Choramos as mortes revoltados
Depois de onze mortos por alegada falha de assistência do INEM, sindicatos e governo chegaram a acordo para suspender a greve. O direito à greve tem de ser respeitado. Em casos em que se justifique pode ser decidido recorrer à lei para garantir serviços mínimos.
A real possibilidade de a interrupção completa do serviço poder resultar em mortes de cidadãos é motivo suficiente para recorrer a essa proteção legal? Não foi.
Talvez tenhamos que ‘agradecer’ por terem sido sensíveis e repor a assistência para que o número de mortes não fosse maior…
Não há palavras para qualificar. Desprezível, é a palavra mais benevolente que me ocorre.
Lembro que certa vez questionei um governante que se gabava de o número de mortes ter reduzido em percentagem.
Questionei o governante se estaria assim satisfeito com o número de mortes se um dos que morreram fosse um seu familiar. Fiquei sem resposta.
A vida de um cidadão não é um número para uma estatística. Uma morte por falta de assistência é muito grave. Onze mortes é excessivamente grave.
Ao que parece nada aconteceu. Ninguém se demitiu, ninguém dos envolvidos (responsáveis pelo serviço e sindicatos) pediram desculpa pelas onze mortes.
Os únicos a sofrer são os familiares e amigos.
Os únicos que choram somos todos nós, cidadãos comuns. Todos nós. Revoltados. Mas sabendo-nos impotentes. E a recear que um dia nos calhe a infelicidade de precisarmos e morrermos ou ver algum entre querido morrer por não termos aquilo a que temos direito!
Eduardo Costa*
*Jornalista, presidente da Associação Nacional da Imprensa Regiona
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