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Edição de 30-11-2024
Jornal Online

SECÇÃO: Ciência


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A paisagem alentejana

Neste mês de novembro voltamos a ter o prazer de partilhar um texto do prestigiado professor, e geólogo, Galopim de Carvalho.

O Alentejo, com a sua vastidão de planícies douradas e um clima caracteristicamente seco, é uma das regiões mais emblemáticas de Portugal. Durante décadas, a falta de recursos hídricos foi um dos maiores entraves ao desenvolvimento agrícola e económico da região, perpetuando desigualdades e limitando o potencial produtivo do território. No entanto, com a construção da Barragem do Alqueva, o panorama alentejano transformou-se significativamente, marcando um antes e um depois na história da região.

A água é um recurso indispensável à vida e à sustentabilidade ambiental. A sua disponibilidade em quantidade e qualidade adequadas é crucial, como sabemos, para atividades humanas como a agricultura, a indústria, e o consumo doméstico. Num mundo cada vez mais afetado pelas alterações climáticas, a gestão eficiente da água tornou-se uma prioridade global, especialmente em regiões suscetíveis a períodos de seca prolongada, como é o caso alentejano.

Historicamente, a região enfrentou desafios constantes devido à escassez hídrica. As culturas de sequeiro, como os cereais, eram dominantes, mas a sua produtividade estava à mercê de um clima incerto e de solos pobres. A ausência de sistemas de regadio significativos limitava a diversificação agrícola, comprometendo a sustentabilidade económica das comunidades locais.

A construção de barragens, como a do Alqueva, veio responder a estas necessidades, ao armazenar grandes quantidades de água para fins de rega, abastecimento público e produção de energia. Este recurso armazenado, quando devidamente gerido, assegura maior estabilidade em períodos de seca e abre novas possibilidades para o desenvolvimento económico e social.

Esta transformação não só aumentou o rendimento das explorações agrícolas como também gerou mais emprego e atraiu investimentos para a região. O Alentejo tornou-se um exemplo de modernização agrícola, com a introdução de tecnologias avançadas de rega e técnicas de gestão sustentável. Com a água vieram os grandes empreendimentos, em que passamos a ter uma agricultura intensiva, muitas vezes questionável do ponto de vista ambiental.

Apesar dos inegáveis benefícios, a gestão da água do Alqueva deve ser feita com precaução, tendo em conta as mudanças climáticas e os desafios ambientais. A intensificação agrícola, se não for devidamente regulada, pode levar a problemas como a salinização dos solos, a poluição dos lençóis freáticos e a redução da biodiversidade.

É imperativo que os agricultores (e empresários) e as entidades competentes promovam práticas agrícolas sustentáveis, que equilibrem a produção com a conservação dos recursos naturais. A educação e a sensibilização das comunidades locais sobre a importância da gestão eficiente da água são fundamentais para garantir que o Alqueva continue a ser um exemplo de progresso e equilíbrio ambiental.

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"A NOVA PAISAGEM ALENTEJANA

Relativamente ao clima, exceção feita à grande irregularidade verificada nos últimos anos, o Alentejo (e também o Algarve) caracteriza-se por um clima de características marcadamente mediterrâneas, onde a seara de trigo, o olival, a vinha e o porco alentejano, a “tetralogia mediterrânea”, no dizer de Alfredo Saramago, foram base de uma economia rudimentar, limitada ao todo nacional. Nas últimas décadas, desta tetralogia” apenas o azeite e o vinho têm alcançado desenvolvimentos, com importância considerável na economia nacional e expressão no mercado externo. O porco alentejano, de que falaremos mais tarde, tem uma importância bem mais modesta e a seara de trigo está em via de extinção.

É do domínio comum que a produção cerealífera no Alentejo, tem vindo decrescer substancialmente. Vivemos hoje de trigo importado, na ordem de mais de um milhão de toneladas/ano.

Em contrapartida, o olival, a vinha e, também, o amendoal (uma inovação no panorama agrícola local) ganharam lugares cimeiros na economia desta vasta região do país.

“Uma açorda comida por estes dias dificilmente será confecionada com pão de trigo alentejano. Em contrapartida, a possibilidade de ser temperada com azeite da região aumentou, e muito, nos últimos anos”.

Esta expressiva e feliz frase do jornalista Aníbal Fernandes, do Diário do Alentejo, tem o aroma dos poejos e diz, com palavras a condizer, uma realidade que estamos a viver.

Em aproveitamento da água da barragem do Alqueva, o maior lago artificial da Europa Ocidental, assegurando, em 2022, cerca de 120 mil hectares de regadio”, em crescimento, temos assistido, nos últimos anos, à substituição da “seara de pão”, não só pelo olival (ocupando mais de 70 mil hectares e em crescimento), como também por outras culturas de regadio, como o amendoal (com cerca de 20 mil hectares), o girassol, o milho, as pastagens e as forragens (azevém, luzerna e sorgo).

FALEMOS AGORA DO OLIVAL

O olival de que falam Orlando Ribeiro e Alfredo Saramago é o que hoje chamamos de olival antigo. Antigo, porque há um novo, dito moderno. Em uma trintena de anos, passou-se de um trabalho tradicional, duro, da colheita manual no chão, feita no inverno, para uma colheita mecanizada, onde a azeitona é colhida em verde, sem ser batida, nem cair ao chão, permitindo a produção de azeites de alta qualidade.

Introduzido, na Península, por gregos e fenícios e alargado pelos invasores romano e árabe, o olival a que se referiram os citados autores, resiste, meio disperso na paisagem, com oliveiras, muitas vezes, centenárias e, algumas, milenárias. Foi durante séculos base de uma exploração de

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Por: Luís Dias

 

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