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    Arquivo: Edição de 30-08-2006

    SECÇÃO: Crónicas


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    MATAI-VOS UNS AOS OUTROS

    O grande mercado mundial

    Quem havia de dizer que aquela coisa inventada, há já uns milénios, para facilitar as trocas, ou seja um simples instrumento de troca, se transformou num instrumento que acciona toda a dinâmica do desenvolvimento da Humanidade? Um estímulo da evolução que, com a ajuda da técnica, levou à globalização actual: o dinheiro, o vil metal.

    Será este o estímulo certo que leva ao caminho certo?

    Em nome duma igualdade de oportunidades e da livre concorrência, privatizar é inquestionável, é a palavra de ordem e transfere-se o património empresarial dos Estados para a posse dos grandes grupos financeiros com a venda das acções na Bolsa de Nova Iorque, Frankfurt, Londres, Tóquio e nas principais praças financeiras do mundo. O privado é que é bom, a gestão empresarial é que resolve tudo, é que está na moda. Com esta cantiga, privatiza-se tudo. Até os serviços públicos se transformam em empresas e, para realizar qualquer evento, funda-se uma empresa.

    Ilustração RUI LAIGINHA
    Ilustração RUI LAIGINHA
    Na Europa Social, muitos partidos socialistas, sociais democratas de cariz socialista, metem o Socialismo na gaveta para seguirem os novos princípios que o Capital mundial impõe através da CE (Comissão Europeia), em nome dum novo conceito democrático neoliberal normalizado e fiscalizado pela OSCE (Organização para a Segurança e Cooperação Europeia). Por esse novo conceito, não poderá existir democracia sem livre concorrência, sem Economia de Mercado e sem livre circulação do capital. Definem-se assim novos parâmetros e conceitos democráticos de acordo com os interesses dos grandes grupos económicos. Quem não os seguir, com poucas excepções, passa a fazer parte do Eixo do Mal que é preciso converter ou abater. Atente--se que foi durante o Governo do PS, que mais se privatizou e destruiu o património empresarial do Estado, em Portugal. Um autêntico atentado à ideologia socialista.

    O aliciamento que leva os políticos às privatizações é encherem os bolsos graças ao saque aos dinheiros públicos. Transformar empresas em dinheiro que não se vê nos cofres do Estado mal guardados, pois no meio de tanto milhão encaixado, sobram sempre alguns trocos pelo caminho.

    Os grandes grupos financeiros estão sempre presentes nos locais em que possam captar lucro. Dos seus observatórios perscrutam a rentabilidade por todo o planeta. Procuram lucros, oportunidade de negócios por todo o lado. Em tudo o que dê lucro lá estão eles a investir. Tanto investem em Portugal como na Tailândia ou até na China, pois o que é preciso é oportunidade de lucro, seja lá aonde for. Para isso querem as fronteiras abertas e arrumar alguns escolhos, como seja a renitência de alguns países socialistas e alguns fanáticos do Islão, processo já em curso. Não querem perder nada nem que tenham de perverter tudo. Nada os detém na obtenção do rendimento, nem que tenham de perverter mesmo a moral, os bons princípios em nome duma modernidade oca e de certas liberdades que transformam em libertinagens de grande rentabilidade.

    Reestruturam serviços sociais e hospitais, transformando-os em empresas e os doentes em clientes/consumidores. Não escapam os sentimentos das pessoas, as suas intimidades, fazendo das suas vergonhas grandes negócios, pervertendo o sentimento mais nobre do ser humano em simples sexo.

    Até o desporto que movimenta importantes verbas, como é o caso do futebol, não escapa à cobiça capitalista que vê ali grandes oportunidades de negócio. A influência degeneradora do capital é evidente e muitos clubes passam a ser geridos por sociedades desportivas (SAD) com acções sujeitas à especulação bolsista. Certa terminologia desportiva não escapa à influência comercial das SAD como: debitar (marcar um castigo) ou facturar e capitalizar (ter vantagem ou marcar golos), etc.. Os interesses especulativos de cariz comercial sobrepõem-se ao desporto, desvirtuando-o na sua essência. Tudo é explorado, tudo é espremido até ao máximo, tudo é negócio e a corrupção, a desconfiança e as guerras entre clubes instalam-se.

