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    Arquivo: Edição de 30-11-2019

    SECÇÃO: História


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    ACONTECEU HÁ UM SÉCULO (9)

    Três tentativas para assassinar o industrial Alfredo da Silva

    No dia 6 de novembro de 1919, o grande industrial Alfredo da Silva, dono da CUF, foi vítima de um atentado. Segundo a polícia conseguiu apurar, teria sido condenado à morte numa reunião feita por inimigos seus que o acusaram de ser o “rei” dos açambarcadores. Tentaram, por 3 vezes, matá-lo mas conseguiu escapar sempre. A última tentativa aconteceu em Leiria e ainda teve de sofrer tratamento hospitalar.

    ASSINALADOS COM O N.º 1 E O N.º 2, ALFREDO SILVA E MANUEL DE MELO (QUE VIRIA A SER SEU GENRO), RESPETIVAMENTE, NO COMPLEXO CUF DO BARREIRO, EM 1918 (ARQUIVO MUSEU INDUSTRIAL BAÍA DO TEJO)
    ASSINALADOS COM O N.º 1 E O N.º 2, ALFREDO SILVA E MANUEL DE MELO (QUE VIRIA A SER SEU GENRO), RESPETIVAMENTE, NO COMPLEXO CUF DO BARREIRO, EM 1918 (ARQUIVO MUSEU INDUSTRIAL BAÍA DO TEJO)
    Alfredo da Silva foi talvez o maior empresário português da Primeira República Portuguesa, tendo sido responsável pelo grupo CUF (Companhia União Fabril), pela Tabaqueira e, entre outras importantes empresas portuguesas, pela Companhia de Seguros Império. Em termos políticos, Alfredo da Silva era conservador. Tendo sido eleito deputado em 1906, apoiou João Franco e uma dúzia de anos mais tarde, Sidónio Pais. Já no período do Estado Novo, e como apoiante de Salazar, foi membro da Câmara Corporativa lutando contra a lei das 8 horas de trabalho diário.

    O facto de ser um grande empresário e de ser conservador (segundo os seus acusadores, favorecia os monárquicos, era açambarcador, germanófilo e tinha capitais alemães, não declarados, na sua CUF) terá pesado nas três tentativas de homicídio que sofreu, duas em 1919 (18 de julho de 1919 e 6 de novembro de 1919) e uma em 1921, concretamente no dia 21 de outubro. Se das primeiras saiu ileso, na última, que aconteceu em Leiria, foi mesmo atingido com dois tiros e teve de ser socorrido no Hospital desta cidade. Daqui seguiu para França, onde completou a sua convalescença.

    O 1.º ATENTADO

    A 1.ª tentativa foi cerca das 19 horas do dia 18 de julho de 1919 quando o industrial se dirigia do Parlamento para Alcântara, descendo a então denominada Avenida Presidente Wilson e foi perpetrado por Arsénio José Ferreira, um pintor de construção civil. O carro onde seguia foi alvejado com duas bombas de dinamite. Da notícia que saiu no jornal “A Capital” do dia seguinte, transcrevemos o seguinte excerto: «(…) Na esquadra das Monicas continua preso e incomunicável o pintor da construção civil Arsénio José Ferreira que tentava fugir quando do attentado e que foi encontrado armado de revólver. O preso, que tem negado que fizesse parte do grupo de assaltantes, deve ser amanhã acareado com varias testemunhas. A policia de investigação procura os restantes elementos que constituem o grupo e muito principalmente dois indivíduos que acompanhavam o Arsénio Ferreira. / A policia fora informada já há dias de que n’uma reunião fôra o industrial Alfredo da Silva condenado á morte (…)».

    A 2.ª TENTATIVA

    O ATENTADO DE 6 DE NOVEMBRO DE 1919 CONTRA ALFREDO DA SILVA (IN "ILUSTRAÇÃO PORTUGUESA", DE 17 DE NOVEMBRO DE 1919)
    O ATENTADO DE 6 DE NOVEMBRO DE 1919 CONTRA ALFREDO DA SILVA (IN "ILUSTRAÇÃO PORTUGUESA", DE 17 DE NOVEMBRO DE 1919)
    Depois desta tentativa falhada, menos de 4 meses depois, novo ataque a Alfredo da Silva procurando acabar-lhe com a vida. Aconteceu no dia 6 de novembro pelas 16 horas. A notícia saiu em toda a imprensa, mas vamos transcrever a que saiu no diário “A Capital” que, nesse mesmo dia, na sua primeira página deu destaque ao assunto com os títulos: «No Alto de Santa Catarina / O sr. Alfredo da Silva alvo de novo atentado / Fica gravemente ferido o seu “chauffeur”».

