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Edição de 30-04-2024
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    Arquivo: Edição de 29-02-2012

    SECÇÃO: Destaque


    PONTO DA SITUAÇÃO DA DESCOBERTA DE FÓSSEIS EM ERMESINDE

    Fósseis com 300 milhões de anos deparam «com inércia da Câmara de Valongo»

    Não obstante o Centro de Geologia da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto) ter sido informado no passado dia 18 de janeiro sobre a descoberta da jazida fossilífera noticiada na última edição [em papel] do jornal “A Voz de Ermesinde” e o mesmo se ter verificado com a Câmara Municipal de Valongo na manhã do dia 2 de fevereiro, até à presente data, pouco ou nada foi feito para evitar o acesso e consequente destruição dos milhares de fósseis de flora e fauna.

    Foto JOSÉ MANUEL PEREIRA
    Foto JOSÉ MANUEL PEREIRA
    Os últimos dias têm registado a visita de inúmeros curiosos e forasteiros que, em viaturas próprias se divertem delapidando este património geológico, efetuando verdadeiros carregamentos de pedras, blocos e placas fossilíferas, muito contribuindo para a impossibilidade da recuperação de espécimes fossilizadas, muitas delas ainda não identificadas. Face ao exposto e na tentativa de poder/dever preservar alguns dos muitos fósseis existentes, eu próprio, nas muitas incursões efetuadas ao local, recolhi já mais de 500 fósseis para posterior estudo.

    Confrontada com o atual cenário, a Câmara Municipal de Valongo apenas acrescenta que o seu parceiro científico foi já contactado, aguardando conclusões sobre a eventual importância desta recente descoberta. Nesta medida, estranha-se a inércia e inoperância dos serviços da Autarquia de Valongo em, independentemente de aguardar pelos eventuais estudos do Centro de Geologia da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, não tomaram a iniciativa de delimitar e cercar a área já identificada, sabendo e reconhecendo a importância destes testemunhos geológicos do Paleozóico. Este incompreensível desinteresse, quando supostamente a edilidade terá técnicos superiores e dirigentes com conhecimento bastante para que sejam tomadas desde já as medidas adequadas, conhecedores que são deste património pelo recente trabalho efetuado aquando do Parque Paleozóico de Valongo, é totalmente injustificado.

    Por outro lado, mês e meio após o conhecimento do Centro de Geologia da FCUP – tempo suficiente para colocar uma equipa no terreno – apenas, e por iniciativa própria, Pedro Correia, paleobotânico do Centro de Geologia da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, se fez deslocar ao local, no passado dia 16 de fevereiro, não mais deixando, na companhia de alunos universitários, de efetuar as intervenções necessárias de prospeção e recolha de fósseis, transportando já muitos espécimes para análise laboratorial e posterior identificação. Surpreendido com a dimensão da jazida e com a riquíssima diversidade que a mesma regista, Pedro Correia refere que esta nova jazida de plantas fósseis do Gzheliano inferior (Pensilvaniano superior) descoberta em Ermesinde, constitui uma nova janela para o conhecimento da Paleobotânica do Paleozóico português.

    PATRIMÓNIO

    PALEONTOLÓGICO RARO

    AGUARDA PROTEÇÃO

    DAS ENTIDADES

    COMPETENTES

    Em fase de conclusão da dissertação de Doutoramento, o investigador Pedro Correia acrescenta que as novas plantas fósseis de idade do Pensilvaniano superior (Carbonífero Superior, 300 milhões de anos) de origem continental, que foram descobertas na cidade de Ermesinde, correspondem a uma nova jazida fossilífera representada por uma flora autóctone, rara, bastante diversificada e igualmente bem preservada em xistos argilosos, finos e compactos. As camadas fossilíferas encontram-se estratigraficamente intercaladas com níveis de fácies arenítica de origem fluvial e conglomerados (estes últimos estão no topo da bacia sedimentar). Todo o conjunto estratigráfico está materializado numa grande complexidade geológico-estrutural.

    FLORA RARA,

    DIVERSIFICADA

    E DE GRANDE PORTE

    Embora longe de saber qual a verdadeira dimensão do número de espécies existentes, Pedro Correia refere que neste primeiro estudo paleobotânico foi possível elencar um conjunto de espécies florísticas do tipo Pteridófita, identificadas no campo. Assim, nas Calamitales regista-se grande número de espécimes colhidos/encontrados dos géneros Calamites, Annularia, Asterophyllites, Calamostachys, Sphenophyllum, entre outras. Sobre os Fetos arborescentes, identificam-se várias espécies dos géneros Pecopteris, Callipteridium, Alethopteris, Neuropteris, Odontopteris, Sphenopteris, Pseudomariopteris, Nemejcopteris, Polymophopteris, (mais raros) Eusphenopteris, Oligocarpia, Lobatopteris, Dicksonites, Gondomaria, entre outros.

    De realçar ainda nas Coníferas Cordaitales, a existência de grande número de espécimes Cordaites.

    FAUNA: NOVOS

    INVERTEBRADOS

    (ARTRÓPODES)

    PARA A CIÊNCIA

    Podendo desde já afirmar que, dos espécimes recolhidos, a sua esmagadora maioria corresponde a Pteridófitas (fetos), o trabalho de campo efetuado possibilitou já a identificação de novos insetos. A descoberta de um fóssil com a asa de inseto da Ordem Paleodictyoptera (grupo ancestral/primitivo das libélulas atuais) de grande porte, com 10 a 12 cm de comprimento, mais que uma surpreendente revelação, representa um novo táxon para a ciência.

    PALEOAMBIENTE,

    PALEOCLIMA

    E PALEOGEOGRAFIA

    De acordo com o paleobotânico do Centro de Geologia da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, a presente área em estudo mostra-nos um Paleoambiente constituído por uma flora rica e de grande porte (muitas das espécies tais como as Calamites e Cordaites atingiram os 30 metros de altura), evidenciando um clima húmido-tropical. No Período Carbonífero, a Península Ibérica encontrava-se em latitudes baixas perto do equador, durante o qual coincidiu com a amalgamação final do Pangeia.

    Desta forma e na qualidade de deputado à Assembleia Municipal de Valongo, na sessão de 28 de fevereiro apresentei à Assembleia a aprovação de uma Recomendação (*) para a imediata sinalização, delimitação e guarda de toda a área em estudo, possibilitando assim que em tempo útil, este inegável património paleontológico possa ser defendido, estudado e valorizado.

    Por: José Manuel Pereira

    (*) [Nota de Última Hora de “A Voz de Ermesinde”]: A Recomendação referida foi aprovada por unanimidade na sessão de ontem da Assembleia Municipal de Valongo.

    Nesta sessão José Manuel Pereira fez referência a outro investigador – Artur Sá, da Universidade de Trás-os--Montes e Alto Douro (UTAD) – que terá manifestado igualmente a preocupação por que não fosse delapidado este rico património natural da cidade de Ermesinde e concelho de Valongo.

    Finalmente, uma última palavra ainda da responsabilidade da Redação de “A Voz de Ermesinde” para esclarecer que não se revê em qualquer ato de recolha dos fósseis depositados na referida jazida, ainda que com o sentido de os preservar, fazendo votos para que a decisão tomada na sessão de ontem da Assembleia Municipal de Valongo, realizada em Campo, efetivamente permita, de imediato, a salvaguarda deste património.

     

     

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