O Encontro
Nota da autora: Este poema é baseado num encontro com uma coleguinha da escola de Ermesinde que, já adulta ocasionalmente encontrei numa maldita rua da cidade do Porto, arrastando os dias e o corpo num sonambulismo de faz de conta. Era a mesma menina doce da escola, das brincadeiras, a quem a vida foi madrasta. Há memórias antigas que nos rasgam por dentro, tornando-se eternas.
Ela chegava tarde e cansada
Carregava os seus e os pecados dos outros
Jantava restos de conduto com sabor a perdição
De olhar baço e triste se deitava ao lado
Do contador de horas vazias de quase tudo
Queria muito o amor o despertar
Mas nada dava nada recebia
No leito de lençóis sem encorrilhas
-
Estava cansada de enganá-lo de sujar a alma
O coração onde pulsava o degredo
E um rio fluía contra a corrente
-
Aqueles pequeninos olhares do verde ao castanho
Como queimavam…. De onde vens mamã?
Tão tarde! Sentimos a tua falta.
Tristes olhares pequenos em tamanho
Grandes em amargura
Como se percebessem o maldito fado da vida
-
Adormecia em sonhos de promessas e alegria.
Mas lá vai ela novamente pela tardinha
Insegura sem esperança
Carregando apenas os sonhos e o desespero
Por:
Eugénia Ascensão
|