    «Cerca das 16 horas de hoje, – refere a notícia – os moradores dos sitios do Calhariz e imediações foram sobressaltados por um enorme estampido que partiu dos lados de Santa Catarina. Sabia-se a breve trecho que se tratava de um novo atentado dynamitista contra o industrial sr. Alfredo da Silva, o qual, como é sabido, reside no antigo palacete Colares, onde há dias se declarou um violento incêndio.

    O sr. Alfredo da Silva, que se encontra com a sua familia no Estoril, tinha vindo hoje a Lisboa a fim de juntamente com o chefe dos fiscaes da Companhia de Seguros Fidelidade avaliar os prejuizos que o seu palacete sofreu na parte ocupada pelo capitalista e empresário teatral sr. Antonio Ramos.

    Cerca das 15 horas, tendo assinado os documentos de avaliação, dispunha-se o sr. Alfredo da Silva a sahir do palacete, atravessando jardim que lhe fica fronteiro, quando ao abrir o portão de ferro lhe surgiu pela frente um individuo alto, espadaudo, que lhe apontou ao peito uma pistola. A arma, porém, encravou-se e não deu fogo, o que permitiu ao sr. Alfredo da Silva ter tempo para recuar e fechar precipitadamente o portão que é chapeado de ferro, bem como o gradeamento da frente do palácio. Em frente ao portão estacionava o automóvel do sr. Alfredo da Silva, do qual era “chauffeur” Raul Rodrigues de Sousa, de 33 anos (…).

    Na ocasião em que o sr. Alfredo da Silva se metia para dentro de casa, um grande estampido se fez ouvir. Fôra um outro individuo, companheiro do primeiro que empunhava a pistola, que atirára uma bomba na intenção de atingir o referido industrial.

    O explosivo foi cahir nas trazeiras do automóvel, rebentando com grande fragôr, deixando enorme rasto na calçada, cujo empedramento ficou como lascado. O pequeno muro que sustenta o gradeamento á frente do palacio ficou em varios pontos esburacado, indo um dos estilhaços cahir na rua do Seculo.

    O “chauffeur” Raul de Sousa, que foi atingido tambem por estilhaços e ficou ferido n’uma perna e n’um braço, foi imediatamente conduzido no referido automóvel para o hospital de S. José, recolhendo depois a uma das enfermarias, sendo grave o seu estado. (…)»

    A Ilustração Portuguesa (cf. imagem) dedicou uma página a esta 2.ª tentativa de assassinar Alfredo Silva), onde publica a notícia dessa infeliz ocorrência:

    «O sr. Alfredo da Silva, o conhecido industrial que Lisboa tão bem conhece, foi ultimamente vitima de um atentado que só o não vitimou por um acaso providencial. Artur Pinho com outros que se evadiram esperaram aquele senhor quando ele, á saída do seu palacete do Alto de Santa Catarina, onde se deu um incendio, ia para se meter no automovel e alvejaram-no á pistola e a bomba. A pistola não se disparou por se ter encravado, mas estilhaços da bomba deixaram mal ferido o «chauffeur» Raul de Souza, que está no hospital onde foi fotografado para a «Ilustração». O estucador Artur Pinho tambem está bastante contuso, como a nossa gravura mostra, por o povo o ter agredido, escapando ele com dificuldade ás iras populares, devido á intervenção da policia. Geralmente os populares não sao bolchevistas nem compreendem o crime como um ideal.»

    A imprensa continua a acompanhar o caso, descobrindo-se, poucos dias depois, um cúmplice de Artur Pinho, o estucador Joaquim da Silva, de 28 anos que também foi preso.

    O ÚLTIMO ATENTADO

    Segundo informa alguma imprensa do tempo, Alfredo da Silva fazia parte da “lista negra” da “camioneta fantasma” que circulou pelas ruas de Lisboa na “noite sangrenta” de 19 de outubro de 1921 e que foi responsável por vários assassínios de importantes quadros políticos republicanos, nomeadamente, o chefe do Governo, António Granjo, o herói da implantação da República, Machado Santos e José Carlos da Maia, que também esteve envolvido na implantação da República e foi um importante político deste período.

    (...)

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    Por: Manuel Augusto Dias

     

     

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