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    Arquivo: Edição de 15-02-2009

    SECÇÃO: Cultura


    A paixão pela vida e a dicotomia da morte aos olhos de Moita Flores na Biblioteca Municipal de Valongo

    Fotos MIGUEL BARROS
    Fotos MIGUEL BARROS
    Nem o frio nem a chuva foram motivos suficientes para impedir que a Biblioteca Municipal de Valongo (BMV) regista-se “casa cheia” para receber a visita do conceituado investigador criminal e escritor Francisco Moita Flores na noite do passado 3 de Fevereiro. Inserida na cada vez mais popular rubrica cultural “Os Escritores visitam a Biblioteca Municipal...” a conferência desta ilustre personalidade foi precedida de um pequeno mas agradável momento musical levado a cabo pelos alunos do 2º ano do curso de música da Escola Superior de Educação Jean Piaget (Vila Nova de Gaia). Com alguns – largos minutos de atraso em relação à hora prevista, em virtude de ter ficado “prisioneiro” das estações de televisão que ali se encontravam a fim de trocar umas breves palavras consigo, Moita Flores encarou o público que o aguardava de forma impaciente e curiosa no auditório da BMV com uma simplicidade e simpatia extrema que desde logo desculparam o atraso que provocou ligeiros sintomas de desespero em alguns rostos da audiência.

    Contrariamente ao que se esperaria o presidente da Câmara de Santarém – o mais recente desafio profissional de Moita Flores - não bombardeou o público com relatos sobre as suas obras, «já é muita terra lavrada», aludiu numa perspectiva de que o resultado da sua relação com a escrita vem de longe e por consequência por todos sobejamente conhecido. Optou antes por falar dos sonhos, da morte... da vida, do prazer com que esta última deve ser encarada.

    E por falar em sonhos, e apoiando-se na célebre frase de António Gedeão de que “o sonho comanda a vida”, começou por recordar os seus tempos de menino, os tempos em que tinha o sonho, ou melhor, dois sonhos, ser detective e escritor. Sonhos que anos mais tarde acabariam por ser realidade, «eu acreditei que o sonho comanda a vida e que esta é construida por sonhos. Por isso nunca deixem de sonhar, não desistam dos vossos sonhos, lutem por eles, não deixem que uma crise vos impeça de sonhar, arregacem as mangas e enfrentem a dita crise e não se rendam a ela», incentivou Moita Flores numa altura em que a palavra “crise” ganha à escala mundial contornos cada vez mais alarmantes.

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    Profissional de créditos firmados na área da investigação criminal este alentejano de berço falou da dicotomia da morte, ou seja, da morte olhada do ponto de vista científico e da morte vista da perspectiva humana. Durante anos lidou de perto com a morte sob o ponto de vista científico, estudando cadáveres, tentando decifrar crimes, desconhecendo o outro lado da morte, o da perda de alguém importante, o choro, a saudade pela partida de um corpo. Visão esta que se tornou mais clara para si aquando da morte da sua mãe, «a morte não é fim da pessoa mas sim a ausência de um abraço, dos beijos...», recordou. E como a vida é bem mais curta do que muita gente julga «há que não deixar que coisas insignificantes e adjectivas nos impeçam de amar a vida. Há que viver com paixão toda a nossa vida independentemente da idade». Assumidamente um apaixonado pela vida Moita Flores confessou em Valongo que não são os seus livros, nem os prémios que já venceu, nem as eleições que já ganhou que o tornam feliz, mas sim a capacidade de amar os seus, frisando que nada o deixa mais feliz do que ver a felicidade estampada no rosto dos seus filhos e netos.

    Ao invés de uma conferência dedicada na integra aos livros publicados por este homem os presentes saíram da BMV com uma verdadeira lição de como deve ser encarada a vida. Veio mesmo a calhar a julgar pelos dias de desânimo que pintam o nosso quotidiano.

    Sobre livros muito pouco foi falado, a não ser uma ou outra evocação a esta ou aquela personagem de um seu romance, como por exemplo Dona Antónia Ferreira, a popular Ferreirinha, magnata do Vinho do Porto, sobre quem Moita Flores escreveu uma obra (“A Fúria das Vinhas”) e um guião para uma série de TV (“A Ferreirinha”), uma mulher que em toda a sua vida... amou a vida. Até na – sua - ficção Moita Flores foi buscar exemplos de como nos devemos agarrar à vida com paixão e determinação.

    Por: Miguel Barros

     

     

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