Nadir Afonso no Fórum Cultural de Ermesinde
Nadir Afonso formou-se em Arquitectura. Companheiro do arquitecto Lanhas na Escola de Belas Artes do Porto, participou com ele em algumas exposições. Esta situação levou-me a perguntar-lhe qual a sua relação com a arquitectura e muito especialmente com arquitectos pintores e pintores arquitectos.
– Nunca fui arquitecto, o Lanhas foi. Eu fui sempre pintor. Tirei o curso de Arquitectura por engano.
Eu vou contar-lhe:
– Eu vim de Chaves matricular-me na Escola de Belas Artes do Porto. Conhece a escola? Pois, eu cheguei àquele átrio que tem uma escadaria e encontrei dois contínuos meios sonolentos, um de cada lado da escadaria. Dirigi-me a um deles e lá lhe mostrei o meu requerimento para entrar na Escola de Belas Artes no curso de Pintura. O homem olhou-me, e disse:
– O senhor tem o curso completo dos liceus e que ir para Pintura? Com o curso completo dos liceus vai-se para Arquitectura, mandou-me comprar um novo impresso e eu fiz um novo requerimento a pedir para me inscrever em Arquitectura e assim lá acabei o curso, mas fui sempre pintor.
Participou nas "Exposições Independentes", colectivo formado no Porto, onde, em 1943, o grupo se deu a conhecer.
No catálogo da exposição em Coimbra o grupo explica a designação de independentes: «as exposições não estão comprometidas com nenhum dos "ismos" em que porventura enfileirem, individualmente e divergentemente, os jovens artistas».
A fotografia que acima se publica é um documento histórico do grupo, e foi publicada na “Portucale” n.º 2, de Dezembro 1966.
Datando as primeiras ideias e desenhos de Arte Abstracta de Fernando Lanhas de 1942 e 43, em 1947, a "Exposição Independente" tem já um caracter francamente abstraccionista, mostrando trabalhos de Nadir Afonso, Artur da Fonseca, Gariso do Carmo, Arlindo Rocha e Fernando Lanhas.
Em 1946 estuda Pintura na École des Beux Arts em Paris e consegue uma bolsa de estudo do Governo francês.
– Mas mesmo assim trabalhou para os arquitectos Oscar Niemeyer e Le Corbusier...
– Apenas como trabalho. Nunca deixei de ser pintor.
Regressa a Paris em 1954 depois de ter trabalhado com Niemeyer no Brasil.
Reconhecido como pintor da vanguarda da arte mundial, expõe na Galeria Denise René e no Salon des Realités Nouvelles.
Nos finais dos anos 60 viu finalmente a sua obra consagrada através do Prémio Nacional de Pintura 1967 e do Prémio Sousa Cardoso 1969.
É de um Homem como Nadir Afonso, que já faz parte da História da Pintura, a exposição "Cidades", que se encontra no Fórum Cultural de Ermesinde até 30 de Abril de 2005.
TEXTO: FERNANDA LAGE
FOTOGRAFIA: MANUEL VALDREZ
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