Uma volta pelo Porto
Passar pelas ruas da cidade do Porto, e ao observarmos as casas e as pessoas, tomamos consciência dos “cheiros e sabores” do burgo. É tão gostoso como ver um filme na TV ou nos cinemas dos shoppings (mesmo com os ruídos das pipocas)!
Já sentiram o prazer em descobrir uma janela, talhada em granito, bonita e nunca “vista” antes?, apesar de tantas vezes calcorreada a rua?! E os portais e as clarabóias dos prédios, vistas nas casas baixas de primeiro andar, e por vezes com águas furtadas formosas?!. Voltar--se a habitar tais casas seria óptimo, após a modernização dos interiores. Lembro o tempo de estudante em que se ocupava um quarto alugado nessas casas, tanto nas ruas do Bonjardim, Picaria e Pinheiro, e até na rua das Musas(!), onde havia um artista alfaiate a talhar capas para estudantes! Os jovens devem ser convidados a ocupar a baixa Portuense, logo que as casas ou as residências sejam arranjadas a preceito!
Os saudosos das aldeias agrícolas podem cultivar os quintais ou cuidar das sardinheiras, craveiros e roseiras, nos beirais das janelas ou nas sacadas.
Já repararam na riqueza dos ferros-forjados das varandas? Desfrutá-los, por quem passa no passeio, é um prazer. Iria dizer: os desenhos e os volumes dos ferros ornamentados são, grosso modo, tão belos como os arabescos das construções mouriscas.
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Ilustração RUI LAIGINHA |
Num sábado passado, antes de entrar no comboio na estação de S. Bento a caminho do Pinhão, para ir ao encontro das vindimas de Soutelo do Douro, tive tempo e propósito de poder andar a pé de Paranhos a S. Bento. Ó que linda manhã de um lindo Sábado!
Só quando deixei a Praça do Marquês, com o Metro em contraponto e a “moderna” Igreja, e entrei na rua do Bonjardim, comecei a ver um filme na pantalha do horizonte!
As casas, quase todas ocupadas, onde algumas mercearias expunham os produtos à porta, tinham o ar da alta da Cidade, mas a entrarem em declínio lento. Após a rua do Paraíso, eram outras cenas com transeuntes, uma farmácia fechada e pouco mais, dois cães passeavam sem donos. O trânsito automóvel era zero.
Ao atravessar Gonçalo Cristóvão começou o baque. O restaurante Ginjal estava desactivado e outros estabelecimentos de madeiras e drogarias seguiram o exemplo, alguns cafés estavam de portas abertas, mesmo numa manhã sem grande movimento. O mais triste foi ver residências de portas trancadas ou tapadas a tijolos!
Passada a parte mais triste da rua, emparedada pelo grande edifício dos correios inactivos, entramos na parte mais agitada, onde os turistas (internos e externos) começam a tomar conta dos espaços e, quando em Sampaio Bruno, fomos ao encontro de um pequeno-almoço (meia de leite e torrada) tivemos que ir para a bicha!
Enquanto esperava, senti alegria: o “nosso” Porto voltará a ser o “moderno” Porto, pois tinha muita gente por perto!
– É preciso dar tempo ao tempo – afirma sempre o Mário, ao meu frenesim de “já ontem ser tarde” e o repovoamento da baixa Portuense não se ver!
A cidade irá ser verdadeiramente revitalizada, assim os portuenses o queiram.
Passei o túnel de S. Bento, com tempo de ver os bonitos e sujos grafitis, e entrei na Estação. Mas só com o bilhete de viagem, jornais e revistas fui ver os painéis decorativos do átrio. Os azulejos de Jorge Colaço dão azo à imaginação criadora. Tudo ali se pode ver, na calmaria do sobrar de minutos de espera para o embarque, e até as observações são mais eloquentes!
Um senão: os painéis ou os relevos decorativos deviam representar mais o Douro vinhateiro e menos o Douro litoral ou Minho (talvez defeito de apreciar os da estação do Pinhão).
Ao rever os túneis e o interior da Gare reparei que, por cima das portas de saída, estava escrito “inaugurada em 1910”, logo pensei:
– Viva a República!
Por:
Gil Monteiro
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