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    Arquivo: Edição de 15-04-2005

    SECÇÃO: Destaque


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    João Paulo II – Papa da proximidade

    “João Paulo II era um homem particularmente próximo de Deus e que vai continuar muito perto de nós”

    Cardeal Christoph Schonborn, arcebispo de Viena

    João Paulo II faleceu na noite do dia 2 de Abril. A saudade e pesar deram lugar a manifestações de tristeza e homenagem, num clima de recolhimento e silêncio, nos milhares de fiéis que oravam na Praça de São Pedro. Esperou a morte com tranquilidade. «Quando sentiu que a hora tinha chegado, fitou a janela», disse o P. Jarek Cielecki, «levantou a mão direita como que a abençoar os milhares que rezavam na Praça», disse amén..., e morreu. Na morte como na vida: a rezar.

    Junto dele sentíamo-nos inundados por uma atracção que foi constante nos jovens, em milhões de homens e mulheres de todas as raças, culturas, religiões e crenças que encontrou nos cinco continentes. Uma presença que se tornou sempre maior quanto maior era o peso do sofrimento.

    HOMEM DE FÉ E DE ORAÇÃO

    Esta irradiação era proveniente da força da fé, da sua proximidade de Deus. «Foi, sem dúvida um dos maiores Papas dos tempos modernos, enquanto muitos não-católicos viram nele uma figura espiritual de primeiro plano», disse a Conferência Episcopal belga e, «mentalmente lúcido até aos últimos instantes, com uma fé inteira no serviço de Deus», afirmou o Cardeal Karl Lehmann, presidente da Conferência Episcopal alemã. Sem dúvida um grande sinal para o mundo hodierno.

    «Centenas de jornalistas de todo o mundo mostraram o seu interesse por um protagonista dos valores do espírito, por um homem de oração e mestre espiritual, por um representante de Deus no mundo dos homens».

    No abraçar apaixonadamente o destino da humanidade, agigantou-se a energia espiritual de um grande crente. A força deste homem que o fez percorrer o mundo e «enfrentar as grandes causas da humanidade foi a força da fé», disse D. José Policarpo, Patriarca de Lisboa. João Paulo II foi um homem de fé profunda, de oração intensa e excepcional riqueza interior e devoção a Maria.

    «A sociedade contemporânea, na variedade de religiões e culturas, nas contradições paradoxais entre desejos anunciados e caminhos percorridos, no traumatismo de páginas da história que todos gostaríamos de esquecer, o ateísmo e a descrença assumidos como valores, parece mais antagónica que convergente com este anúncio de esperança cristã», referiu D. Policarpo.

    Lembro aquele olhar interrogativo e comunicativo, fascinante e iluminador nas audiências em que tomei parte, e na visita a Fátima em que o esperei no heliporto, passando a um metro de mim abençoando e sorrindo.

    O AMIGO UNIVERSAL

    Estar próximo do Papa era como estar com um próximo familiar e amigo. O cardeal Angelo Sodano referiu: «Muitos partilham um sentimento de ‘orfandade’ pela morte de um Papa que marcou a vida de tantos homens e mulheres, ao longo de 26 anos e meio de Pontificado».

    D. Teodoro de Faria, bispo do Funchal, considerou-o um “amigo universal” e recordou a sua profundidade humana e capacidade de perdoar. Disse na homilia: «Morreu o irmão universal», e continuou: «Contra todas as violências e tiranias» e tendo João Paulo conhecido as maiores humilhações contra a pessoa humana, «não odiou ninguém, a todos perdoou, mesmo ao jovem que atentou contra a sua vida na Praça de São Pedro». As pessoas de qualquer credo ou religião e dos mais variados sistemas políticos, na sua doença, foram admiráveis na presença através de orações ou de palavras de conforto. Era como alguém que já faz falta à família, quando está doente.

    DEFENSOR DA VIDA HUMANA

    «João Paulo II manifestou sempre sua grande paixão pelo homem, estando muito atento aos seus problemas. Empenhou-se na luta pelos direitos dos mais pobres e desfavorecidos.

