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Edição de 30-11-2024
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    Arquivo: Edição de 31-03-2023

    SECÇÃO: Local


    ASSOCIAÇÃO HUMANITÁRIA DOS BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS DE ERMESINDE

    Assembleia Geral da AHBVE aprova Relatório e Contas de 2022 em clima de alguma tensão

    Fotos MANUEL VALDREZ
    Fotos MANUEL VALDREZ
    A Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Ermesinde (AHBVE) reuniu em Assembleia Geral (AG) na noite de 24 de março último no sentido de discutir e votar o Relatório e Contas e Parecer do Conselho Fiscal referente ao exercício de 2022. Os documentos seriam aprovados por maioria, mas a sessão ficou marcada por um diálogo tenso entre elementos da mesa da AG e entre o presidente deste órgão e a direção, ao que se seguiu uma não menos tensa intervenção do associado - e ex-presidente da direção da AHBVE - Artur Carneiro, sobre algumas passagens inscritas no recém publicado livro alusivo ao centenário da associação.

    No que concerne ao ponto referente ao Relatório e Contas e Parecer do Conselho Fiscal, o presidente da mesa da AG, José Alves, deu a palavra ao presidente da Direção da associação humanitária, Jorge Videira, para que este pudesse tecer junto dos sócios as explicações/considerações sobre o documento. No relatório podia ler-se desde logo que 2022 continuou a ser um ano atípico para a associação, a qual depois de ter suportado as causas/efeitos derivadas da Covid-19 partia para 2022 com a expectativa de alguma recuperação económica que permitisse o alavancar das suas finanças. Porém, a guerra na Europa não o permitiu, e a associação tem gerido as suas finanças dentro dos padrões de acuidade, «numa perspetiva de gastar pouco e bem, sem nunca pôndo em causa a proteção de pessoas e bens», conforme se podia ler no documento.

    O aumento constante dos salários e da Taxa Social Única (TSU), ao que se junta os aumentos dos combustíveis, da energia elétrica, dos consumíveis, equipamentos e fardamentos, também veio agravar o cenário económico da associação, aumentos esses que de acordo com o que foi escrito no relatório não tiveram a consequente contrapartida do Estado, significando isto que o aumento de custos foi todo suportado pela AHBVE.

    Outro facto negativo, e que foi referido por Jorge Videira na sua alocução inicial, prendeu-se com a diminuição do número de associados. Neste ponto deu nota de que à semelhança de há uns anos (sensivelmente desde 2012) a esta parte, o número de associados vem decrescendo. Na sua voz, este facto explica-se porque o grosso dos associados da AHBVE são idosos, e muitos deles ou falecem, ou vão para lares, ou para casa das suas famílias, e a associação vai perdendo o rasto, digamos, destes sócios. Referiu a este propósito que dos últimos seis ou sete anos, 2022 foi o ano mais negativo em termos de diminuição de número de associados. Em termos mais precisos foram admitidos 240 novos associados, tendo desistido por vários motivos 305, o que reflete uma diminuição de 65 associados, pese embora a associação tenha ao longo do último ano realizado campanhas de angariação de novos associados, conforme foi dito.

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    Também o Comando, por intermédio do 2.º Comandante, Francisco Pereira, leu o Relatório Operacional. Entre outras notas, foi referido que no ano passado os Bombeiros Voluntários de Ermesinde (BVE) mantiveram um volume de serviços acima da média distrital, sendo por diversas vezes o corpo de bombeiros com mais serviços efetuados num universo de 44 corpos de bombeiros voluntários e dois profissionais. Acrescentou que os serviços não só aumentaram como também o tempo desses serviços aumentou, bem como o facto de os BVE serem cada mais solicitados para ajudar nas áreas vizinhas, além da sua área de intervenção.

