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Fotos FERNANDA LAGE/LUÍS LAGE |
Uma dádiva dos céus
Sempre gostei de partilhar as coisas boas com os meus amigos; por isso hoje, 15 de Fevereiro de 2006, não resisto... Feche os olhos... e siga-me.
De momento a momento ouve-se um bater muito leve na vidraça, aqui e ali caem flocos de neve, muito leves, que a terra absorve.
Uma nuvem envolve agora a montanha, fica suspensa e com ela a minha atenção.
A nuvem sobe, sobe e de repente é atravessada por um raio de sol que transforma as gotículas suspensas das árvores em coloridas bolinhas que deslizam ao longo dos frágeis rebentos.
A nuvem sobe, sobe, e de repente, como num acto de magia, desaparece, mas a neve continua a cair numa cadência cada vez maior.
O chão está completamente branco, dum branco imaculado em que, de onde a onde, brilham pequenos cristais que mais parecem pequenos brilhantes distribuídos com a elegância de uma jóia.
E os flocos dançam, rodam, rodopiam, mais e mais, agora formam uma cortina contínua e a sua cadência aumenta, provocam-me, convidam-me a entrar no bailado, e a minha cabeça rodopia, rodopia, atravessa o rio, corre atrás das nuvens. … Por fim, depois de tanto dançar, caem cansados, na terra, nas ervas, nas árvores, nos muros, nas casas.
A neve cai cada vez com mais intensidade, cada vez mais e mais ….
Ervas, arbustos e árvores são agora rendas de extrema delicadeza, e as pedras do rio, e aquele castanheiro que não aguenta o peso e se dobra até tocar o chão!...
O vento mudou, os flocos aumentam de tamanho e intensidade, a neve continua a cair e vai-se acumulando, os muros estão recobertos, desenhados por uma película branca, alguns têm uma leve inclinação de acordo com a direcção do vento.
Muros, marcas, divisórias, limites. Mas esta sensação de liberdade não pode ter limites, os muros são apenas marcas que organizam o espaço e eu salto-os, transponho-os, volto e revolto a saltá-los.
Sempre fui assim, nunca me conformei com fronteiras, limites, quando sonho…
Por:
Fernanda Lage
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