Perdidos na Translação
Em casa da família Marques é dia de aniversário:
- Hoje o nosso Martim vai apagar uma velinha pela primeira vez - anuncia o baboso pai da criança.
Reuniu à mesa de almoço avós, tios e primos do bebé. E meia dúzia de outros familiares. A ocasião não é para menos.
- Nasceu à uma da tarde - relembra. - À uma completará um aninho e vamos todos cantar-lhe os parabéns!
- Isso, agora… - intervém o tio Francisco, um autodidata metediço. - Até podemos cantar-lhe os parabéns, mas esse miúdo tão giro não completa um ano à uma da tarde.
- Como assim, tio? - reclama o frustrado papá. - Eu estava lá e conferi a hora do parto. Uma da tarde em ponto.
- Não digo o contrário, mas não passa um ano à uma. Só lá perto das sete da tarde. E é por isso que este mês tem 29 dias.
Todos os familiares já conhecem bem as tiradas do tio e sabem que não há nada a fazer: vem aí relatório.
- Estamos habituados a que, de 4 em 4 anos, fevereiro tenha 29 dias, em vez dos habituais 28 - continua ele, enchendo o peito. - É o resultado das repetidas tentativas que os Homens têm feito para adaptar o tamanho do ano de calendário à duração da translação da Terra. Em vez de um número inteiro de dias, a viagem à volta do Sol deste esferoide maravilhoso, em que vivemos, dura 365,2422 dias. Nem 365, nem 366; um pouco mais de 365. Isto implica que, no caso do nosso Martim, o aninho dele completa-se só lá pelas… 18 horas e quase 49 minutos.
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ILUSTRAÇÃO @RODOLFO.BISPO77 |
- Por amor de Deus, tio; contas agora não! - insurge-se a mãe da criança, enquanto o pai baixa e abana a cabeça.
- Isto é muito interessante - desculpa-se o divulgador extemporâneo de ciência e história. - O calendário juliano - de Júlio César, do século I a. C. -, que vigorou no Ocidente por mais de 15 séculos, estipulava um ano de 365 dias, exceto que, a cada 4 anos, se inseria um dia extra junto ao sexto dia das calendas de março, isto é, 6 dias antes do dia 1 de março. A cada 4 anos, repetia-se o sexto dia das calendas de março. É daí que vem a designação de “bissexto”. E de “calendas” derivou calendário.
- Então, era igual ao nosso! - atreve-se um dos miúdos.
- Quase! - esmiúça o “tio-enciclopédia”, puxando de uma esferográfica e de um guardanapo de papel. - O rigor era razoável: 365,25 dias, em vez de 365,2422. A diferença era pouca, mas, com o passar dos séculos, o desfasamento foi aumentando tanto que, no século XVI, tornou-se premente adotar outro calendário. Em 1582, sob o Papa Gregório XIII, adotou-se o calendário atual - o gregoriano, derivado do nome do Papa. Mas o ajuste implicou saltar 10 dias. As pessoas adormeceram no dia 4 de outubro e quando acordaram no dia seguinte era o dia 15.
- Mas saltar 10 dias e adotar um novo calendário resolveu o problema, de vez? - capitula o pai do aniversariante.
- Não, mas minorou-o bastante. Repara, o calendário gregoriano estipula: O ano tem 365 dias; Se o ano for divisível por 4, e não for fim de século, acrescenta-se um dia ao mês de fevereiro. Por exemplo, este ano - 2024 - é bissexto; Se o ano for fim de século e divisível por 400 - por exemplo
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Por:
Joaquim Bispo
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