FACTOS DA NOSSA HISTÓRIA (8)
A Conspiração Monárquica do Porto em dia de S. Miguel (29-09-1911)
Aconteceu no Dia de S. Miguel de 1911, 29 de setembro. E esta data não foi escolhida por acaso. São Miguel Arcanjo é considerado para a Igreja o grande combatente e vencedor das forças do mal, para os monárquicos eram os republicanos e, portanto, a iniciativa revolucionária monárquica no Porto queria acabar de vez com a República, quando se caminhava rapidamente para a celebração do seu 1.º aniversário.
Implantada a República em Portugal, houve vários sacerdotes em serviço no concelho de Valongo que estiveram direta ou indiretamente envolvidos na primeira conspiração monárquica do norte, após o 5 de Outubro de 1910.
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A CONSPIRAÇÃO MONÁRQUICA DO NORTE (ILUSTRAÇÃO PORTUGUESA, N.º 294, 9 DE OUTUBRO DE 1911) |
Esta tentativa revolucionária, protagonizada pelas hostes monárquicas, tinha como centro de convergência das várias forças a capital do Norte. Os párocos fiéis à monarquia estavam ressabiados com a administração republicana que, no mês anterior, tinha feito o inventário de todos os bens (móveis e imóveis da Igreja) e deles tomado posse, na sequência da Lei da Separação. Sem dúvida que o pároco de Sobrado, António Mendes Moreira, terá estado envolvido nesta revolta, assim como o Pároco de Ermesinde, que entre nós terá sido o verdadeiro líder (agentes da polícia judiciária do Porto estiveram em Ermesinde a investigar os últimos acontecimentos políticos de setembro de 1911, pois na reunião Comissão Municipal de 1 de novembro é aprovado o pagamento de 1725 réis ao Hotel Trevisani pelo alojamento desses agentes), motivo por que a 3 de outubro de 1911 o Administrador do Concelho de Valongo, Dr. Joaquim Maia Aguiar, terá solicitado ao Comissário Geral da Polícia Civil do Porto a prisão do Reverendo Paulo António Antunes, pároco de Ermesinde, pelo seu alegado envolvimento no “29 de setembro”. Terá sido este quem convenceu o Pároco de Sobrado a tocar os sinos da torre da Igreja a rebate, para juntar todo o povo, desta e doutras paróquias, para seguirem para Valongo e tomarem a Câmara Municipal.
Segundo se veio a apurar, terá sido o padre Paulo António Antunes quem terá contactado os seu colegas de Alfena, Valongo e Sobrado, para o «auxiliarem n’um movimento revolucionário, pedindo-lhes para mandarem tocar os sinos a rebate, quando fosse de madrugada, aliciando o povo e seguindo com elle para a sede do concelho, a fim de tomarem conta da Camara e administração, ficando elle administrador. / O Abbade d´Ermesinde Paulo António Antunes, sahiu na noute de 29 de Setembro findo, n´um carro, seguindo para Alfena entrando em casa do Pe. Manuel Vieira Leite, cura d´aquella freguesia; seguiu para Vallongo onde esteve em casa do Pe. Joaquim Lopes Reis e dahi para Sobrado, entrando em casa do abbade d´aquella freguesia. / Como se conclue dos depoimentos (…) o abbade d´Ermesinde era o dirigente do movimento revolucionário n´este concelho, intendendo-se directamente com o Comité do Porto como elle declarou». O Padre Joaquim Lopes Reis (figura ilustre de Valongo, foi o 1.º Secretário e benfeitor do hospital Nossa Senhora da Conceição, tendo feito parte da Comissão Instaladora de 29 de abril de 1905 até à direção de 1917; foi também autor da monografia “A Villa de Vallongo”, de 1904; e em 20 de novembro de 1907 foi nomeado pela Câmara de Valongo como responsável pela conservação e ornamentação da Capela de S. Bruno) também se viu envolvido na conjura e acabou por ficar preso entre outubro de 1911 até janeiro de 1912.
A revolta, tanto no Porto, como em Santo Tirso e noutras localidades ao redor do Porto, como no concelho de Valongo, seria dominada pelas tropas republicanas e os seus principais protagonistas, acabaram presos ou puseram-se em fuga.
O Dr. Maia Aguiar, Administrador e Presidente da Comissão Administrativa, na sessão de 7 de outubro de 1911, e a respeito dos acontecimentos reacionários de setembro de 2011, disse que «a sua consciencia se sentia revoltada perante o atentado cometido (…) na madrugada do dia 30 de setembro ultimo, contra as Instituições, por um nucleo de conspiradores que sem attenção á brandura e tolerancia com que tem sido recebidos se lançaram n´um caminho criminoso, perturbando a vida economica do paiz, trazendo em agitação a sociedade portugueza e abalando o credito de que a nação carece para o completo restabelecimento das suas relações commerciaes. Censurou acremente tal procedimento que não pode ficar impune para exemplo futuro. Contra elle protestava energicamente e propunha que na presente acta se consignasse o protesto d’esta municipalidade contra o attentado comettido pelos conspiradores que não passam de portuguezes degenerados».
É nesta conjuntura de ânimos políticos exaltados que, ainda no mês de outubro de 1911 (dia 28), a Comissão Administrativa de Valongo deferiu o pedido da Junta de Paróquia de Ermesinde de atribuir os nomes dos herois republicanos a algumas das suas principais ruas e permitiu também que fosse retirada a coroa que se sobrepunha ao brasão de armas, no cimo da fachada principal do edifício dos Paços do Concelho (só viria a ser aí recolocado, já depois do 25 de Abril, mais concretamente na década de 1980).
Nesta onda de conflitualidade política entre republicanos e monárquicos do concelho de Valongo, quiseram estes últimos tocar a figura mais forte do republicanismo valonguense, o Administrador e Presidente da Comissão, Dr. Joaquim Maia Aguiar, pondo em dúvida a sua continuação na Comissão Administrativa, nas funções de Administrador e até a sua ligação ao partido Republicano.
Este reage, afiança que se trata de um boato, que não deixa (e não deixou de facto) o seu cargo, havendo em ata, da sessão de 28 de fevereiro 1912: o registo do seu compromisso dizendo:
(...)
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Por:
Manuel Augusto Dias
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