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Edição de 31-03-2024
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    Arquivo: Edição de 15-03-2005

    SECÇÃO: Destaque


    DIA INTERNACIONAL DA MULHER

    A opressão existe

    Neste 8 de Março de 2005 gostaria de lembrar as mulheres afegãs através dos seus "landays", que segundo Sayd Bahodine Majrouh, poeta conhecedor da poesia do seu país, aparentemente são gritos sem sentido, mas escondem uma linguagem secreta feminina que serve para expressar discursos de ódio, amor, erotismo ou escárnio.

    Segundo o mesmo autor são vozes secretas, proferidas à revelia, e dirigidas aos homens e à cultura masculina dominante.

    A originalidade dessa poesia popular é a presença activa da mulher, é ela a autora destes cantos.

    A mulher afegã suporta todos os sacrifícios da lida doméstica, desde o transporte da água, tratar dos filhos, cozinhar, tratar dos animais, triturar os cereais, fazer o pão, fiar a lã, fazer a roupa, secar o estrume, regar as culturas, todos esses trabalhos são bem aceites. Nas suas cantorias as mulheres nunca se referem a esse trabalho quase de escravas.

    O que estes cantos realçam são o aspecto moral da sua servidão, «sente-se reprimida, injuriada, um ser de segunda ordem. Desde o berço é acolhida com tristeza e vergonha, uma vergonha que não poupa a mãe que dá à luz uma filha» (1). Ao contrário, o nascimento de um filho do sexo masculino é sempre festejado.

    O marido da mulher afegã não se digna partilhar a refeição com ela.

    Num país onde as raparigas são objecto de troca e é a política tribal quem decide o seu casamento, é curioso analisar alguns desses "landays".

    «O destino deu-me por esposo uma criança que eu educo

    Mas quando ele for grande e forte, eu já serei velha e fraca»

    «Gente cruel que vedes um velho me levar para a sua cama

    E perguntais-me porque choro e me arranco os cabelos»

    «Ó meu Deus, envias-me de novo a sombria noite

    E de novo tremo da cabeça aos pés porque tenho de entrar no leito que odeio»

    Ou então a forma como se dirigem aos seus amantes no maior dos segredos:

    «Na noite escura que nos separa

    Com uma tocha na mão, procuro o meu caminho»

    «Ó meu Deus podes cegar-me hoje!

    Não quero ver mais rostos: o meu amante partiu»

    «Ó Deus, une-me a ele, nem que seja só um instante

    Como um relâmpago passageiro nos sombrios braços das nuvens» (2)

    (1), ( 2) “A Voz Secreta das Mulheres Afegãs – O Suicídio e o Canto”

    Sayd Bahodine Majrouh.

    Versão portuguesa de Ana Hatherley.

    Por: Fernanda Lage

     

     

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