…

    Não me morras… dizem as lágrimas… mas tu há muito que partiste…

    Por: Ana Sofia Nunes

     

     

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