O DESAFIO DA VIDA (EDUCAÇÃO & SAÚDE)
Os idosos não são, nem podem ser, invisíveis
O nosso desafio é esclarecê-lo e ajuda-lo a superar os obstáculos da vida para ser feliz. Somos uma equipa transdiscipliar e é para isso que existimos. Tem o nosso apoio em www.felicity.com.pt ou [email protected]
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Foto SERGIY N - FOTOLIA |
Ser idoso nos dias de hoje é diferente do que era ser uma pessoa mais velha há 20 ou 30 anos atrás. A pessoa idosa deixou de ser procurada pelo seu conhecimento e experiência vivencial, deixou de ser uma referência na sua família e comunidade e deixou de ser um recurso útil e importante para os outros. Perdeu estatuto e passou a assumir um papel secundário, ou mesmo terciário, na nossa sociedade.
De facto, não podemos ignorar que, numa sociedade que valoriza aquele que produz e trabalha, em que as dificuldades económicas são cada vez maiores e em que o idoso é visto usualmente como incapaz, doente e vulnerável, existe uma tendência para considerar estas pessoas mais velhas como um fardo e um encargo, quer para as suas famílias, quer para o Estado.
Esta é a realidade que, cada vez mais, contribui para o isolamento social e solidão das pessoas idosas.
O idoso, por si só, está vulnerável e naturalmente sujeito ao isolamento devido à entrada na reforma e abandono do local de trabalho, contexto onde maior parte das nossas relações sociais e contactos são estabelecidos. Da mesma forma, à medida que envelhecemos, torna-se maior a probabilidade de lamentarmos a morte dos nossos amigos, cônjuges e familiares, ou seja, maior a probabilidade de ficarmos sozinhos.
Como se tal não fosse o suficiente, as alterações que a estrutura familiar tem sofrido ao longo dos anos tem contribuído para que muitos idosos vivam sozinhos. Desde a inserção das mulheres, tradicionais cuidadoras dos idosos mais dependentes na família, no mercado de trabalho, impossibilitando-as de desempenhar essa tarefa da mesma forma, até às actuais baixas condições económicas que se reflectem em, por exemplo, habitações mais pequenas, o sénior da família tem perdido espaço dentro do seio familiar.
O facto de cada vez mais idosos residirem afastados da restante família (e muitos deles isolados geograficamente), combinado com a desvalorização do possível contributo da pessoa idosa para os outros e para a sua comunidade, faz com que estas pessoas sejam muitas vezes esquecidas, ignoradas, invisíveis.
No entanto, não podemos permitir que tal aconteça. Não podemos deixar o idoso cair em esquecimento. Temos de assumir um papel activo na inserção da pessoa idosa na comunidade, compreendendo e fazendo compreender que o idoso pode contribuir para a vida de todos. Devemos saber e fazer saber que as pessoas de mais idade, apesar de perderem algumas capacidades à medida que envelhecem, não são incapazes e não podem ser um recurso para as suas famílias e comunidades, de uma forma ou de outra.
O idoso pode ter um papel fundamental no cuidar e na educação dos netos para que os filhos possam trabalhar, pode participar em actividades remuneradas ou de voluntariado, pode partilhar a sua experiência na formação de pessoas mais novas… O idoso pode! Cabe às famílias, às entidades responsáveis e a todos nós, proporcionar a participação do idoso no nosso dia-a-dia.
A participação do idoso em actividades que lhe sejam significativas e do seu interesse deve ser possibilitada e potenciada ao máximo para que, em primeiro lugar, a pessoa idosa se sinta útil, capaz e um elemento activo e constituinte da sociedade, mas também para desconstruir crenças e ideias pré-concebidas que estas pessoas são incapazes, vulneráveis e que não podem, ou não querem, ser activos. Esse envolvimento em actividades irá também permitir que o idoso se mantenha estimulado, treinando e utilizando as suas capacidades de forma a prevenir ou atrasar o declínio funcional consequente do passar dos anos.
Assim, devemos estar alerta para situações de desvalorização e isolamento social de pessoas idosas, promovendo e dando-lhes a conhecer as suas possibilidades de participação, reconhecendo o seu contributo potencial e direito à manutenção do seu bem-estar, saúde e dignidade.
Por: Tiago Coelho (*)
(*) Terapeuta ocupacional
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