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Edição de 31-03-2024
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    Arquivo: Edição de 30-04-2006

    SECÇÃO: Crónicas


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    As andorinhas

    Se uma andorinha não faz a Primavera anuncia a mudança do tempo do frio ao calor.

    Em Soutelo do Douro, assisti à chegada das primeiras andorinhas. Os familiares nem queriam crer! «Já?», dizia a Maria Fernanda, sentada no escano da lareira. «Não as vi no átrio a reconstruírem os ninhos», disse incrédula.

    Pois é, deu para ver: a Helena insatisfeita pela sujidade, durante o crescimento dos filhotes, destruiu os ninhos.

    O Carlos, credor das acções beneméritas das andorinhas, veio apaziguar o desgosto de não ver a alimentação dos filhotes e o pernoitar das aves. Era giro, sair e entrar em casa e sentir o rasar dos voos.

    Observando, mais tarde, os arredores logo ouvi do Carlos:

    – Vão fazer novos ninhos no armazém aberto!

    Ilustração RUI LAIGINHA
    Ilustração RUI LAIGINHA
    Vendo as máquinas inertes à espera da vindima, protegidas só pelo telhado metálico, observei, na parede caiada do fundo o principiar dos alicerces, lama de ninhos!

    Fiquei contente. O Carlos que já pode continuar a tirar, em Dezembro, azeitona para a talha (conserva) das oliveiras próximas, pois as cochonilhas vão atacar pouco os frutos, e devemos pensar nos milhões de insectos, principalmente borboletas, que as andorinhas consomem. Que o diga a Helena, ao limpar os detritos das antigas crias, na tijoleira da entrada.

    Na aldeia transmontana onde cresci, não havia andorinhas. Seriam as casas e os campos que não cativavam? Seriam turistas de passagem?

    Foi preciso um período de grande estiagem para se abrirem os primeiros poços de rega do milho, feijão, batatas e beterrabas, e virem a reter as aves passageiras. Pois bem, o poço do Rodrigues, situado nas Pereiras, perto da famosa fonte de chafurdo da Tenaria, foi o primeiro a ter andorinhas.

    Foi um regalo vê-las entrar e sair do poço; espreitar os ninhos, e ver as avezinhas de bico aberto à espera da cibata, era melhor do que ir ao cinema (teatro)!

    As andorinhas passaram a ser tão familiares que entravam e saíam, enquanto sentado nos tabuões da abertura do poço!

    Foi preciso frequentar o liceu de Vila Real para ouvir o dr. Godinho, professor de Ciências Geográfico--Naturais, dizer:

    – Já viram a chegada das andorinhas? Vi as primeiras ontem, no passeio pela Vila Velha e Atrás do Cemitério.

    Em diálogo com alunos mais observadores das aves de arribação, privilégio dos nascidos nas aldeias, concluiu os tipos de habitats das andorinhas, rolas e cucos, bem como os benefícios e acções ecológicas dos seres vivos.

    No furo (borla) de uma aula, consegui, com a colaboração do Zé da Cunha e a anuência do contínuo Marques, sair pelo portão do fundo do recreio e ir, a correr Atrás do Cemitério de S. Dinis, ver as primeiras andorinhas do ano!... A linda paisagem do Monte da Forca, e a confluência dos rios Corgo e Cabril, nem sequer reteve o olhar. O azul do céu e o branco-negro das andorinhas deliciou a alma!

    Por: Gil Monteiro

     

     

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