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Edição de 30-04-2024
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    Arquivo: Edição de 30-05-2007

    SECÇÃO: Destaque


    Fotos MANUEL VALDREZ
    Fotos MANUEL VALDREZ

    Henrique Queirós Rodrigues: «Recordo que se definiu como primeira prioridade nacional a luta contra o insucesso escolar»

    Durante cerca de 10 anos ele foi o rosto do Centro Social de Ermesinde, instituição que, sob a sua Direcção, foi ganhando cada vez mais capacidade de prestação de serviços, notoriedade, e prestígio na vida da comunidade.

    Em muitos aspectos das práticas e da orientação estratégica que levou a cabo, o Centro Social de Ermesinde assumiu mesmo uma posição pioneira, aliás reconhecida pelos seus pares no seio da UDIPSS do Porto e mesmo da Confederação Nacional.

    A conversa que tivemos com Henrique Queirós Rodrigues procurou aflorar este período da vida do Centro Social, os seus desafios e dificuldades e, por outro lado, fazendo o ponto da siituação, lançar os olhos em frente e abordar também, ainda que pela superfície, os novos desafios.

    As circunstâncias e o modo de vida na nossa comunidade exigem hoje do Centro Social respostas cada vez mais proactivas e eficazes no que respeita ao combate às misérias sociais, tarefa que só pode ser feita atacando a montante as razões da exclusão – no domínio da acção social, da saúde, mas também, e muito, na educação.

    Tais motivos levaram a que um novo projecto – “Ermesinde Cidade Aberta” brotasse agora do Centro Social.

    Recorda como, há cerca de 10 anos, foi convidado para liderar o Centro Social, num período em que este se defrontava com enormes dificuldades para levar a bom porto o enorme desígnio de pôr de pé o lar da terceira idade, objectivo muito dificultado pelas dificuldades financeiras. A necessidade de apoios à população idosa tinha começado naturalmente a fazer-se sentir nesta comunidade tão populosa e concentrada como é hoje a cidade de Ermesinde. Ainda muito recentemente se ouviu o cónego João Peixoto a referir-se a esta como «a maior paróquia do país».

    Desbloqueada a questão dos custos, o equipamento de grande porte que veio a ser o Lar de S. Lourenço marcou e mudou decisivamente a vida do Centro Social de Ermesinde.

    Vencida que foi a batalha da edificação do Lar de S. Lourenço, em todos os seus aspectos, não apenas no que respeita ao edifício e às infra-estruturas subjacentes, era imperioso que o Centro Social se mobilizasse para soluções que privilegiassem a qualificação e fossem também fonte de motivação para os seus colaboradores.

    De facto, tendo o número de efectivos do Centro Social de Ermesinde crescido muito em número, era imperativo garantir que os prestadores de cuidados aos idosos os soubessem acolher da melhor forma, bem assim como melhorar a qualificação de todos os efectivos do Centro nas suas actividades com outras pessoas assistidas pela instituição ou com crianças.

    Neste período de 10 anos, reconhece Henrique Queirós Rodrigues, o envolvimento e a motivação dos trabalhadores do Centro Social foi sempre melhorando e é hoje muito boa.

    Em toda a gestão do Centro Social se desenvolveram e aplicaram princípios de transparência, expressos em muitas práticas, por exemplo, no recrutamento de pessoal, que é feito sempre através de concurso concorrencial. Outro exemplo é o facto de o lar permanecer todo o dia sempre aberto às visitas, até às 22 horas.

    PRIORIDADE

    À QUALIFICAÇÃO

    À EDUCAÇÃO

    E À FORMAÇÃO

    PROFISSIONAL

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    As preocupações com a qualificação levaram, nesse domínio, à celebração de um protocolo de parceria com a Universidade Católica.

    Também do ponto de vista externo e na prestação de serviços, se começou a dar cada vez mais importância à formação profissional destinada a públicos carenciados, sendo essa uma área em que a instituição vem apostando cada vez mais.

    Houve também a preocupação de tornar o Centro Social de Ermesinde uma voz influente na União Distriatal das IPSS, ajudando a definir as suas políticas e objectivos.

    Também ao nível da sociedade mais geral, Henrique Queirós Rodrigues reconhece que se foram aperfeiçoando as políticas no âmbito da solidariedade social e que, de uma maneira geral, o diálogo com as tutelas governativas se pautou, no fundamental, por uma postura de colaboração.

    Do ponto de vista histórico, um período mais difícil ocorreu durante o Governo de Durão Barroso e, actualmente, em sua opinião mais por uma questão de falta de tradição na área, do que propriamente má vontade, essa colaboração continua a ser mais difícil nos domínios da Educação e da Saúde do que no domínio da Solidariedade Social.

    E no que respeita à vida e gestão do Centro Social, um outro aspecto em que se impõem medidas arrojadas deriva do facto de se fazerem sentir cada vez mais as restrições à aquisição de novos equipamentos e de ter cessado o tempo dos financiamentos públicos. Isso obrigou a instituição a pensar em soluções que assegurassem um mínimo de recursos e garantissem a sua sustentabilidade.

