Tempo de Natal e Ano Novo
Parabéns à "A Voz de Ermesinde", atingiu novecentas publicações, dizem que é um bom número, esperemos que se cumpram os seus designo de criatividade, persistência, generosidade e arte.
Precisamos de alguma coisa que nos anime, nem que seja o valor simbólico dos números.
Para muitos o 13 é número de sorte, mas para outros é azar, parece-me que este ano se inicia exatamente com essa duplicidade.
Neste Natal deu para perceber como estamos cada vez mais pobres, mas mesmo assim solidários. Penso que nos espera um ano de tormentas, de contradições e angústias onde o apelo à coragem e à solidariedade vão ser uma constante.
Nesta noite de Natal, nas diferentes aldeias que visitei, lá estavam os lenhos a arder, fogueiras enormes organizadas pelas comunidades, em princípio por rapazes que vão para a tropa no próximo ano, aí se aquece o corpo e a alma. Onde a igreja se associa a estes festejos há cânticos ao Menino no fim da missa do galo.
Com uma noite sem chuva nem vento os lenhos arderam lentamente durante vários dias.
Qualquer forasteiro que chega é logo brindado com um copito e rapidamente se integra na conversa daquela gente que este ano lamentava a ausência de alguns familiares que ficaram noutras terras – «este ano falta cá muita gente!…. Os tempos estão difíceis para todos!».
Junto de uma antiga escola perguntei quantos alunos havia na terra. Resposta pronta:
«Hoje vão seis ou sete alunos na carrinha, a escola está fechada. Quando fiz a 4ª Classe éramos 80 alunos».
De desabafo em desabafo dei comigo a ler poesia e dessa noite lembro alguns que associei ao momento que vivemos:
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Imagem ARQUIVO/AVE |
Sobrevivemos à guerra – sobrevivemos à paz:
Volta e meia acreditamos que os períodos passados
nunca mais se repetiriam
e de facto, nunca se repetiam
(mas seguiam-se uns após os outros)
a infância se foi para sempre,
não quis voltar a juventude perdida
e ninguém prestou contas
do nosso tempo perdido
Falta-nos fé
E por isso acreditávamos em qualquer coisa
Em qualquer luta falsa,
Mas não em luta solidária, porque cada um de nós
Que arriscou
Teve de lutar contra as sombras de ferro (…) (1)
E é nesses momentos que me apetece voltar às raízes, como quem procura alimento para crescer.
As raízes não falam. Não estão atrás. Nem no fundo.
As raízes vão à frente. Puxam-nos para a frente. (2)
Neste início de ano cada um tem que encontrar força e alimento para enfrentar um ano que não vai ser nada fácil.
Aos nossos leitores, aos nossos colaboradores o meu desejo é de paz e solidariedade!
(1) Ryszard Krynicki, tradução Henry Siewaerski, “Rosa do Mundo 2001 – poemas para o futuro”, Assírio e Alvim, Porto, 2001.
(2) António Ramos Rosa, “As Raízes”
Por:
Fernanda Lage
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