Dezembro
De todos os meses do ano é aquele a que associo as maiores contradições.
A natureza determinou que Dezembro fosse frio no nosso país e toda a nossa tradição natalícia está associada ao fogo para aquecer as almas dos que partiram e os corpos dos que por cá vagueiam…
As ruas enfeitam-se e ouvem-se cantos de louvor ao menino e é neste mês, para meu espanto, que são, em média, mais crianças abandonadas.
A palavra Paz anda de boca em boca, a todos desejamos Paz e Amor, a todos, uns e outros, independentemente de raça ou cor. No entanto continua a violar-se os Direitos Humanos, a fome aumenta, desfazem-se países e comunidades, separaram-se famílias, não há trabalho para todos, não somos realmente “livres e iguais em dignidade e em direitos”.
Este jogo hipócrita de sentimentos, com que somos confrontados, em especial neste mês de Dezembro, para uma vez por ano ficarmos de bem com a nossa consciência, leva-me sempre a pensar até que ponto a sociedade anda tão distraída, fechada na sua concha, sem tempo nem olhos para olhar à sua volta.
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Com base em foto ARQUIVO |
Não há tempo para reflectir, para conversar, para trocar ideias, todos corremos, corremos, não sei bem para quê nem para onde.
Mas Dezembro é um mês de grande beleza, pelo seu significado, pelo frio que nos aproxima nas nossas casas, às lareiras, nas fogueiras que ainda se realizam por este país.
Lembrei-me das fogueiras porque, nas minhas caminhadas pelas serras, lá andavam os rapazes solteiros com as ajudas das máquinas das respectivas Câmaras a transportarem a lenha para a fogueira do Natal, troncos inteiros de castanheiros cuja idade não conhecemos e, como qualquer ser vivo, têm o seu fim.
E foi olhando para a felicidade daqueles jovens que aplicavam toda a sua força no transporte da lenha, subindo ravinas, entre soutos e castiçais, que eu dei comigo a pensar nos Direitos Humanos, nas guerras onde morrem jovens iguais a estes sem saberem porquê, ou pior ainda, ao serviço de países e interesses que jogam com a vida de todos nós.
E mais uma vez pensei em todos os injustiçados, presos, abandonados à espera do alívio da morte, crianças a morrer de fome, e os nossos contentores do lixo cheios de alimentos que uns estragam e outros procuram junto dos supermercados.
Comemoramos, hoje, dia 10, os Direitos Humanos, lembramos os 25 da UNICEF, e ainda bem que o fizemos, mas é pouco, temos que ser mais fortes, estar atentos, ter opinião sobre o mundo que nos envolve, saber contestar quando é preciso, não nos contentarmos por desejar Paz e Alegria, quando nas nossas pequenas coisas semeámos ódio, intolerância e não somos capazes de dizer não quando é preciso.
Por:
Fernanda Lage
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