    A somar a isto, as próprias mudanças na sociedade implicaram que o Centro Social se começasse a debruçar sobre novos modos de intervenção. E como se deveria sempre preservar um princípio de proximidade, não afastando demasiadamente dos decisores a intervenção no terreno, e ainda como um crescimento excessivo seria sempre negativo, optou-se antes por constituir uma nova instituição, pensando o Centro Social como um grupo. Este teria uma espécie de organismo de cúpula para assegurar a concertação do trabalho nos vários sentidos.

    Claro que neste domínio há dificuldades, dado que, em vista de se tratar de uma prática pioneira, não existe ainda legislação adequada que possa contemplar a expansão do sector social (como acontece no sector empresarial, por exemplo).

    Naquilo que, por sua vez, para Henrique Queirós Rodrigues, é como que o fechamento de um ciclo iniciado há 10 anos com o impulso decisivo para a concretização do Lar da Terceira Idade, a primeira tradução concreta dessa experiência de desdobramento é a recém-criada instituição “Ermesinde Cidade Aberta” [um nome cujo contorno felliniano acertadamente conduz a colocá-la precisamente na área da criação artística].

    COMBATE

    À DEFICIÊNCIA

    E AO INSUCESSO

    ESCOLARES

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    De facto serão objectivos da instituição o apoio à população com deficiência e o combate ao abandono e ao insucesso escolar, trabalhando para melhorar os níveis de motivação para a permanência na escola, fomentando o gosto pelo ensino e pelas práticas de aprendizagem.

    Esta perspectiva estratégica vem, aliás, de encontro àquilo que o próprio Presidente da República, e além dele, também responsáveis governativos, muito recentemente definiram como sendo a principal prioridade do País: a luta contra o abandono e o insucesso escolar.

    A experiência-piloto da “Ermesinde Cidade Aberta” irá desenvolver-se tendo como local privilegiado da actividade o edifício do antigo cinema de Ermesinde, recentemente adquirido pelo Centro Social de Ermesinde e que será requalificado tendo em vista os objectivos a que se destina. A sua escolha é feliz por vários motivos, primeiro porque o antigo cinema se situa em pleno coração da zona escolar de Ermesinde, a meio caminho, por um lado, da Escola Secundária e da EB 2, 3 de S. Lourenço e Escola da Costa, e por outro da Escola do Carvalhal, segundo porque é um espaço construído de raiz para actividades de cinema e teatro, as mesmas ou afins – sobretudo as artes do espectáculo – daquelas em que ali se pretende agora fomentar a aprendizagem (Teatro e Cinema, mas também Música, Dança, Artes Plásticas...).

    O projecto só pode ser entendido num enquadramento com a participação activa das escolas, absolutamente essenciais no diagnóstico e acompanhamento dos alunos portadores de deficiência (para os quais, à partida – no quadro das actividades ocupacionais – se privilegiam as práticas e a aprendizagem ligadas às Artes Plásticas) ou para os alunos sinalizados com sintomas de insucesso escolar.

    Estas actividades entendem-se ainda no âmbito do enriquecimento curricular, sendo dirigidas sobretudo, ao menos nesta fase de instalação da “Ermesinde” Cidade Aberta”, ao Ensino Básico, e ainda ao Secundário.

    Mas pelo seu contorno, tratar-se-á também de um serviço de grande interesse para a comunidade como tal, ultrapassando em muito o âmbito meramente escolar.

    Não podendo haver ainda uma definição muito miúda do projecto, este terá que avançar, necessariamente, também com a celebração de protocolos com as escolas especializadas nas áreas de ensino que se pretende promover e, evidentemente, com as escolas de Ermesinde a cujo população escolar se destina o projecto, sendo que a simples existência de um espaço físico onde as actividades de extensão curricular possam ocorrer será, só por si, um benefício para as escolas, muitas vezes carenciadas de espaços onde se possam desenvolver essas e outras actividades.

    Do ponto de vista do suporte financeiro do projecto há ainda muita coisa para acertar, sabendo-se que, de qualquer modo, os financiamentos do Estado nunca poderão assegurar a maior parte do projecto.

    Mas há, de qualquer modo, boas perspectivas, reforçadas pelas recentes declarações de Fernando Medina (secretário de Estado do Emprego e Formação Profissional) aquando da apresentação do Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN) 2007-2013, que salientou claramente a ideia de que o insucesso escolar não era problema da escola [mas de toda a sociedade].

    Aliás o QREN é bem explícito, ao definir, a dado passo: «A possibilidade de promover a qualidade das aprendizagens e os níveis de certificação associados ao progressivo, embora ainda insuficiente, crescimento dos anos de escolarização, remete para a necessidade de consolidar um quadro mais diversificado ao nível dos percursos de educação e formação, assegurando um maior ajustamento destes a trajectórias intermédias de inserção no mercado de trabalho».

    Uma outra área em que o Centro Social começa também a envolver-se significativamente é a da qualificação ambiental, de que é exemplo o recente projecto a que se associou, da requalificação das margens do Leça. [Recorde-se que será da responsabilidade do Centro a utilização do moinho a recuperar situado nas margens do Leça, junto dos terrenos da antiga Resineira].

    De tudo isto, a ideia fundamental a reter, segundo Henrique Queirós Rodrigues, era a de que o Centro Social tinha que estar na primeira linha da prestação de serviços, sem medo em inovar, quando tal fosse o caminho.

    Por: LC

     

     

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