    Ressalvou neste relatório que para este sucesso muito pesou a parceria entre a Direção da AHBVE e o empenho de todos os bombeiros desta. Em nome do Comando, o 2.º Comandante reforçou o agradecimento e homenagem a todos os bombeiros da associação humanitária da nossa cidade, «que apesar de todas as dificuldades que se têm vindo a sentir sempre se mantiveram ao serviço nunca descurando o socorro a quem necessita. A todos eles um grande e muito obrigado», pedindo em seguida uma salva de palmas para todos os bombeiros. O 2.º Comandante terminou a sua intervenção com uma preocupação atual dos BVE, e que se prende com o facto de nos últimos tempos existirem cada vez mais pessoas que vivem sozinhas, sobretudo idosos, sendo que muitos estão sinalizados pelas entidades competentes, ao passo que outros não. Deu o exemplo de que na mesma semana em que esta AG foi realizada os bombeiros intervieram em três situações deste género, de pessoas que vivem sozinhas e que não estão sinalizadas, sendo que em duas dessas intervenções depararam-se com contornos fatais, ou seja, não houve situação possível de reversão, de salvar essas pessoas. Nesse sentido, o 2.º Comandante pediu a ajuda de toda a população em geral, para que se tiverem conhecimento de alguém que esteja ou possa vir a ficar a viver sozinha que faça chegar essa informação aos BVE para que estes em conjunto com as Juntas de Freguesia de Ermesinde e de Alfena possam trabalhar a questão da proximidade e evitar situações fatais.

    MODERNIZAÇÃO DOS SERVIÇOS ADMINISTRATIVOS E INFORMÁTICOS

    GERA CLIMA DE TENSÃO

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    Ainda antes de colocar à votação os documentos ali em discussão e análise, o presidente da AG, José Alves, faria uma intervenção para referir a constatação de que uma das grandes dificuldades da AHBVE nos últimos anos é precisamente a falta de associados. «Há uma necessidade imperiosa de angariarmos mais sócios. Não é fácil, o ano passado tomaram-se umas duas ou três iniciativas, mas com resultados muito reduzidos. Não devemos desistir e devemos continuar. Penso que é um trabalho que tem de ser feito urgentemente», disse o líder da AG, que a juntar a esta nota frisaria ainda que no Parecer do Conselho Fiscal sobre o Relatório e Contas de 2022 há uma recomendação por parte deste órgão no sentido de a associação humanitária melhorar a sua organização administrativa. «Há uma necessidade imperiosa de modernizar os serviços administrativos e informáticos da nossa associação. Há uma necessidade imperiosa e urgente de evoluirmos para situações que são necessárias. Isto é o que eu penso e o Conselho Fiscal também, e com certeza também alguns elementos da Direção. Dizem que não há dinheiro. É verdade, as dificuldades são enormes. Mas é uma necessidade imperiosa modernizar os serviços administrativos da nossa organização», reforçou o presidente da AG.

    Na resposta a este intervenção Jorge Videira disse que os serviços administrativos da associação não estão o caos que dá ideia em que estão. «Longe disso. Porque se isso acontecesse muito mal estaria a associação e não estaríamos se calhar aqui hoje a apresentar o Relatório e Contas aos associados. Para além disso, há oito dias atrás reuniu a minha pessoa, o presidente do Conselho Fiscal e os senhores responsáveis pela nossa contabilidade no sentido de aprimorarmos algumas situações. Portanto, isto vai-se fazendo. Agora, “Roma e Pavia não se fizeram num dia”, e estas coisas também não se fazem num dia, vamos dando passos e vamos conseguindo chegar à otimização», disse Videira.

