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Edição de 31-03-2024
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    Arquivo: Edição de 30-08-2006

    SECÇÃO: Local


    Médio Oriente em debate da JCP

    Um convívio, que integrou um jantar ligeiro confeccionado e servido no próprio local, também assinalou a conclusão da primeira fase das obras de recuperação do centro de trabalho do PCP, levada a cabo na primeira quinzena de Agosto.

    Na primeira parte da conferência-debate Miguel Urbano Rodrigues (MUR) centrou a sua intervenção nos motivos da agressão de Israel ao Líbano, há muito planeada e a que o alegado rapto dos soldados israelenses serviu apenas de pretexto (o orador preferiu designar os cidadãos de Israel por israelenses, em vez de israelitas, pois, como explicou, este último termo refere-se aos membros de uma confissão religiosa – o judaísmo – que está longe de ser generalizada em Israel.). Paulo Marques referiria mais tarde, que os referidos soldados tinham sido capturados quando se encontravam dentro de um carro de combate a bombardear uma zona residencial, sendo por isso prisioneiros de guerra e não "raptados".

    Situando Israel na posição de guarda avançada dos interesses dos Estados Unidos no Médio Oriente, MUR explicou que a agressão ao Líbano tinha em vista não só liquidar o Hezzbolah, como sobretudo servir de ensaio geral para um eventual ataque terrestre ao Irão. Este país, detentor de vastas reservas de petróleo e gás natural, está ultimamente na mira do imperialismo americano pois, além de continuar a desenvolver o seu programa nuclear para produção de energia necessária à sua indústria e às necessidades quotidianas da população, planeia abrir em Teerão uma bolsa de petróleo em que a moeda dominante seria o euro, o que vai contra os interesses hegemónicos dos EUA. O conferencista falou, a propósito, da sua recente viagem pelo Irão, que o surpreendeu como país muito civilizado e desenvolvido, com 70 milhões de habitantes, um poderoso exército e um povo disposto a lutar pela sua liberdade contra qualquer ataque. Salientou ainda que, após o fracasso israelense no Líbano, apesar de ter semeado a destruição e morte no país vizinho, será muito mais difícil aos EUA e ao seu aliado sionista qualquer acção contra o Irão.

    PREPARAR A GUERRA

    A agressão de Israel ao Líbano, bárbara e cruel, como a classificou, encontrou pela frente um adversário – o Hezzbolah – altamente treinado e bem armado, que obrigou o todo poderoso exército israelense a bater em retirada, deixando no terreno centenas de mortos e grande quantidade de material.

    Esta inesperada resistência, conduzida eficazmente pelo Hezzbolah, pelo Partido Comunista Libanês e por outras forças patrióticas, unidas num mesmo objectivo, frustrou os objectivos dos invasores e dos seus mentores e financiadores americanos.

    Entre os factores que pela primeira vez irromperam neste conflito, conta-se o facto de Israel se ter visto obrigado a evacuar centenas de milhares de pessoas das zonas de fronteira com o Líbano, para as colocar a salvo dos mísseis lançados com mão certeira pelo Hezzbolah.

    Miguel Urbano Rodrigues falaria ainda da América Latina e dos complexos processos políticos e sociais anti-imperialistas que aí se desenvolvem, salientando o avanço da Revolução Bolivariana na Venezuela, que parece agora colocar-se numa perspectiva de algum modo socialista, analisando os sucessos e dificuldades da Revolução Cubana e abordando ainda o complexo processo chinês.

    Relativamente à China, MUR considera tão "disparatados" os comentários de alguns analistas que considerou pretensamente de esquerda, sobretudo americanos, que acusam o processo de desenvolvimento chinês de restauração do capitalismo puro e duro, como outros, mesmo alguns amigos sinceros da China, que vêm no processo uma espécie de "novo sol" do socialismo na Terra. A propósito deste grande país, MUR referiu um tema que lhe é caro e que designa como "o movimento longo da História", para concluir que o processo ali em curso se destina a desenvolver e a melhorar a vida do povo chinês, que levará decerto muitas dezenas de anos e dele se desconhece de todo o desfecho.

    VISITA À CISJORDÂNIA

    Na sua intervenção, Paulo Marques, da JCP, contaria de forma simples e cativante algumas experiências da sua recente estadia na Cisjordânia, onde participou no Festival da Juventude, ilustrando o relato com episódios da vida quotidiana das populações palestinianas geralmente desconhecidos do público europeu. Quis salientar a pobreza extrema em que vive a maioria da população, a falta de condições sanitárias, a dificuldade dramática de abastecimento de água potável, as crianças que vão para a escola mas não chegam lá, porque ficam retidas nos check points e são mandadas para trás, o muro com que Israel pretende impedir a todo o custo a constituição de um Estado Palestiniano – em cuja construção e por ironia do destino, muitos palestinianos são obrigados a trabalhar, pois necessitam de ganhar o pão de cada dia. Algumas situações relatadas são verdadeiramente caricatas, como, por exemplo, as 5 ou 6 horas necessárias para percorrer uma estrada com 30 km, mas semeada de check points, onde os soldados israelitas fazem parar cada automóvel pelo menos meia hora…pois, os check points não existem apenas nas fronteiras entre Israel e a Palestina, mas são montados por Israel dentro do próprio território palestiniano.

    O debate foi aceso e semeado de polémica – como polémica era toda a temática abordada e prolongou-se interessadamente pela noite dentro.

    Por CARLOS COUTINHO/AVE

     

     

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