Na Feira do Livro
A Feira do Livro em Ermesinde, para além de divulgar livros e autores, é ponto de encontro de velhos amigos e conhecidos que aproveitam esta época do ano para pôr as novidades da terra em dia. Na verdade tem esta virtude de se realizar num espaço convidativo e de barraquinha em barraquinha lá nos vamos encontrando e falando da nossa cidade.
Em vésperas de eleições autárquicas muito se falou desta terra, das suas ligações à cidade do Porto, das freguesias entre si, do passado e do presente deste concelho e em especial da cidade de Ermesinde.
Num tempo em que tudo é transitório e efémero lembrar a importância de conhecermos os sítios onde vivemos faz todo o sentido, talvez por isso tenha gostado de encontrar e ouvir o autor Hélder Pacheco.
Hélder Pacheco foi e é um desses pedagogos que deixou marcas no nosso ensino, quantas e quantas escolas neste país seguiram os seus conselhos, adaptaram, acrescentaram e desenvolveram uma pedagogia que contribuiu para valorizar o património das diferentes terras, o respeito pelos saberes tradicionais e a cultura popular.
As suas obras sobre o Porto introduziram um outro olhar sobre a cultura que vai muito para além da análise dos monumentos e da chamada cultura erudita.
Este ano o tema escolhido para as conversas entre amigos na Feira do Livro centrou-se em Valongo e nas diferentes alternativas para a sua governação.
Curioso foi verificar a unanimidade de opiniões em torno da relação das diferentes freguesias do concelho de Valongo com a cidade do Porto, acabando sempre por referir as suas ligações à periferia e o papel desta cidade no País.
 |
Foto Valongo Ambiental |
Neste contexto eu diria que os livros do Hélder Pacheco são leitura obrigatória para os novos candidatos na nossa autarquia…
Valongo é uma pequena região muito diversificada, quer em relação à sua formação geológica, quer à sua cultura e ao seu desenvolvimento, ao contrário do que muitos pensam, entender esta diversidade enriquece o concelho porque os saberes e as culturas se completam.
Se analisarmos a situação geográfica desta região percebemos porque o Porto sempre se ligou com grande facilidade a Coimbra, Braga ou Barcelos, o mesmo não acontece por exemplo com Lamego.
«As Serras quartzíticas desabitadas prolongam-se a norte do rio pelas cristas paralelas de Valongo, recortadas pelas gargantas epigénicas do rio Sousa e dos seus afluentes.
Este alinhamento de colinas agrestes está situado a apenas a 10 km do centro do Porto». (1) É nesta encruzilhada que aparece Valongo, algumas das suas freguesias funcionaram como barreiras difíceis de transpor, terras pobres para o cultivo, pouco atrativas para habitar. No entanto é curioso que Valongo tenha abastecido o Porto de pão de trigo, trigo que não era abundante na região.
Nesta feira falamos do pão, da regueifa e dos pregões que ouvíamos na estação na nossa juventude.
Valongo é isto e muito mais, com terras ricas de cultivo junto ao Leça cujas águas transportam outras culturas, outras formas de viver.
(1) “Portugal – O Sabor da Terra”, José Mattoso, Suzanne Daveau e Duarte Belo, Círculo Leitores.
Por:
Fernanda Lage
|