    José Alves retorquiu, ao esclarecer que não estava a pôr em causa o trabalho e a dedicação de ninguém que trabalha no setor administrativo da associação, e que a sua intervenção ia no sentido de ser uma sugestão. Repetiu em seguida que era urgente modernizar os serviços administrativos e informáticos, caso contrário a associação não iria conseguir fazer muitas coisas. «Se a Direção do meu ponto de vista quiser tratar do assunto, deve fazê-lo, se a Direção não quiser tratar do assunto, deverá criar uma comissão que trate desse assunto. É preciso nós chegarmos muito mais diretamente aos nossos associados. Há anos que se fala em assembleias que é preciso mais sócios, e não é possível que em qualquer organização, e na nossa muito menos, porque tem 6000 e tal associados (nota: segundo o Relatório e Contas apresentado nesta AG a associação tem atualmente 6540 associados) que não consigamos chegar a mil! (através de meios informáticos) E se nós tivermos tudo informatizado conseguimos fazer as coisas mais rápido», opinou José Alves, que mais adiante reafirmou que com esta sua intervenção não estaria a pôr em causa o trabalho de ninguém, sendo da opinião que o funcionário que está nos serviços administrativos dá o seu máximo. «Mas desculpem, se nós não informatizamos os nossos serviços vamos ter problemas», disse o presidente da AG.

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    Esta intervenção de José Alves causou algum desagrado visível em alguns elementos dos órgãos sociais dos BVE. Desde logo a vice-presidente da AG, Joana Martins, que usou da palavra para referir que não estava a gostar da postura de José Alves. Joana Martins (que estava a secretariar a assembleia, em virtude da ausência do 1.º Secretário da mesa, José Manuel Pereira, que por motivos de ordem pessoal, como foi anunciado no início da sessão pelo presidente da mesa, não pôde comparecer nesta sessão) opinou que ninguém estava ali para criticar da maneira como José Alves estava a fazer. «Acho que neste momento a associação não precisa deste tipo de críticas. Aqui o que é importante é os nossos bombeiros terem meios para assistir a população. Precisamos de dinheiro, é uma verdade, mas não me parece pelo tom que percebo que seja um sistema (informático) assim tão obsoleto que esteja a prejudicar uma associação inteira. Por isso não concordo com o presidente da AG», disse. E mais à frente nesta sessão Joana Martins pediria mesmo a sua demissão, com o argumento de que o presidente da AG «em vez de ajudar a associação está sempre a denegrir e a deitar abaixo. Por isso, o senhor pode tratar da ata (desta reunião)».

    Também da parte da Direção se levantaram algumas vozes de discórdia face à intervenção de José Alves. Serafim Barros foi uma delas, ao dizer que a associação está devidamente informatizada e atualizada, quer a nível operacional, quer a nível dos serviços administrativos.

    Mais crítico foi o vice-presidente da AHBVE, Arnaldo Soares, que num tom irónico disse estar feliz por constatar que o problema dos BVE era informatizar e modernizar os serviços administrativos. «Eu ficaria preocupado se tivesse aqui o Comando a dizer que não conseguia prestar assistência aos cidadãos de Ermesinde e de Alfena. Por isso, se o problema é uma questão informática não é preciso esta atitude, quando se esperava de um presidente da AG que fosse um elemento harmonizador», disse Arnaldo Soares.

    Já no términos da sessão José Alves antes de fazer as despedidas e os agradecimentos aos presentes voltou ao assunto para referir que todos podem ter opiniões divergentes, mas que todos os que ali estavam era com o interesse comum de defender os interesses dos bombeiros.

    INTERVENÇÃO DE ARTUR CARNEIRO TROUXE MAIS TENSÃO

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    Finda esta discussão acalorada o Relatório e Contas e Parecer do Conselho Fiscal foi colocado à votação, tendo sido aprovado por maioria, com duas abstenções e um voto contra, este último por parte do associado Artur Carneiro.

