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    Arquivo: Edição de 30-01-2006

    SECÇÃO: Arte Nona


    O homem que saiu da cova

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    Criado por Hector Oesterheld e Alberto Breccia em 1962, “Mort Cinder”, é uma das mais importantes séries de banda Desenhada de que há memória, quer pelos contornos narrativos fantásticos, quer pelos recursos gráficos nela despendidos.

    Sendo já ambos os autores desaparecidos, Oesterheld, “desaparecido” mesmo literalmente em 1977, aquando da ditadura argentina que nunca lhe terá perdoado o argumento de “Che” (desenhos de Alberto e Enrique Breccia), e Alberto Breccia, mais recentemente em 1993, a oportunidade desta referência a Mort Cinder (que sempre se justificaria, de resto, pela importância nos dois no panorama da Banda Desenhada mundial, é reforçada pela edição portuguesa, a cargo das edições Asa, surgida recentemente, em Junho de 2005.

    Esta edição da Asa, baseada numa edição de 2002 a cargo da Vertige Graphic, vale pelo extremo cuidado formal com que foi preparada. Num absolutamente imperdível prefácio de Latino Imparato, o autor explica a todos os leitores a conjuntura pessoal difícil atravessada por Oesterheld e mais ainda de Alberto Breccia e as dificuldades que se depararam a este na altura de definir melhor os contornos da personagem de Mort Cinder que Oesterheld tinha deixado, em parte, aberta para ele, ao contrário do que era a sua prática habitual como argumentista.

    É pois neste contexto de busca e aperfeiçoamento da figura de Mort Cinder – o morto vivo –, que Breccia vai ajudando a desenvolver a estória, atrasando o mais possível a entrada em cena do principal protagonista, cuja silhueta, e a negro e de costas, apenas surge à vigésima-segunda prancha. O verdadeiro protagonista acaba então, nesta fase inicial, por ser Ezra Winston, «filho e neto de antiquários» e negociante experimentado e conhecedor nessas matérias.

    A pesquisa de Breccia, se foi demorada, não foi em vão, pois além de lhe permitir caracterizar bem as expressões, fisionomia e o carácter graficamente expressivo originalmente pensado por Oesterheld, permitiu-lhe também realizar um grande número de pesquisas no domínio da expressão puramente plástica, e de que são exemplos o uso das superfícies generosas de preto e branco, as texturas, com emprego de tecidos, borracha, carimbos, e mesmo as ferramentas utilizadas. Imparato refere, por exemplo, o uso, além das habituais ferramenta de desenhador, penas, espátulas, etc., de outras menos ortodoxas, como por exemplo, lâminas de barbear.

    O resultado de tudo isto é, forçosamente, uma grande frescura e originalidade gráfica assente em técnicas que permitiram a expressão de novos ambientes e a definição mais apurada das personagens.

    Outra questão que pesou, esta de forma negativa, na difusão de “Mort Cinder” – de qualquer modo uma série que chamou internacionalmente a atenção e que deu origem a numerosas traduções – foi a da hesitação dos editores da revista em que “Mort Cinder” se estreou, o semanário argentino “Misterix”, que deciriam, após onze números de publicação, mudar de formato.

    Assim, dessas pranchas do “Misterix”, quarenta e sete apresentam um formato à italiana (deitadas) e trinta e quatro à francesa (ao alto).

    Isso originou diculdades na divulgação da obra de Oesterheld e Breccia e na primeira edição de “Mort Cinder” conhecida na Europa, da Serg, em 1974 – conta-nos ainda Latino Imparato no soberbo prefácio – as quarenta e sete pranchas horizontais foram remontadas na vertical.

    Para isso fez-se uso de algumas barbaridades, denuncia ainda o autor da prefácio da presente edição, cujo cuidado metodológico assenta, em primeiro lugar, na tentativa de resgate, com absoluto respeito pelo original.

    Entre os artifícios usados para impor o formato vertical, usou-se a manipulação de vinhetas, aumentadas umas, outras redesenhadas, pelo menos em parte. Pormenores de vinhetas serviram para criar novas, «a maior parte das vezes sem relação com o desenvolvimento da história», para «assegurar a verticalidade das pranchas».

    E terá sido esta primeira edição europeia a dar origem a muitas reedições posteriores, que reproduziram assim os erros introduzidos.

    É então este título inicial da série Mort Cinder – “Os Olhos de Chumbo”, na qual se revela o aparecimento da personagem que vive em todas as épocas – que será depois explorado com mestria pelos seus autores, e que nos leva à cidade de Londres, à loja de um já idoso antiquário.

    Por: LC

     

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