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Edição de 29-02-2024
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    Arquivo: Edição de 30-10-2005

    SECÇÃO: Crónicas


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    Uma volta pelo Porto

    Passar pelas ruas da cidade do Porto, e ao observarmos as casas e as pessoas, tomamos consciência dos “cheiros e sabores” do burgo. É tão gostoso como ver um filme na TV ou nos cinemas dos shoppings (mesmo com os ruídos das pipocas)!

    Já sentiram o prazer em descobrir uma janela, talhada em granito, bonita e nunca “vista” antes?, apesar de tantas vezes calcorreada a rua?! E os portais e as clarabóias dos prédios, vistas nas casas baixas de primeiro andar, e por vezes com águas furtadas formosas?!. Voltar--se a habitar tais casas seria óptimo, após a modernização dos interiores. Lembro o tempo de estudante em que se ocupava um quarto alugado nessas casas, tanto nas ruas do Bonjardim, Picaria e Pinheiro, e até na rua das Musas(!), onde havia um artista alfaiate a talhar capas para estudantes! Os jovens devem ser convidados a ocupar a baixa Portuense, logo que as casas ou as residências sejam arranjadas a preceito!

    Os saudosos das aldeias agrícolas podem cultivar os quintais ou cuidar das sardinheiras, craveiros e roseiras, nos beirais das janelas ou nas sacadas.

    Já repararam na riqueza dos ferros-forjados das varandas? Desfrutá-los, por quem passa no passeio, é um prazer. Iria dizer: os desenhos e os volumes dos ferros ornamentados são, grosso modo, tão belos como os arabescos das construções mouriscas.

    Ilustração RUI LAIGINHA
    Ilustração RUI LAIGINHA
    Num sábado passado, antes de entrar no comboio na estação de S. Bento a caminho do Pinhão, para ir ao encontro das vindimas de Soutelo do Douro, tive tempo e propósito de poder andar a pé de Paranhos a S. Bento. Ó que linda manhã de um lindo Sábado!

    Só quando deixei a Praça do Marquês, com o Metro em contraponto e a “moderna” Igreja, e entrei na rua do Bonjardim, comecei a ver um filme na pantalha do horizonte!

    As casas, quase todas ocupadas, onde algumas mercearias expunham os produtos à porta, tinham o ar da alta da Cidade, mas a entrarem em declínio lento. Após a rua do Paraíso, eram outras cenas com transeuntes, uma farmácia fechada e pouco mais, dois cães passeavam sem donos. O trânsito automóvel era zero.

    Ao atravessar Gonçalo Cristóvão começou o baque. O restaurante Ginjal estava desactivado e outros estabelecimentos de madeiras e drogarias seguiram o exemplo, alguns cafés estavam de portas abertas, mesmo numa manhã sem grande movimento. O mais triste foi ver residências de portas trancadas ou tapadas a tijolos!

    Passada a parte mais triste da rua, emparedada pelo grande edifício dos correios inactivos, entramos na parte mais agitada, onde os turistas (internos e externos) começam a tomar conta dos espaços e, quando em Sampaio Bruno, fomos ao encontro de um pequeno-almoço (meia de leite e torrada) tivemos que ir para a bicha!

    Enquanto esperava, senti alegria: o “nosso” Porto voltará a ser o “moderno” Porto, pois tinha muita gente por perto!

    – É preciso dar tempo ao tempo – afirma sempre o Mário, ao meu frenesim de “já ontem ser tarde” e o repovoamento da baixa Portuense não se ver!

    A cidade irá ser verdadeiramente revitalizada, assim os portuenses o queiram.

    Passei o túnel de S. Bento, com tempo de ver os bonitos e sujos grafitis, e entrei na Estação. Mas só com o bilhete de viagem, jornais e revistas fui ver os painéis decorativos do átrio. Os azulejos de Jorge Colaço dão azo à imaginação criadora. Tudo ali se pode ver, na calmaria do sobrar de minutos de espera para o embarque, e até as observações são mais eloquentes!

    Um senão: os painéis ou os relevos decorativos deviam representar mais o Douro vinhateiro e menos o Douro litoral ou Minho (talvez defeito de apreciar os da estação do Pinhão).

    Ao rever os túneis e o interior da Gare reparei que, por cima das portas de saída, estava escrito “inaugurada em 1910”, logo pensei:

    – Viva a República!

    Por: Gil Monteiro

     

     

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