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    Arquivo: Edição de 31-07-2021

    SECÇÃO: Opinião


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    Jogo de Imitação

    Alan Turing
    Alan Turing
    Num artigo publicado neste jornal a 27 de fevereiro, intitulado Solidão e Isolamento, lembrava que a tecnologia atual deve muito a invenções feitas, por personalidades fascinantes, com o intuito de dar resposta a algumas encruzilhadas que desafiaram a Humanidade. Uma dessas descobertas foi a máquina “Bombe” que esteve na origem dos computadores e permitiu, segundo se diz, diminuir em dois anos a duração da Segunda Grande Guerra.

    Num filme de 2014, Jogo de Imitação, de autoria do norte-americano Morten Tyldum, abrilhantado por um elenco de renome do qual destaco Benedict Cumberbatch, recorda-se a história do inventor da “Bombe”, Alan Turing, matemático e criptógrafo inglês, que com ela conseguiu decifrar o Enigma das forças nazis.

    O filme inspira-se na biografia “Alan Turing: The Enigma” escrita por Andrew Hodges, também ele um matemático da Universidade de Oxford que dedica, ainda hoje, parte do seu tempo a divulgar a obra do cientista.

    Alan Turing nasceu a 23 de junho de 1912 no seio de uma família inglesa de classe média alta. Desde cedo deixou bem vincada a sua visão dissonante do mundo ao preferir o estudo das ciências, em vez das letras e dos clássicos, e ao não ser o modelo de aluno que todos esperavam (na altura as letras eram vistas como a escolha mais acertada para um gentleman) já que as suas notas eram, em todas as matérias, se não medíocres, pelos menos desconcertantes. O seu professor de inglês desabafava: “Eu até lhe posso perdoar a sua escrita apesar de ela ser uma das piores que eu já vi.”

    Em 1931 ingressou no King`s College, Cambridge, na licenciatura de matemática. Em 1936 aprofunda o seu conhecimento através de um Doutoramento na área da lógica e matemática, na Universidade de Princeton nos EUA.

    Entre esse ano e 1950 desenvolve estudos pioneiros nas áreas da computação e da Inteligência Artificial. E é neste tempo que surge o seu mais importante, pelo menos o mais mediático, contributo para a Humanidade. Em 1939, já na Inglaterra e em plena Segunda Grande Guerra, Alan Turing é convidado para o Government Code and Cypher School em Bletchley Park - atualmente o serviço de inteligência e de segurança Britânico que tem como missão a segurança nacional (GCHQ) - e aí, com outros cientistas, desenvolverá a “Bombe”, máquina decifradora de códigos enviados pelo Enigma, mecanismo criado pelo exército alemão capaz de mensagens encriptadas. Ainda durante este período Turing e a sua equipa irá desenvolver uma nova técnica de descodificação, a “turingery”. Por isso, no final do conflito foi galardoado pelos seus serviços e passou a fazer parte do Laboratório de Computação da Universidade de Manchester.

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    Em 1950, num dos seus estudos, refere um método para determinar se uma máquina que evidencia algum comportamento se pode considerar “inteligente”. É o chamado “Jogo de Imitação”, atualmente designado de “Turing Test”.

    Mas nem a genialidade de Turing nem o mundo académico o iriam salvar de uma sociedade conservadora, como era a inglesa dos anos 50. Esta sustentava a homofobia num quadro legal criminalizando toda a prática homossexual. Neste campo, as preferências do matemático eram sobejamente conhecidas em Cambridge, um “oásis de aceitação”, nas palavras de Andrew Hodges.

    Infelizmente a moral vigente não se compadecia da homossexualidade e em 1952 Turing foi vítima de um Estado que, não o tendo ignorado como cientista, não lhe perdoou o facto de se sentir atraído pelo mesmo sexo. Com efeito, nesse ano, Alan Turing foi preso por cometer crime de “Indecência grosseira”. Este não rejeitou as acusações tendo sido condenado a 12 meses de terapia com injeções de hormonas femininas, o que invalidou a continuidade do seu trabalho nos serviços de Inteligência ingleses.

    Durante dois anos Turing continuou a produzir trabalho científico de grande envergadura. Contudo, o sofrimento infligido pelo tratamento, que o tornou impotente, levaram-no a pôr termo à vida em 7 de junho de 1954, aos 41 anos.

    (...)

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    Por: Cândida Moreira

     

     

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