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Edição de 30-04-2025
Jornal Online

SECÇÃO: Ciência


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Migrações, uma história natural

Desde que o mundo é mundo, o movimento tem sido uma constante. O planeta gira, as marés sobem e descem, os ventos correm pelos continentes e a vida… move-se. Seja por instinto, necessidade ou escolha, as migrações são um fenómeno natural que atravessa espécies e eras. Animais e humanos partilham esta pulsão de deslocamento, que é, ao mesmo tempo, sobrevivência, adaptação e renovação. No reino animal, as migrações são um espetáculo de resistência, precisão e muitas vezes, mistério. Milhares de espécies percorrem distâncias gigantescas para encontrar alimento, fugir ao frio ou garantir a reprodução. Algumas dessas viagens são verdadeiros prodígios da natureza.

Vejamos o caso da borboleta-monarca, um inseto com aparência delicada, mas com uma determinação de ferro. Esta borboleta realiza uma viagem de até 4 mil quilómetros desde o Canadá até aos bosques do México, onde se reúne em milhões para hibernar. Nenhuma das que parte do norte completa a viagem: é uma sucessão de gerações que vai passando a missão adiante, como se tivesse inscrito no ADN o mapa de voo. Outro exemplo impressionante é o da andorinha-do-mar-ártica, que realiza a mais longa migração conhecida do reino animal. Todos os anos, esta ave percorre cerca de 70 mil quilómetros entre o Ártico e a Antártida, num verdadeiro “salto” entre os dois extremos do planeta. E faz isto várias vezes ao longo da vida! Nos oceanos, os salmões desafiam a corrente dos rios, regressando ao local exato onde nasceram para se reproduzirem — mesmo que isso signifique nadar centenas de quilómetros contra a corrente. Já as baleias-cinzentas viajam anualmente entre as águas geladas do Alasca e as lagoas quentes do México, onde têm as suas crias.

Já as migrações humanas, ao contrário do que por vezes se pensa, não são uma invenção moderna. A própria história da humanidade é, em essência, uma narrativa migratória. Os primeiros “homo sapiens”, surgidos em África há cerca de 300 mil anos, expandiram-se para a Ásia, Europa e mais tarde para a América e Oceânia. Estes movimentos moldaram culturas, misturaram genes, criaram civilizações. Somos todos, em certa medida, descendentes de migrantes. As razões que levam os humanos a migrar são diversas: fome, guerra, perseguições, alterações climáticas, oportunidades de trabalho, educação ou simplesmente o desejo de uma vida melhor. É um impulso que pode nascer da dor ou da esperança, ou de ambas ao mesmo tempo.

Nos dias de hoje, segundo a ONU, há mais de 280 milhões de migrantes internacionais no mundo. Pessoas que deixaram para trás a terra natal em busca de segurança, dignidade e futuro. E, como nos animais, as rotas humanas têm padrões: há destinos recorrentes, fluxos sazonais (como os trabalhadores agrícolas que se movem com as colheitas), deslocações por catástrofes naturais ou conflitos.

Apesar de ser tão natural como a migração das aves, o movimento humano é frequentemente alvo de resistência. Fronteiras fechadas, muros erguidos, discursos inflamados. Muitos esquecem que a migração faz parte da evolução. Que todos temos antepassados migrantes. Que nenhum país se formou sem mistura.

Ao contrário dos animais, os humanos criaram sistemas que dificultam ou impedem a migração. No entanto, nem a burocracia nem as barreiras físicas conseguem travar o impulso de quem precisa ou quer partir. A história mostra que as migrações enriquecem tanto quem parte como quem acolhe — desde que exista abertura, compreensão e empatia.

Num mundo que enfrenta desafios globais — guerras, crises climáticas, pobreza — é essencial encarar as migrações com naturalidade e humanidade. Assim como protegemos as rotas migratórias das aves ou dos peixes, devemos também proteger as rotas da esperança humana. Afinal, a Terra nunca foi um lugar de imobilidade. A vida move-se. Sempre se moveu. E continuará a mover-se.

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“Cientistas mostram que é arriscado comparar a migração humana com as invasões biológicas

Estabelecer paralelos entre a migração humana e as invasões biológicas poderá ser enganador e potencialmente prejudicial, principalmente no contexto político atual, com a questão da imigração em debate nomeadamente na Europa e nos EUA. A conclusão é de um estudo publicado na respeitada revista “Biological Reviews”, que contou com investigadores das ciências naturais e sociais de 42 instituições de 23 países, incluindo o português Ronaldo Sousa, do Centro de Biologia Molecular e Ambiental (CBMA) da Escola de Ciências da Universidade do Minho (ECUM).

Embora sejam fenómenos crescentes que envolvem movimento e adaptação a novos ambientes, as invasões biológicas referem-se à introdução de espécies não nativas e aos seus impactos ecológicos, enquanto a migração humana resulta de fatores sociais, políticos, ambientais e históricos. Ronaldo Sousa considera que o uso de terminologias da ciência da invasão – como “alienígena”, “exótico”, “invasor” ou “erradicação” – para descrever a migração humana “simplifica excessivamente a questão, reforça narrativas xenófobas e distorce a perceção pública sobre os migrantes”.

Esta investigação, intitulada “Paralelos e discrepâncias entre a introdução de espécies não nativas e a migração humana”, mostra inclusive a

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