Quando as galinhas pagavam imposto
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Foto LUÍS LAGE |
Há cinquenta anos ainda passavam bandos de galinheiras da Reguenga com destino ao Porto levando à cabeça cestos de galinhas e ovos.
De Ermesinde algumas galinheiras utilizavam o eléctrico, mais propriamente o atrelado. Aí os cestos eram tapados com uns panos, nunca percebi porquê.
Seria para os galos se manterem sossegados e não olharem para as galinhas?
Ou seriam clandestinas, como mais tarde as dos bairros camarários, cantadas por José Mário Branco no pós-25 de Abril?
Tudo era possível, especialmente se tivermos presente que durante anos e anos elas pagaram imposto para entrarem no Porto.
As galinhas e não só, todos os produtos que se destinavam à venda na cidade.
Muitos de nós ainda nos lembramos de alguns desses edifícios existentes ao longo da Circunvalação, verdadeiro limite da cidade, antes desta crescer desorganizadamente para as suas periferias.
Na verdade, a cidade tinha uma forma, definida pelas muralhas, portas, entradas e saídas, e a Circunvalação era também um desses limites, onde ainda hoje existem memórias físicas desse tempo. Refiro-me aos edifícios que serviram para pagar impostos das mercadorias que entravam na cidade.
Mas voltemos às galinheiras. Mais tarde ainda partilhei com elas a camioneta que vinha de Santo Tirso e fazia um pequeno desvio pela Reguenga.
– Venha daí Ti Maria, gritava o condutor.
– Então a Ti Rosa hoje não vai?
– Já lá vem, já lá vem, dizia a Dona Marquinhas.
Eu olhava o relógio, e pensava: com este andar, hoje nunca mais chego a casa, mas rapidamente me envolvia naquela conversa sobre galos galinhas e ovos... e os malditos aviários que começaram a aparecer por aqueles lados …
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Foto URSULA ZANGGER |
Por:
FL
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