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    Arquivo: Edição de 30-11-2005

    SECÇÃO: Tecnologias


    Cimeira sobre a Sociedade da Informação – ronda tunisina (1)

    Todos sabemos do impacto da Internet no cenário sócio-político-económico mundial. Alguns afirmam que a Internet é uma aldeia global, e de certa forma ela é. Porém, como em toda a aldeia, existe muito ainda a ser decidido. Se por um lado ela abriu novos mercados e modos de comunicação, pelo outro gerou cybercrime, pirataria e outros assuntos problemáticos.

    Com esse objectivo, a ONU propôs uma discussão sobre o assunto, a WSIS (World Summit of Information Society - Cimeira Mundial da Sociedade da Informação), com a participação de todos os países-membros da ONU.

    Vários temas tratados nessa cimeira são importantes e polémicos, envolvendo assuntos como a Inclusão Digital, Governação Electrónica, Cybercrime, Pedofilia, Racismo, Software Livre, Copyright, Multiculturalismo e Desenvolvimento Sustentável.

    A primeira ronda, em Genebra, já mostrava que a discussão seria complicada. De um lado, os Estados Unidos e os países do G8, querendo limitar a discussão da WSIS às questões do cybercrime, copyright e tarifas. Já um outro bloco, formado pelo Brasil e alguns países do chamado G20 (o bloco dos países em desenvolvimento), incluindo China, Índia e África do Sul, procurando descentralizar o poder da Net e propor ideias para Multiculturalismo, Inclusão Digital (principalmente fugindo do modelo tradicional e usando soluções livres e baseadas em formatos abertos).

    O debate foi acirrado, mas no final das contas o grupo do G20 foi bem sucedido na colocação de ideias como a descentralização do controlo da Internet e outras.

    A última ronda, realizada entre os dias 16 a 18 de Novembro de 2005, foi o tira-teimas e, no melhor dos casos, poderia ter representado um grande avanço ou uma grande mudança de rumos para a internet.

    Vamos resumir alguns pontos que podem não estar muito claros para a maioria das pessoas.

    GOVERNAÇÃO ELECTRÓNICA

    A ideia por trás da Governação Electrónica é que cada país possa gerenciar os seus tráfegos de Internet, ao mesmo tempo em que nenhum deles detenha o seu controlo absoluto.

    Os problemas nesse caso chamam-se DNS (Domain Name Services - Serviços de Nome de Domínio) e ICANN (Internet Corporation for Assigned Names and Numbers - Corporação para a distribuição de nomes e números de Internet). Falemos primeiro de DNS.

    Esse sistema, o DNS, funciona como uma espécie de “agenda telefónica” que traduz nomes de sites legíveis por pessoas (como www.google.com.br) para números IP que os computadores possam usar para procurar tais páginas (como 64.233.187.104). Para evitar a sobrecarga num único servidor, ele é construído de uma maneira que cada um dos domínios (cada trecho antes de um ponto) seja descentralizado. Antes do último domínio (nesse caso, o “.br”), existem servidores chamados root servers (servidores raiz) que são o início de tudo, onde as pesquisas começam.

    O grande problema é que os root servers actualmente são 10, sendo que destes, 7 são americanos, dos quais 4 são militares. Os outros 3 estão na Alemanha, na Suíça e no Japão.

    Parece não ser grande problema, mas bastaria, por exemplo, um desses países apagar a entrada para o domínio de um país em guerra (por exemplo, o domínio .br), e aquele país ficaria isolado, ou ao menos MUITO mais difícil de ser alcançado.

    As sugestões, principalmente do G20, foram de que esses root servers sejam distribuídos, espalhados pelo mundo, ajudando na descentralização. Isso impediria que uma exclusão americana pudesse afectar o sistema como um todo, já que uma das características do DNS é ser redundante (tradução: ter os mesmos dados em todos os sistemas). Ou seja, uma “remoção” tem que ser feita em todos os root servers. Com o controlo saindo das mãos dos EUA, isso com certeza seria muito difícil.

    O outro problema é o ICANN, Internet Corporation for Assigned Names and Numbers (Corporação para a distribuição de nomes e números de Internet), uma organização norte-americana que controla o fornecimento dos domínios nacionais já citados e dos números de IP.

    Os Estados Unidos não abriram mão de deter o controlo dessa organização, alegando “questões de segurança”, mesmo com a sugestão de passar esse controlo para uma organização pan-nacional, como o ITU (International Telecommunication Union - União Internacional de Telecomunicações), órgão ligado à ONU que já trata da questão de telecomunicações, com padronizações em vários sectores relacionados.

    O principal medo dos outros países é que os americanos comecem a usar o seu poder no ICANN para actuarem como Grande Irmão (referência a 1984 de George Orwell), o que, considerando-se a actual “Guerra contra o Terror”, não seria de estranhar.

    Há o perigo de que uma decisão intransigente americana possa romper a estrutura da Internet como a conhecemos, isolando os EUA do mundo e vice-versa, com cada país criando variações da Internet individuais, talvez ligadas entre si, mas sem o alcance global da Internet como a conhecemos.

    Outro problema envolvido na Governação Electrónica está relacionado com o Multiculturalismo, ou a existência de conteúdo e funcionamento da Internet em idiomas diferentes do inglês ou com alfabetos não latinos (como o Hindi ou Gujarati do Indiano, o Cirílico do Russo e os caracteres japoneses e chineses). Há um crescente interesse pelo uso do sistema IDN – Internationalized Domain Names (Nomes de Domínio Internacionalizados), mas os americanos evitam falar do assunto, alegando que complicaria tecnologicamente o sistema DNS, além de tornar complexo o acesso para americanos. Porém, a alegação é recíproca por parte de países que usam idiomas com alfabetos não-latinos ou até mesmo com alfabetos com acentos, como Portugal. É que deixar de fora os seus alfabetos ou acentos locais fere o respeito pela cultura de um povo. Além disso, o facto de o IDN utilizar sistemas técnicos já reconhecidos tem derrubado a barreira da complexidade. De facto, alguns países, como a Grécia, Alemanha e Brasil, já adoptam domínios IDN.

    (c)2005 BrainCommons (http://bardo.cyaneus.net/braincommons/)

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    Texto adaptado por “A Voz de Ermesinde”. O original foi escrito antes da realização da ronda tunisina da Cimeira.

     

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