150 anos da Estação de Ermesinde em destaque na 4.ª edição do ENTRELINHAS – Festa do Ferroviário
O Parque Urbano, o Largo da Estação e o Fórum Cultural de Ermesinde foram o epicentro de um vasto conjunto de iniciativas que decorreram no âmbito da 4.ª edição do ENTRELINHAS - Festa do Ferroviário.
Entre os passados dias 9 e 11 de maio, houve concertos, exposições, street food, mostra turística e uma conferência relacionada com a ferrovia.
Blind Zero, Diogo Piçarra e Átoa foram os cabeças de cartaz de um evento que trouxe à nossa comunidade muita diversão e acima de tudo constituiu-se como uma excelente oportunidade para reconhecer a importância da ferrovia na cidade de Ermesinde.
Como já foi referido, do programa constou uma conferência relacionada com a ferrovia, intitulada “150 anos da Estação de Ermesinde – Passado, presente e Futuro”, a qual abriu o certame deste ano e teve lugar no Fórum Cultural.
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Coube ao presidente da Câmara de Valongo, José Manuel Ribeiro, abrir o evento, recordando o porquê desta iniciativa única no país ter surgido há precisamente quatro anos. «Porque Ermesinde em particular tem efetivamente uma ligação muito forte à ferrovia. Hoje Ermesinde é uma cidade muito pujante, onde vivem mais de 40.000 pessoas, é uma cidade que deve o seu dinamismo, a sua existência, podemos se calhar dizer, à importância da ferrovia», exprimiu o autarca. E para vincar a importância da ferrovia na nossa terra, José Manuel Ribeiro fez uma viagem ao antes do aparecimento do caminho de ferro em Ermesinde. «Antes de existir a linha do caminho-de-ferro, Ermesinde era uma terra basicamente agrícola, um espaço muito pouco urbanizado, onde o equipamento mais importante à época era a igreja de Santa Rita. Portanto, nós percebendo esta realidade quisemos homenagear a ligação à ferrovia através deste evento, quisemos homenagear as se calhar mais de 1000 famílias que aqui já viveram, sobretudo no lugar da Gandra, ao lado da linha, e que eram ferroviários. E a melhor forma de honrar e homenagear o passado é criarmos iniciativas desta natureza» salientou o edil.
E numa altura em que se olha para o futuro da ferrovia, ou seja, o comboio de alta velocidade, nada melhor do que olhar para o nosso passado, pois o futuro não se compreende sem olhar o passado, como ficou vincado nesta conferência. Fizemos então uma viagem no tempo, para falar da ferrovia e em particular da ligação com a nossa cidade. O primeiro orador da tarde foi Joel Cleto, conhecido arqueólogo, historiador e professor que apresentou a comunicação “O Comboio Relógio”.
O orador começaria por evocar os 150 anos da Estação de Ermesinde, uma estação que na sua opinião é desde o início do presente século uma das mais belas do país. Um projeto arquitetónico arrojado e marcante, salientando esse arrojo arquitetónico no meio da paisagem local, «porque de facto Ermesinde é Ermesinde por causa do comboio e da sua estação. Se em muitos outros lugares é a igreja ou o campanário os pontos onde a povoação se desenvolveu e que marcam a história e o perfil da povoação, em Ermesinde é a sua estação o ponto monumental que marca a sua paisagem», disse.
Mais adiante, recordaria outra efeméride que também marcou a história da nossa estação. Viajou então até ao dia 25 de abril de 1975, há precisamente 50 anos, data em que pela primeira vez de um modo livre e democrático os portugueses foram chamados a um ato eleitoral. Houve uma adesão enorme da população em todo o país, longas filas se formaram às portas dos locais de voto. Uma adesão de 92%, como recordaria Joel Cleto, números que nunca mais se voltaram a ver até hoje num ato eleitoral. E também na antiga Estação de Ermesinde esse entusiasmo em torno desse ato eleitoral esteve vem vincado, já que as paredes da estação estavam pejadas com dezenas de cartazes afixados, de todos os partidos políticos da altura, desde o MRPP, ao PS, PPD, MES, até ao PCP, recordou o historiador fazendo-se socorrer de interessantes imagens desses tempos. Na reta final da sua comunicação falou da ligação do relógio às estações de comboios. Antes da chegada do comboio o tempo media-se pelo sol, o astro que no início guiava a passagem do tempo. O aparecimento do meio de transporte público puxado por animais não nos vai trazer grande precisão de tempo em termos de horários, mas o comboio sim. «A chegada do comboio vai alterar isto de uma forma radical. Com a chegada do comboio, com os seus mecanismos a vapor, era possível controlar maior ou menor velocidade, e com isto cumprir horários. É o comboio que vai permitir o estabelecimento de horários rígidos para cumprir. E por isso o relógio, e as viagens de comboio ao minuto, é de facto algo que temos de associar aos caminhos de ferro. Não é por acaso que todas as grandes estações do mundo nos apresentam enormes relógios. A associação do relógio ao caminho de ferro é de facto intrínseco», aludiu Joel Cleto.
Seguiu-se a comunicação de Ana Sousa, licenciada em História e quadro do arquivo da CP que trouxe a Ermesinde o tema “150 anos de comboio. Norte do Douro, Mobilidade, identidade, memória, arquitetura e turismo”. A oradora começaria por frisar que falar dos 150 anos da Estação de Ermesinde é falar de memória, de identidade e de mobilidade. Desta última característica porque foi o comboio que permitiu e continua a permitir as pessoas movimentarem-se nesta região, enquanto que a identidade porque todos nós nos identificamos a algo nestes locais, sendo a estação a associação que fazemos a Ermesinde. Memória porque um país sem memória é um país vazio.
Eduardo Guimarães, com uma longa ligação à ferrovia, foi outro orador presente neste primeiro dia da Festa do Ferroviário, ele que na sua comunicação, intitulada de “Estação de Ermesinde –Ligações Ferroviárias”, mostrou imagens de outros tempos da nossa estação, identificando a sua evolução desde o seu início até ao passado recente. «A estação de Ermesinde já nasceu para ser grande», disse o orador, enquanto mostrava uma das primeiras imagens da estação que de facto atestavam já a sua grandeza arquitetónica.
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