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    Arquivo: Edição de 30-11-2005

    SECÇÃO: Destaque


    8ª MOSTRA INTERNACIONAL DE TEATRO

    Foto URSULA ZANGGER
    Foto URSULA ZANGGER

    Kafka em miniatura

    O segundo dia do MIT constituiu uma maravilhosa surpresa para o público que se deslocou ao Fórum Cultural de Ermesinde.

    A noite foi, desta vez, preenchida com os trabalhos de marionetas do Là Où Théatre (a cargo de Renaud Herbin), a que se juntou a música electrónica de Morgan Daguenet (do colectivo Mils), que tem colaborado com Renaud Herbin, a quem acompanhou na peça “Mitoyen”, a primeira da noite.

    Os três espectáculos deste dia foram, curiosamente, dispersos por três espaços diferentes, tendo sido o primeiro, “Mitoyen”, apresentado no auditório do Fórum Cultural. Quando o espectáculo se inicia, Renaud Herbin, de gatas, suporta sobre as costas uma prancha de cor vermelha onde existe uma abertura rectangular, por onde depois irão irromper a cabeça, um braço e uma marioneta. A manipulação desta e todo o movimento do corpo do actor/marionetista é realizada ao som da música electrónica executada (e composta?) por Morgan Daguenet, a um ritmo muito lento. Resulta daqui uma tensão poética, que é salientada pela própria movimentação e rosto da marioneta.

    Apresentado como «poema introspectivo acerca da vida de um Homem na cidade, que vagueia entre os limites de ele mesmo e os outros», “Mitoyen” encantou os presentes com a sua atmosfera intimista.

    “BERTUF”

    O mesmo Morgan Daguenet que acompanhou Herbin, apresentou depois ao público do MIT, no espaço onde se realizaram os espectáculos de café-concerto, “Bertuf” – uma obra de música electrónica e cinema digital, onde convivem animação e imagem real.

    A música evoca coros enquanto a imagem de uma árvore desenhada vai a pouco e pouco ficando coberta de neve e escondendo os seus frutos. Com a música a aquecer, volta o calor, os frutos reaparecem, há uma estranha personagem de ET que se entranha na terra para a fertilizar e dos frutos entretanto renascidos, num deles, em imagem real, reaparece a cidade, e uma personagem cujo vulto é visível por trás olhando a uma varanda. O ciclo recomeça.

    “UN RÊVE”

    O terceiro espectáculo da noite (embora para alguns dos espectadores tivesse sido o segundo, pelo motivo que explicaremos a seguir), decorreu na galeria museológica do Fórum, o que acrescentou, com esse simples facto, mais algum encanto à apresentação da obra.

    Como o espaço era muito pequeno, o que aliás era necessário para uma boa fruição do espectáculo – de marioneta miniatura –, os espectadores foram divididos em três grupos que se revezaram na “visita” à galeria.

    Obra de arte notável, “Un Rêve”, baseado num texto do imortal Franz Kafka, é uma obra de marioneta que combina a manipulação das personagens com uma projecção video, tudo isso num pequeno espaço trapezoidal que ajuda a dar a sensação de perspectiva.

    O pesadelo da personagem de Kafka é aqui reconstituído de uma forma maravilhosa e encantatória, de que se recordam, por exemplo, o fio de areia que o soterra ou a sua agitação na cama. O desenho de cena é notável. Os espectadores do MIT puderam assim aperceber dimensões inauditas na ideia do espectáculo de marioneta, graças ao talento e sensibilidade refinada de Renaud Herbin.

    Sem dúvida, um dos momentos mais altos do MIT.

    FICHA TÉCNICA

    Concepção e manipulação: Renaud Herbin

    Dramaturgia: Erwan Tanguy

    Construção de marioneta: Paulo Duarte

    Som: Morgan Daguenet

    Imagens: Nicolas Lelièvre

    Técnico de audiovisual: Flavien Théry

    Acompanhamento artístico: Uta Gebert, Stéphane Rouxel e Julika Mayer

    Produção: LàOù

    Por: LC

     

     

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