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    Arquivo: Edição de 10-07-2011

    SECÇÃO: Especial


    XVIII FEIRA DO LIVRO DO CONCELHO DE VALONGO

    Narrativas... sobre mitos e sobre telas

    Fotos URSULA ZANGGER
    Fotos URSULA ZANGGER
    O jornal “A Voz de Ermesinde” promoveu, no passado dia 2 de julho, e em colaboração com a Biblioteca Municipal de Valongo, no quadro da XVIII Feira do Livro do Concelho de Valongo, uma conversa com a investigadora Maria Emília Traça e a escultora Luísa Gonçalves, a propósito do tema “As Lendas na Literatura Infanto-Juvenil”, tema este que vinha a propósito do livro “A Lenda da Serra da Estrela”, de Maria José Meireles, e de outros livros de lendas publicados pela mesma autora, e das ilustrações que o pintor José Emídio criou a propósito desta obra.

    Aliás, um e outro destes autores foram anunciados como participantes deste debate, mas por razões diversas (Maria José Meireles de momento retida na Turquia e José Emídio em trabalho no Sul), acabaram por não poder estar presentes.

    Após agradecimentos de Fernanda Lage, diretora de “A Voz de Ermesinde” a ambas as conferencistas, Maria Emília Traça deu início à sua palestra com a ideia da importância crucial da narrativa. «A narrativa começa com a própria história da Humanidade» e é anterior à escrita, sublinhou.

    «Dai-nos Senhor, a nossa história de cada dia», implorou, mostrando que esta é a própria vida. A narrativa é «uma central de guiões», descreveu ainda, numa linguagem muito atual.

    Citando Carlos de Oliveira, lembrou que a Literatura Popular é um «tesouro ao sol», e decompôs depois esta riqueza nas várias vertentes que a enformam: romanceiro, cancioneiro, poesia popilar, adivinhas, provérbios, contos (a que tem dedicado o seu estudo), lendas...

    De todas estas formas, as lendas serão das menos estudadas, ocupando um estatuto de fronteira entre o popular e o erudito e constituindo um contraponto com o mito.

    As fontes populares da lenda podem ser orais (e fez aqui a primeira referência a José Leite de Vasconcelos, um dos maiores investigadores portugueses no domínio da Etnografia, de que é um pioneiro histórico).

    A lenda está permeada quer com factos quer com a imaginação, e vai sendo reconstruída ao longo dos tempos.

    Entre os seus estudiosos apontou depois Maria Emília Traça, estão nomes como (além do próprio José Leite de Vasconcelos, já referido), Gentil Marques, Fernanda Frazão, Teófilo Braga, Isabel Cardigos.

    Esta última recolheu já cerca de 2 200 lendas e estes investigadores têm também proposto várias estruturas de classificação.

    Mais recentemente apareceram também as lendas urbanas (como as do roubo de órgãos), e há lendas que surgem num local, que reproduzem fielmente outras muito mais antigas originárias doutro local (como a da menina que aparecia no baile e afinal estava morta há muito tempo (um mito recolhido recentemente, no século XX, mas que corresponde inteiramente a uma lenda inglesa recolhida já durante o século XV.

    As lendas progridem por isso também no espaço.

    De seguida Maria Emília Traça debruçou-se mais especificamente sobre a Lenda da Serra da Estrela, apontando que esta era já referida em José Leite de Vasconcelos, ocupando pouco mais do que umas linhas e enquadrada no ciclo das povoações desaparecidas.

    Gentil Marques refere também a mesma lenda, mas agora já com uma narrativa de seis ou sete páginas, enquanto em Fernanda Frazão ocupa cerca de uma página. Gentil Marques insere-a num conjunto de lendas religiosas, e Fernanda Frazão situa-a geograficamente na zona da Guarda. Mas curiosamente, a edição de “A Lenda da Serra da Estrela” de Maria José Meireles é uma edição apoiada pela Câmara Municipal da Covilhã (já no distrito de Castelo Branco).

    Aqui a narrativa está insuflada, mas não é gratuita, referindo a autora vegetação, lugares, a geologia da serra, tecidos e outras referências simbólicas. A lenda surge também permeada de mensagens de natureza positiva, mas não moralistas.

    A PALESTRA

    DE LUÍSA GONÇALVES

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    Luísa Gonçalves, amiga de José Emídio, começou por apresentar o pintor (autor da ilustração de “A Lenda da Serra da Estrela”, edições Húmus), nascido em Matosinhos, «do que faz muita questão», sublinhou graciosamente.

    José Emídio não é um ilustrador, precisou desde logo Luísa Gonçalves, e a sua abordagem da obra era diferente da de um ilustrador.

    E referindo-se depois à reprodução de textos medievais, invocou as iluminuras (sublinhando o étimo que liga a palavra ao ato de esclarecer, de fazer luz sobre as coisas, de dar lustro, de iluminar uma outra visão possível do texto inicial).

    Recordou depois a narrativa através de imagens, por vezes também anteriores escrita, por exemplo nas paredes. E de seguida descreveu então os processos de trabalho de José Emídio relativamente à obra: este tomou conhecimento da lenda e depois, conforme a sua leitura e interpretação próprias, dela retirou sugestões e pormenores que integraram uma obra plástica sua.

    O editor só então, terá pegado na obra de José Emído, para, por sua vez, e segundo um critério próprio, escolher, nas suas pinturas o que lhe pareceu material adequado à ilustração do livro. E para tornar mais claro o pensamento criativo do pintor, Luís Gonçalves leu então um texto do próprio José Emídio, enviado a propósito.

    VISITA GUIADA

    À EXPOSIÇÃO

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    Luísa Gonçalves dirigiu depois a audiência ao segundo andar do Fórum Cultural de Ermesinde onde se encontrava exposta a obra de José Emídio referente ao tema das Lendas.

    Aí referiu as técnicas mais usadas pelo pintor – no caso a aguarela, embora tamém usasse outras, como o acrílico, mas tratado ainda em jeito quase de aguarela, mas também o lápis, por exemplo. De qualquer modo, o autor não desenhava previamente, mas pintava sempre os seus motivos.

    A aguarela, juntou ainda a conferencista de ocasião e escultora Luísa Gonçalves, permitia jogos de transparência e opacidade muito interessantes na ilustração.

    A audiência acompanhou ávida estas explicações e aqui e ali solicitou um outro esclarecimento mais.

    A exposição lá ficou, no segundo andar do Fórum.

    Por: LC

     

     

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