    E quando se esperava que a tensão tivesse passado eis que no período destinado à discussão de qualquer assunto de interesse para a associação o clima voltou a ficar tenso. Artur Carneiro pediu então a palavra para em defesa da sua honra desmentir algumas passagens escritas no recém publicado livro do centenário da BVE. Passagens e/ou afirmações que foram escritas e que aludem ao período em que Artur Carneiro foi presidente da Direção da AHBVE, e que nas palavras deste ex-dirigente são falsas. Aliás, a intervenção de Artur Carneiro nesta AG pode ser lida na íntegra nesta edição (na rubrica Correio do Leitor), sendo a sua publicação solicitada por este ex-dirigente e associado dos bombeiros ao nosso jornal. Na sequência desta sua longa intervenção, Artur Carneiro pediu mesmo a sua desvinculação como associado da AHBVE.

    A intervenção de Artur Carneiro motivou reações por parte dos atuais dirigentes da AHBVE, sendo que Serafim Barros, membro da Direção, pelo facto do seu nome ter sido mencionado nessa mesma intervenção, usaria da palavra. E para que não houvesse dúvidas da sua seriedade e honestidade, explicou então toda uma situação que nas suas palavras remonta a 1994, ou 1996. Tudo porque nessa altura, Serafim Barros, que era e é, nas suas palavras, formador na Escola Nacional de Bombeiros, encomendou umas 10 ou 15 abraçadeiras de várias cores que na sua ótica seriam úteis para dar formação não só aos BVE como a outros bombeiros, tendo em conta a sua função de formador. Serafim Barros explicaria e sublinharia nesta assembleia que a encomenda foi feita por si e que a responsabilidade de pagar essa encomenda era como tal sua. Acontece que por lapso da empresa que vendeu o referido material a fatura veio em nome da AHBVE, ao que esta pagou no imediato, e logo de seguida a Direção, então presidida por Mota Ribeiro, instaurou um processo disciplinar a Serafim Barros, sendo que essa mesma Direção se demitiu de seguida a propósito deste caso.

    Serafim Barros explicou ainda que quando a AHBVE pagou essa encomenda ele já tinha enviado um cheque para a empresa que vendeu o material, cheque esse que lhe foi posteriormente devolvido. Serafim Barros explicaria adiante que quando a Direção presidida por Artur Carneiro entrou em funções a primeira coisa que fez foi ir ter com o novo presidente da AHBVE e entregar-lhe o cheque com o valor da compra das abraçadeiras, o que o então presidente da Direção não aceitou. No rescaldo desta explicação, Serafim Barros desabafou que já deu «milhares de euros para a AHBVE e nunca levei nada da associação, nunca roubei nada a ninguém, muito menos à associação».

    Sobre a intervenção de Artur Carneiro, o presidente da AG, José Alves, usaria novamente da palavra para dizer que em relação ao livro do centenário da associação o autor do mesmo, José Manuel Pereira (nota: que é igualmente membro dos atuais órgãos sociais da AHBVE), «escreveu livremente o que entendeu. Com certeza as pessoas que estiveram na apresentação do livro ouviram o José Manuel Pereira dizer que a grande maioria dos elementos que estavam no livro foram baseados nos documentos recolhidos e existentes. Com certeza que às vezes a maneira de ver e de olhar pode ser ligeiramente diferente, mas uma coisa é certa: a intenção do livro e da nossa organização não é denegrir quem quer que seja».

    Também Jorge Videira teceu algumas considerações sobre a intervenção de Artur Carneiro acerca do livro. Nesse sentido disse que não era verdade quando Artur Carneiro disse na sua intervenção que era mentira quando no livro era referido que a fotocopiadora da associação «registou a tiragem de dezenas de milhar de fotocópias, a cores e a preto e branco e outros meios de propaganda para as eleições a que se recandidatavam» (nota: a lista de Artur Carneiro. Sobre isto, Jorge Videira disse ter provas, documentos que estavam no computador, que na campanha eleitoral de 2013 a campanha da Direção que então estava no poder havia sido feita na associação, ao imprimirem as referidas fotocópias para a campanha eleitoral. «Se alguém tiver dúvidas essas provas podem ser mostradas», terminou Videira.

    Por: Miguel Barros

     

     

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