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Fotos URSULA ZANGGER |
Enterro do João sofreu as agruras do mau tempo
A tradição carnavalesca do Enterro do João voltou, este ano, a animar esta quadra festiva, na qual aliás, se esperava que pudesse dar um grande salto em frente resultante do empenho da autarquia ermesindense em apadrinhar o evento. Todavia, o tempo frio e de chuva tramou as festividades, que ficaram muito aquém do programa anunciado, só se salvando o julgamento, cortejo fúnebre e a queima do boneco, na noite de terça-feira. Mesmo o programa de terça-feira teve de sofrer alterações, realizando-se o julgamento – uma das mais importantes fases desta farsa carnavalesca, na qual são lidas as picarescas deixas – no abrigado pavilhão da União Desportiva Cultural e Recreativa da Bela, e só depois daí saindo o cortejo fúnebre para as margens do Leça, onde se procedeu ao habitual último ato da celebração, a cremação do João, ainda assim presenciada por numeroso público (embora, ao contrário do desejado, em menor número que no ano anterior). Foram anuladas as fases da chegada do João à estação de Ermesinde e o desejado e novo cortejo, com carros alegóricos, daí até ao largo da feira velha, na tarde de domingo, e ainda o velório nesta, na noite de segunda-feira.
A farsa carnavalesca acolheu uma ou outra novidade, como a introdução de “A Voz” – autoridade “superior” no programa da TVI “Casa dos Segredos”, e proporcionou momentos de particular comicidade nalgumas deixas, quer as tradicionais referências muito brejeiras do testamento às moças de Ermesinde, quer a algumas charges políticas de flagrante atualidade, envolvendo, por exemplo, a Troika e o Governo, muito bem recebidas pelo público presente.
No piso do pavilhão, uma troupe de fantasmas chamava a atenção, incorporando-se, no fim, no cortejo fúnebre. O corpo do João esteve também aqui a ser velado, antes de sair para a cremação.
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Como aspetos negativos, a qualidade do som produzido dentro do pavilhão, que não era a melhor, impediu os espetadores de ouvir nas melhores condições a atuação do Grupo de Música Tradicional Portuguesa da Associação Académica e Cultural de Ermesinde, cujo concerto precedeu o ansiado julgamento e a maior parte do texto deste (exceção feita à magnífica voz do leitor das deixas) e, de novo, muito negativo, as referências publicitárias enfiadas dentro da própria récita. Pior que isto só a reincidência dos autarcas de Ermesinde e de Valongo em participarem enquanto figuras da farsa, na sua qualidade de autarcas – um artifício de campanha eleitoral antecipada, que fez lembrar o de Fernando Seabra, que também apareceu enquanto personagem política e autarca em telenovela também da TVI, embora este pretenda agora concorrer à Câmara de Lisboa e não de Sintra (se o deixarem).
Mas a vida continua, nos dias seguintes era a vez dos trabalhadores da Junta desmontarem todo o aparato necessário à montagem do final da farsa junto ao rio. E como prova disso mesmo – de que a vida continua – ali ao lado do local onde o João foi cremado, uma família de patos, sulcava com encantadora agilidade as águas agora límpidas do Leça.
Por:
LC
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