    «O Papa deseja ser a voz dos que não têm voz, de todos os que não podem falar ou que são mantidos em silêncio». Falou directamente dos direitos e deveres dos trabalhadores, denunciou injustiças. Levantou sempre a voz para defender a dignidade da pessoa humana, as suas aspirações e os seus direitos fundamentais intangíveis e sagrados.

    «É preciso criar uma cultura de vida que trave a anticultura da morte», afirmou no México, em 1983. «Defendeu sempre o direito à vida desde a concepção até à morte natural», sublinhou a Conferência Episcopal polaca.

    VIAGENS APOSTÓLICAS

    Arrancou o Papado do seu histórico confinamento ao Vaticano. Nenhum Papa visitou tantas nações como ele, favorecido por ser admirável poliglota e pela facilidade de meios de comunicação. Nas suas viagens, pôs-se, como S. Paulo, a caminho pelas estradas do mundo, para anunciar a Boa Nova aos povos. Foi, sem dúvida, nestes anos o primeiro missionário da Igreja. O seu pontificado foi o mais universal de todos os tempos. Foram destinos privilegiados a América Latina e a Polónia. Aproximou governos e Igrejas locais. «Do Uganda ao Congo, peregrino da paz nas terras da guerra, na África. Ficam as memórias simpáticas de um homem que visitou quase todas as culturas e religiões» – D. Armindo Lopes Coelho, bispo do Porto.

    Foi um pontificado intenso e fecundo em que se desenvolveu uma incansável e eficaz actividade pastoral em todos os níveis da Igreja e da sociedade. Fez-se missionário pelas aldeias, cidades e países do mundo, como viajante de Deus.

    Um pontífice missionário e amigo da África, onde era respeitado e «amado como um dos nossos velhos» (chefe), dizem do Sudão.

    PAPA SEM MEDO

    «Não tenhais medo! Abri as portas a Cristo. Foram estas as palavras dirigidas pelo Cardeal Karol Wojtyla, arcebispo de Cracóvia, no dia 16 de Outubro de 1978, logo após a sua eleição, aos fiéis que enchiam a Praça de São Pedro para ver o novo Papa. D. Saraiva Martins: «Abri as portas ao poder salvador de Cristo, abri-lhe as fronteiras dos estados, dos sistemas económicos e políticos, os imensos domínios da cultura, da civilização, do desenvolvimento. E insistiu: «Cristo não pode ser excluído da História do homem em qualquer parte do globo. A sua exclusão seria um acto contra o próprio homem».

    CONSTRUTOR DA PAZ

    Não há nada mais contrário à natureza humana do que as guerras entre os homens. Nas suas mensagens anuais desenvolveu o tema da paz baseada na verdade, justiça, liberdade, amor e perdão. D. Masserdotti lembra a saudade dos brasileiros pelo “profeta da Paz”. O bispo do Funchal referiu-se à sua incessante luta pela paz universal no século XX, «lutando contra todas as opressões, tanto do comunismo como do capitalismo. Para ele o essencial era libertar o homem de todas as cadeias da escravidão». «Desmascarou sem descanso conflitos bélicos injustos e promoveu iniciativas de paz e fraternidade entra todas as religiões e todas as pessoas», recordam os bispos polacos.

    E na última mensagem preparada para a recitação do Regina Coeli deixou escrito: «À humanidade, que às vezes parece perdida e dominada pelo poder do mal, pelo egoísmo e pelo medo, o Senhor ressuscitado oferece como dono o seu amor, que perdoa, reconcilia e reabre o ânimo à esperança. É o amor que converte os corações e dá a paz».

    Homem do diálogo • A UNESCO destacou o empenho de João Paulo II na promoção do diálogo entre civilizações e culturas.

    «Reunir os crentes e os povos, esta foi a grande bênção na Igreja e no Mundo que nos deu ao longo de quase 27 anos de Pontificado», D. Albino Cleto, bispo de Coimbra.

