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Fotos URSULA ZANGGER |
DIA INTERNACIONAL PARA A ELIMINAÇÃO DA DISCRIMINAÇÃO RACIAL
Como os dedos da mão
Realizou-se no passado dia 21 de Março, no Centro Cultural de Alfena, uma conferência comemorativa do Dia Internacional para a Eliminação da Discriminação Racial.
O evento, uma organização da Agência para a Vida Local da Câmara Municipal de Valongo (sob a direcção de Eunice Neves, também presente na mesa da conferência), contou com as intervenções de Rosa Cabecinhas, investigadora social da Universidade do Minho, Luís Pascoal, do ACIME – Alto Comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas, e Pedro Ferreira, fotojornalista e activista do SOS Racismo.
Estiveram presentes os presidentes das Juntas de Freguesia de Ermesinde e Alfena.
Rosa Cabecinhas, investigadora da Universidade do Minho, foi a primeira dos três oradores convidados a intervir na Conferência.
Apresentou o estudo que realizou em 1997, na sua tese de doutoramento, sobre a construção social da diferença através das representações da ideia de “raça” e de “grupo étnico”.
A autora baseou o seu estudo na avaliação das representações feitas pelos estudantes do universo considerado, a partir das recomendações da UNESCO, apresentadas já em 1960, para que se se substituísse o termo “raça” pelo de “grupo étnico”. Pretendia a UNESCO com esta medida, introduzir a concepção mais cientificamente adequada acerca das diferenciações entre grupos humanos, não dependente, sobretudo, de factores genéticos, mas de factores culturais e sociais.
Rosa Cabecinhas pegou precisamente em referenciais como “cultura”, “cor da pele”, “costumes”, “cultura”, “religião” e “características físicas”, para que os inquiridos fizessem o retrato dos seus conceitos.
Curiosamente, um dos “primeiros” resultados obtidos foi logo o de que a expressão “grupo étnico” era entendida como atribuída a um grupo social de baixo escalão.
Na análise feita sobre as representações dos vários grupos étnicos, foi também apurada uma distinção em escalões valorativos que definia uma pirâmide, do mais alto para o inferior, da seguinte sequência: Portugueses, Brasileiros, Asiáticos, Africanos e, no último grau desta escala, Ciganos.
Os resultados do estudo, segundo Rosa Cabecinhas, reflectiam ainda as teorias raciais clássicas do etnocentrismo europeu, revelando a necessidade de uma intervenção cultural pedagógica.
OBTER O OLHAR DO OUTRO
Luís Pascoal, que interveio a seguir, falou da necessidade de «obter o olhar do outro» e, a propósito, referiu o curioso exemplo do jardim infantil do bairro da Arrentela.
Produto de boas vontades solidárias, depois o equipamento praticamente não teve qualquer adesão, muito simplesmente porque se esqueceu ou ignorou esta marca cultural: é que «as mulheres ciganas não entregam os filhos a qualquer um», conforme a expressão do técnico do ACIME.
Luís Pascoal falou também de encontros e desencontros de culturas: por exemplo, o olhar muito diferente de Brasileiros e Indianos sobre o que os Portugueses chamam as Descobertas.
O último dos convidados, Pedro Ferreira, apresentou o projecto e a intervenção do SOS Racismo – entidade que goza do estatuto de utilidade pública desde 1996.
A curto prazo, um dos objectivos é trazer também para o Porto a Festa da Diversidade, um importante certame cultural interétnico.
No fim, houve lugar a um breve debate.
Por:
LC
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