Mudança de Hora – Necessidade ou Problema?
Duas vezes por ano somos obrigados a acertar os nossos relógios físicos, aqueles que regem o ritmo da nossa sociedade.
No último domingo do mês de março somos obrigados a adiantar os nossos relógios físicos em 1 hora. Vigora então a chamada “hora de verão”.
No último domingo do mês de outubro fazemos o inverso. Vigora então a chamada “hora de inverno”.
Porquê? Para quê?
Este tema é muito controverso. Há quem apoie, há quem conteste. E, na verdade, pessoas de reputada competência científica alinham numa e noutra posição. Pelo que teremos de ser muito humildes e dizer que, qualquer que seja a nossa opinião sobre o assunto, ao nosso lado estará alguém, igualmente competente, com uma opinião contrária.
O autor destas linhas considera-se ferozmente a favor da Mudança da Hora.
O Relógio Biológico. O Ser Humano pertence ao Reino Animal. Somos mamíferos, tal como os gatos ou os bois. Todos os mamíferos – e provavelmente todos os seres vivos à face da Terra – possuem um relógio biológico. Este relógio biológico não é invenção da fantasia. É real e tem nome – Glândula Pineal. Trata-se dum órgão profundamente situado no cérebro que em certas condições – lá iremos – segrega Melatonina.
A Melatonina é a hormona do sono. Faz-nos dormir. Um exercício aos estimados leitores: os que tomam medicamento para dormir, leiam a composição do medicamento. Alguns tomarão Melatonina.
A Glândula Pineal é sensível à luz. Algumas fibras do nervo oftálmico vão parar à Glândula Pineal. A luz inibe o seu funcionamento. Sem Melatonina acordamos. Mas à noite, a falta de luz (falo da luz natural, não a luz dos nossos candeeiros, que baralha completamente este relógio biológico) faz com que a Glândula Pineal produza Melatonina e o sono bate-nos à porta. Não é por acaso que apagamos a luz do candeeiro da mesinha de cabeceira para adormecermos. E já agora, deixemos a persiana do nosso quarto entreaberta para a luz do dia nos acordar, de forma natural, em vez de sermos brutalmente acordados pelo som estridente do nosso despertador…
O Ser Humano é um animal diurno.
As Estações do Ano. Aprendemos nos primeiros anos da escola que há quatro estações: primavera, verão, outono e inverno.
Já não é tão linear percebermos porque é que há estações do ano. Esta explicação extravasa o âmbito deste artigo. Mas sempre se dirá que a Terra move-se em torno do Sol ao longo duma órbita (sucessão das estações) e roda sobre si própria em torno dum eixo que não é perpendicular ao plano da órbita da Terra (sucessão do dia e da noite). Na verdade, este eixo faz com aquele plano um ângulo de cerca de 23 graus. É precisamente este ângulo que dá origem à sucessão das estações do ano.
As estações do ano ocorrem porque ao longo da sua órbita e por causa da inclinação do eixo da terra, o Sol não incide na superfície da Terra sempre da mesma maneira. No período a que damos o nome de verão o Sol incide num ângulo mais próximo da perpendicular e os dias são mais longos. Olhando para o sol ao meio dia, ele está muito alto no céu. O contrário se passa no período a que chamamos de inverno: o sol incide num ângulo mais afastado da perpendicular e os dias são mais curtos. Olhando para o sol ao meio dia, ele está mais baixo no céu.
Dias longos significam noites curtas. E dias curtos significam noites longas, porque tanto no verão como no inverno o dia tem sempre a duração de 24 horas.
Se expusermos a Glândula Pineal – recorde-se, sensível à luz – a condições diferentes de luminosidade no verão e no inverno, é natural que a glândula se comporte de modo diverso.
Há animais que hibernam. Isto é, passam a estação fria e de dias curtos (o inverno) a dormir. Mas o Ser Humano não hiberna. Porém, no inverno vive um pouco mais ao ralenti. E se não dependêssemos dos nossos relógios de pulso e das nossas lâmpadas elétricas – tal como está escrito nos nossos genes – deitar-nos-íamos quando o sol se pusesse e levantar-nos-íamos quando o sol nascesse. Tal como as galinhas…
Mas os nossos relógios físicos vieram impor-nos um ritmo de vida que não está de acordo com o nosso relógio biológico.
A Mudança da Hora. Quando o autor deste texto tinha dez anos e ia para o liceu (hoje escola básica), levantava-se às 7h30m para sair de casa às 8h e estar no liceu às 8h30m. Noite cerrada, com o dia apenas a despontar. O corpo mandava-o estar na cama, o relógio mandava-o ir para a escola. Só a partir das 9h é que era dia a sério.
A verdade é que quem manda nos nossos ritmos sociais é o relógio físico. Mas quem manda no nosso corpo é o nosso relógio biológico e este não é tão fácil acertar como os nossos relógios físicos, em que se carrega nuns botões ou se roda uma rodinha e já está.
A Mudança da Hora surgiu para aproximar tanto quanto possível a hora social da hora biológica.
A Hora de Inverno. Em termos astronómicos o dia nasce mais tarde. Para adaptar a hora social à hora solar atrasamos os nossos relógios físicos em 1 hora. Estamos na cama mais 1 hora. E o autor deste texto iria para a escola já de dia. O corpo estava de acordo com o relógio.
A Hora de Verão. Igualmente em termos astronómicos o dia nasce mais cedo. Para adaptar a hora social à hora solar adiantamos os nossos relógios físicos em 1 hora. Perdemos 1 hora de sono. Mas como é num domingo, a maior parte das pessoas nem se aperceberá disso. É como ir “beber um copo” com os amigos à noite e deitar-se 1 hora mais tarde. Recupera-se nesse mesmo dia.
Na realidade. Era bom que isto fosse assim tão simples. Mas não é.
Há dois grupos sociais que têm dificuldade em acertar o relógio biológico ao relógio social:
(...)
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José Campos Garcia*
*Médico
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