O armistício foi assinado há 93 anos
O fim da I Guerra Mundial
Há 93 anos, que se completaram há quatro dias atrás, mais concretamente no dia 11 de novembro de 1918, dentro de um vagão de comboio, na floresta de Compiègne, foi assinado o Armistício de Compiègne, entre os Aliados e a Alemanha, que poria fim às hostilidades na frente ocidental da Primeira Guerra Mundial, em que Portugal também participou com milhares de homens, quer na defesa das nossas colónias em África (Angola e Moçambique), quer no teatro de guerra, na Europa Ocidental.
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Cena da I Guerra Mundial, retirada do livro de John Keegan, "Hist´´oria Ilustrada da I Guerra Mundial", página 139 |
Há cem anos atrás, poucos seriam capazes de imaginar que estava próxima uma guerra, com proporções e meios nunca antes vistos. Contudo, os mais informados e pessimistas já desconfiavam da assinatura de tratados de aliança com objetivos de ordem político-militar, como foi o caso da Tríplice Aliança, subscrita em 1882, pela Alemanha, império Austro-Húngaro e Itália, e, mais tarde (1907), a Tríplice Entente assinada entre a França, a Inglaterra e a Rússia.
Ambições
imperialistas
em confronto
Entretanto, no início do século XX, manifestavam-se, de forma violenta, algumas ambições imperialistas de que são exemplo: o pan--eslavismo defendido pelos russos e que ia contra os interesses dos austro-húngaros; o pan-germanismo que se intensificava na Europa Central desde Bismarck; o revanchismo francês, que pretendia reaver as colónias que o Império Alemão lhe subtraíra na última guerra; a crise de Marrocos de 1905 e 1911, entre França e Alemanha; e finalmente a crise na Península Balcânica, onde a Sérvia, acabada de se separar do Império Otomano, tinha interesses nacionalistas sobre outros territórios também disputados pelo Império Austro-Húngaro. E desta crise balcânica nasceria a 1ª Guerra Mundial.
E, de facto, a designação de “guerra mundial” faz todo o sentido. Pela primeira vez, se lutou, para além da terra e do mar à superfície, também por baixo do mar e no ar. Não apenas no continente europeu, mas também no continente africano e asiático. As inovações tecnológicas serviram eficientemente os países belicistas, fornecendo-os de equipamentos que matavam maior número de pessoas e mais depressa. Surgiria, pela 1ª vez, o tanque de guerra, o avião, o submarino, a metralhadora, o morteiro e as armas químicas.
Estabelecimento
de uma nova ordem
internacional
Terminada a Guerra com o Armistício de Compiègne, de que foram principais signatários o marechal Ferdinand Foch, comandante-em-chefe aliado e Matthias Erzberger, representante alemão, impôs-se reorganização do mapa político da Europa e o estabelecimento de uma nova ordem internacional. Os tratados de paz assinados em 1919 e 1920 alteraram profundamente o mapa político europeu, ao confirmarem a desintegração dos impérios Alemão, Austro-húngaro, Russo e Otomano, que deram origem a novos países independentes, sobretudo no Leste Europeu. Deste modo, a realidade política e étnica foi substancialmente modificada, criando novos problemas no relacionamento entre as nações.
A criação
da Sociedade
das Nações
Na sequência da “Conferência de Paris” (1919) foi fundada a SDN (Sociedade das Nações) com o objetivo prioritário de estabelecer uma nova ordem internacional, em que as relações entre Estados seriam reguladas pelo direito internacional, acreditando-se, assim, que, de futuro, seria evitado o recurso à guerra para a resolução dos conflitos. A sede da SDN foi em Genebra (Suíça) e Afonso Costa (grande estadista português da Primeira República) chegou a ser eleito (em março de 1926) para presidir à sua sessão extraordinária. O facto dos EUA não a integrarem e de ser obrigatória a unanimidade de decisões limitou, como se sabe, a sua eficácia, que foi posta definitivamente em causa com o eclodir da 2ª Guerra Mundial (1939).
Mas, deste 1º conflito mundial, houve consequências que não podemos ignorar: a Europa habituada a dominar o mundo (nos aspetos económico, financeiro, político, militar e cultural) vê-se, subitamente, debilitada em resultado da Guerra que matou milhões de pessoas, feriu e mutilou ainda mais, inutilizou terras e fábricas, criou enormes défices orçamentais, aumentou desmesuradamente a dívida pública e provocou extraordinários surtos inflacionistas. Este cenário verdadeiramente devastador esteve na origem de grande agitação social e política, que provocou a implementação dos regimes ditatoriais, como foi o caso da Rússia (com o triunfo da Revolução Bolchevique), da Itália (com a ascensão política de Mussolini) e de Portugal, que viu definhar a sua 1ª experiência democrática da 1ª República, substituída, a 28 de maio de 1926, por uma ditadura militar que evoluiria, já na década de 1930, para o “Estado Novo” salazarista.
A nova
hegemonia
norte-americana
A Europa, como continente, conheceria, paulatinamente, a perda da sua hegemonia internacional para os EUA (Estados Unidos da América), que conseguiram um enorme desenvolvimento económico à custa da Europa, que não conseguia produzir para si nem para os seus mercados internacionais.
Assinada a paz, a economia americana conhece uma depressão, mas consegue a reconversão rápida, e a década de 1920-1929 foi de uma grande prosperidade económica, à custa do crescimento do mercado interno, do desenvolvimento comercial, industrial e da especulação bolsista. O progresso técnico e o “fordismo” são também fatores importantes dessa prosperidade. No início dessa década, os EUA tinham cerca de metade do “stock” de ouro mundial.
Já no pós-2ª Guerra Mundial, a Europa iniciou uma nova aposta: a sua união, como forma de recuperar o tempo perdido. É aí que, atualmente, nos situamos à espera de melhores dias, no contexto da crise económico-financeira internacional que, pelos vistos, assentou arraiais, sobretudo na Europa Mediterrânica.
Por:
Manuel Augusto Dias
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