    No seu caminho pastoral, João Paulo II «enfrentou regimes e sistemas, quebrou tabus e abriu as portas do diálogo entre culturas e religiões», disse o Patriaca de Lisboa. Intransigente perante as causas sociais foi também intransigente nas questões doutrinárias, sendo considerado conservador a respeito do acesso das mulheres ao sacerdócio e ao fim do celibato dos padres».

    Mudou o mundo • O jornal austríaco “Kronen Zeitung” caracterizou o Papa como «um revolucionário que mudou o quotidiano do mundo» e que atacou de forma aberta o «capitalismo brutal e mundialista».

    «Foi o Papa que mudou o mundo», salientou o “Corriere della Sera”, Itália. Em Espanha, os jornais afirmaram que João Paulo II foi «o Papa que mudou a história do século XX (“El Mundo”). Foi também «um pontífice carismático que pediu perdão pelos erros históricos do Vaticano, como a escravatura, a Inquisição, o Holocausto, as Cruzadas e os erros científicos» (“ABC”).

    CIVILIZAÇÃO DO AMOR

    João Paulo II foi um apóstolo corajoso da paz e do amor. Lutou pela união espiritual da Europa cristã. Incentivou a civilização do amor e a humanidade como uma família.

    George Bush declarou que o mundo perdeu «um defensor da liberdade» e «a Igreja Católica perdeu um defensor da liberdade humana». Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia, manifestou a sua «profunda tristeza» pela morte do Papa, enaltecendo o seu papel, que considerou essencial na reunificação da Europa e no progresso das ideias de liberdade e de democracia no nosso Continente. Os europeus jamais esquecerão a sua luta pela paz e pela dignidade humana», afirmou em comunidado. Não terá razão D. Albino Cleto, bispo de Coimbra, ao dizer: «Nós não merecemos o Papa que partiu?». Seria lastimável que assim fosse. Sua memória é por demais eloquente para ser esquecida.

    Um Papa próximo do povo • Quando chegou a sua hora de regressar ao Pai, o Papa «levantou a mão direita como que a abençoar os milhares de pessoas que rezavam por ele na Praça de S. Pedro».

    João Paulo II foi sem dúvida um dos maiores Papas dos tempos modernos, dum fascínio irresistível, pela juventude e por todas as pessoas e povos com quem contactou. O fundamento desta atracção vinha-lhe da força da fé e da intensa vida de oração. Um sofrido desde criança, e que privilegiou a defesa da pessoa humana e os seus direitos. Deu voz aos que não têm voz, porque os calam. Com a força da fé enfrentou e percorreu os continentes, tornou-se o amigo universal, o defensor dos mais pobres e desfavorecidos.

    Abraçando apaixonadamente o destino da humanidade, sofreu imenso com o ateísmo e a descrença ou indiferença religiosa assumidos como valores. Crescendo numa vida difícil, de estudo e trabalho, numa Polónia oprimida, defendeu todas as pessoas vítimas da malvadez humana.

    Perante tantas guerras e conflitos foi o apelo constante à paz pelo diálogo.

    Um Papa sem medo e sempre com um convite insistente: «Abri as portas a Cristo! Abri-lhe as fronteiras dos Estados, dos sistemas económicos e políticos, dos imensos domínios da cultura, da civilização, do desenvolvimento. Nas suas mensagens anuais desenvolveu o tema da paz baseada na verdade, na justiça, na liberdade, no amor e no perdão. Ele mesmo soube perdoar e soube pedir perdão.

    Empenhado perante as causas sociais, foi mais intransigente nas questões doutrinárias sustentadas por alguns.

    Tentou fazer com que a humanidade fosse a família que Deus quer e como Ele quer.

    Que as centenas ou milhares de jornalistas saibam fazer chegar a mensagem que João Paulo II nos deixou na sua grande e múltipla riqueza em favor da Igreja, do homem, da vida, da humanidade, do verdadeiro sentido da vida.

    Por: ARMANDO SOARES

     

     

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