    INTERNACIONALISMO DO CAPITAL

    O Capital que, no passado, apoiava o nacionalismo exacerbado dos anos trinta, uma barreira à expansão soviética, agora, livre deste perigo, internacionaliza-se também e segue a dinâmica da esquerda internacionalista, combatendo também o nacionalismo, o patriotismo exacerbado e até a força conservadora e moralizadora da Religião, que se apresentam como grandes escolhos no caminho imparável da globalização. Uma política que tem desorientado os menos esclarecidos da Esquerda que continuam a ver o grande capital transnacional unido à direita conservadora que apodam de Nazismo/Fascismo. Nada de mais desactualizado. É que o nacionalismo fecha fronteiras que se querem agora abertas; o patriotismo protege a indústria nacional, criando grandes obstáculos ao seu controlo e a Religião não dá lucro e apresenta-se como um sério obstáculo ao culto hedónico-materialista que leva ao consumismo, à degradação moral dos povos necessária à expansão do negócio do jogo, da droga e do sexo que, a par do armamento, são dos negócios mais rentáveis do mercado global. Por aqui se compreende muita coisa. É que os valores do espírito não dão lucro, não levam ao consumismo.

    O que é preciso é materializar, hedonizar, cultivar os valores materiais, o consumismo delirante, a nova religião que se pratica nos grandes templos dos hipers e shoppings que cercam as cidades, substituindo as Igrejas, nos feriados e domingos. Os mentores da globalização veneram o dinheiro. Para eles, Deus é capitalista e o Diabo é socialista e, para conquistarem os crentes, até apregoam que a Globalização é uma manifestação do Espírito Santo. Assim, seguindo o exemplo do Cristianismo que, nos seus primórdios, cristianizou as festas pagãs, as festas religiosas são agora convertidas à Economia, em festas consumistas e ainda se criam novos dias de consumo, importados da metrópole americana, com vista à compra da prenda, como o dia de S.Valentim (dia dos namorados), o dia das Bruxas, o dia disto e daquilo. O Natal, festa da Natividade, passa a ser a grande festa do consumo, quando os novos templos se enchem de gente ávida de tudo, na compra de inutilidades natalícias que vão alimentar as imensas lixeiras e agravar ainda mais o já grave problema da poluição do planeta. Mas a poluição também é um grande negócio, o Negócio da Despoluição que leva desperdícios altamente tóxicos e perigosíssimos, como os provenientes de centrais nucleares, para países pobres do terceiro mundo Tudo dá dinheiro e lucro!

    Num contexto deste tipo, o comportamento das pessoas muda para viver em função do que pode comprar, do seu poder de compra que estabelece as classes sociais baseadas na possidência. A nobreza de carácter, os sãos princípios, a própria educação são secundarizados para dar lugar ao exibicionismo ridículo, à vaidade oca, ao vazio cultural, à ostentação do trapo de marca, qualidades estas que levam ao consumismo e à exibição e valorização de marcas e etiquetas, tornando-se joguetes, marionetas da moda.

    Pelo estímulo irresistível do consumo e bem- -estar, a economia de mercado e o neoliberalismo económico triunfam e o mundo transforma-se então no Grande Mercado Mundial onde os fluxos financeiros, graças ao AMI ou MAI (Multilateral Agreement of Investment), correm dum lado para outro em busca de negócios e lucros. Nada se poderá opor a este desígnio do capital, a esta onda globalizadora e massificadora. As massas rendem-se à “massa”, ao dinheiro, o novo deus venerado e desejado, pois dele tudo depende. Por ele se perde a dignidade e se cometem os piores crimes e corrupções, mas é ele que dá as coisas que trazem a felicidade efémera, porque a eterna é duvidosa.

    Por: Reinaldo Beça

     

     

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