O Violino de Auschwitz
Ao princípio da noite do passado dia 11 de fevereiro, no Auditório da Biblioteca Municipal de Valongo, o violinista e historiador italiano Maurizio Padovan presenteou uma sala cheia com um interessante concerto multimédia que juntou imagens reais e vídeos sobre campos de concentração nazis, com uma palestra bastante atrativa, em termos comunicacionais e de conteúdo, ao som do violino que, de quando em quando, tocou com reconhecida mestria.
Assistiram pessoas de todo o concelho, a vice-presidente da Câmara Municipal de Valongo, e personalidades ligadas à cultura e à música, designadamente da Agorárte – Associação Cultural e Artística, sediada em Ermesinde.
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Maurizio Padovan interpreta uma peça musical no seu violino, lembrando a música do tempo do Holocausto |
QUEM É MAURIZIO PADOVAN?
É um músico, historiador e professor de música e de dança, que nasceu em Milão, Itália. Foi professor de História de dança e de música na Faculdade de Musicologia da Universidade de Pavia-Cremona. Desde 1989 tem estado com alguma regularidade em Portugal, a convite de várias escolas do ensino superior de dança e de música, de diversos Centros de Formação de Professores, de diferentes Câmaras Municipais para dar concertos, cursos de formação e realizar espetáculos de dança. Este contacto frequente com Portugal deu-lhe um bom domínio da língua portuguesa.
Violinista de excelência tem vários discos gravados e centenas de concertos dados em inúmeros países, nomeadamente na Itália, Suíça, Hungria, Áustria, Alemanha, Bélgica, França, Espanha, Portugal e, entre outros, Singapura.
Maurizio Padovan é autor de diversos livros e artigos que versam a História da Música, da Dança e da Etnomusicologia. Em junho de 2019 foi distinguido pelo Movimento Rotário com o Prémio de “Mérito Profissional” com a seguinte justificação: «por ter, com a Música, despertado as consciências para os factos históricos do séc. XX».
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Maurizio Padovan fala de Treblinka um campo de extermínio alemão, na Polónia, onde muitos judeus foram exterminados em câmaras de gás |
O CONCERTO MULTIMÉDIA
Efetivamente o espetáculo a que tivemos o prazer de assistir narrou de forma musicada todo o terror sofrido pelos Judeus (e não só) nos campos de concentração criados pelos nazis, nomeadamente no Campo de Auschwitz (Polónia), onde a música chegou a funcionar, de alguma forma, quer como um elemento libertador, quer como elemento de tortura.
O historiador músico lembrou em linguagem simples, mais incisiva e de grande rigor factual a expansão europeia do fascismo e do nazismo que haveriam de provocar o holocausto iniciado ainda antes da Guerra, mas que com ela se intensificaria, para só terminar com o fim da Guerra na Europa, em maio de 1945.
Recordou a evolução musical e os seus vários veículos de difusão, nomeadamente a rádio, explicando a forma como os ditadores, e também Hitler, souberam utilizar a música ao serviço da sua propaganda.
Falou da forma como Hitler foi dilatando a Alemanha, com as anexações mais ou menos consentidas da parte dos austríacos, sudetas e checos, para depois com a invasão da Polónia começar a pior Guerra que a humanidade conheceu até hoje.
Não se esqueceu de fazer referência às leis raciais nazis que afastaram da sua atividade muitos músicos, cantores, coristas e trabalhadores da cultura musical, só por causa da sua ascendência judaica.
Em resultado da influência nazi, Mussolini foi quase “obrigado” a seguir uma política antissemita, mas, na verdade, nunca atingiu a gravidade que teve nos territórios ocupados pelos nazis, a não ser quando a própria Itália (parte norte) foi ocupada pelos alemães, já no período final desta Guerra.
Em termos de arte, música incluída, os nazis criticaram toda a arte vanguardista que consideraram “degenerada”, chegando ao ponto de organizarem uma exposição de todo o tipo de arte que deveria ser desprezada pelos alemães, que no caso da música até contribuiu para divulgação de alguns géneros musicais que alguns gostaram de ouvir, como o dodecafonismo, o jazz e algumas das músicas que animavam o cabaret berlinense.
A música nos campos de concentração nazis acabaria por assumir «um papel de exaltação do horror e da aniquilação da dignidade humana». Em alguns campos de concentração, como Auschwitz e Mauthausen chegaram a constituir-se orquestras de que eram músicos os próprios presos que, ganhavam mais alguns dias de vida, enquanto iam dando concertos para membros das “SS” ou eram utilizados para marcar o ritmo dos prisioneiros a caminho dos trabalhos forçados ou mesmo a caminho das câmaras de gás.
Em conclusão, foi um concerto multimédia muito bem conseguido. Maurizio Padovan avivou a memória dos horrores que humilharam e mataram milhões de seres humanos inocentes, durante a 2.ª Guerra Mundial, só porque nasceram judeus, ciganos, com limitações físicas e psicológicas ou de raças que Hitler considerava inferiores. É bom que a memória destas atrocidades não se perca, para que tais atos nunca mais se repitam com nenhum ser vivo. MD
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