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O dilema do plástico
A história do plástico começou como uma história de sucesso. Em meados do século XIX, a necessidade de encontrar alternativas aos materiais naturais como o marfim levou à criação do primeiro polímero sintético: a celuloide. No entanto, foi só em 1907 que Leo Baekeland desenvolveu a baquelite — considerado o primeiro plástico totalmente sintético — abrindo caminho para a revolução dos materiais do século XX. Durante décadas, o plástico foi aclamado como símbolo de progresso e modernidade. Leve, barato, resistente e versátil, este material rapidamente se tornou indispensável nas mais diversas indústrias: da medicina à construção, da alimentação à tecnologia. Mas o seu maior trunfo — a durabilidade — revelou-se também o seu maior defeito.
Hoje, vivemos num mundo literalmente envolto em plástico. Embalagens descartáveis, sacos, garrafas, talheres, brinquedos, têxteis, componentes eletrónicos: tudo contém ou é feito de plástico. Estima-se que desde a década de 1950 já tenham sido produzidos mais de 8 mil milhões de toneladas de plástico, das quais cerca de 75% já são lixo — e a maioria ainda existe algures no planeta, pois pode demorar até 500 anos a decompor-se. O plástico em si não é o vilão. O problema está no uso excessivo e descartável, aliado a uma gestão de resíduos ineficaz. Em Portugal, por exemplo, apenas uma fração do plástico é devidamente reciclado. O restante acaba em aterros, é incinerado, ou pior ainda: abandonado no ambiente. Quando não é depositado no ecoponto amarelo — o local correto para a reciclagem da maioria dos plásticos — este material pode infiltrar-se nos ecossistemas e causar impactos devastadores. Animais marinhos e terrestres confundem-no com alimento e ingerem-no, levando à morte por obstrução ou intoxicação. Alguns plásticos libertam substâncias químicas nocivas que se acumulam na cadeia alimentar, afetando até o ser humano.
Cerca de 11 milhões de toneladas de plástico chegam aos oceanos todos os anos. Grande parte vem de fontes terrestres: lixo atirado para o chão, resíduos industriais, descargas ilegais ou má gestão de aterros. A força dos rios leva esse lixo até ao mar, onde se acumula com as correntes oceânicas. O caso mais emblemático desta crise é a chamada “Ilha de Plástico do Pacífico” — uma imensa mancha de detritos flutuantes entre o Havai e a Califórnia. Com uma área estimada entre 1,6 e 3,5 milhões de quilómetros quadrados (cerca de 10 a 20 vezes o tamanho de Portugal), esta acumulação é composta principalmente por fragmentos de plástico e redes de pesca abandonadas. Este fenómeno, longe de ser isolado, repete-se noutras partes do globo. E os danos vão muito além do visível.
À medida que o plástico se fragmenta com a ação do sol e das ondas, transforma-se em partículas minúsculas, com menos de 5 milímetros — os microplásticos. Estes já foram encontrados nos locais mais remotos do planeta: no gelo do Ártico, nas profundezas do oceano e até na placenta humana. Presentes na água que bebemos, no ar que respiramos e nos alimentos que ingerimos, os microplásticos são hoje uma ameaça silenciosa à saúde pública. Estudos preliminares sugerem que estas partículas podem interferir com o sistema endócrino, causar inflamações e transportar outros poluentes tóxicos. Além disso, há também os nanoplásticos — ainda menores e potencialmente mais perigosos, capazes de atravessar membranas celulares e alcançar tecidos sensíveis como o cérebro.
Eliminar totalmente o plástico é, no contexto atual, utópico. No entanto, reduzir o seu uso e substituí-lo por alternativas sustentáveis é não só possível como urgente. Muitos cientistas e empresas estão a desenvolver bioplásticos — materiais semelhantes ao plástico, mas produzidos a partir de fontes renováveis como o milho, a batata, a cana-de-açúcar ou até algas. Alguns destes materiais são biodegradáveis, ou seja, conseguem decompor-se naturalmente em condições específicas, sem deixar resíduos nocivos. Outras alternativas incluem materiais como papel resistente, embalagens comestíveis, vidro reciclável, tecidos reutilizáveis ou produtos à base de cogumelos e bambu. A inovação é promissora, mas ainda enfrenta desafios ao nível da escala, custo e eficácia. É também fundamental investir em educação ambiental, infraestruturas de reciclagem mais eficientes e legislação ambiciosa. A proibição dos plásticos de uso único — como palhinhas, cotonetes e talheres descartáveis — já é uma realidade em muitos países europeus, incluindo Portugal. Mas é apenas o início.
“Investigadores desenvolvem bioplástico inovador com propriedades antibacterianas para uso hospitalar
Um grupo de investigadores do Centro de Química de Coimbra (CQC), da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), em colaboração com o Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra (CNC-UC), está a desenvolver uma solução inovadora que alia sustentabilidade ambiental ao combate de infeções hospitalares, resultantes de bactérias multirresistentes.
O projeto Natural-based antibacterial bioplastics: a synergic and sustainable approach for surface photo-decontamination (PhotoBioSyn) combina ácido polilático (PLA) – um bioplástico biodegradável obtido a partir de biomassa – com curcumina, um composto natural extraído da raiz da curcuma (açafrão-da-índia), resultando num material com ação antibacteriana quando ativado pela luz.
«Estamos a criar uma alternativa sustentável aos plásticos hospitalares tradicionais, que representam cerca de
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Por:
Luís Dias
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