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    Arquivo: Edição de 28-02-2022

    SECÇÃO: Cultura


    O Violino de Auschwitz

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    Ao princípio da noite do passado dia 11 de fevereiro, no Auditório da Biblioteca Municipal de Valongo, o violinista e historiador italiano Maurizio Padovan presenteou uma sala cheia com um interessante concerto multimédia que juntou imagens reais e vídeos sobre campos de concentração nazis, com uma palestra bastante atrativa, em termos comunicacionais e de conteúdo, ao som do violino que, de quando em quando, tocou com reconhecida mestria.

    Assistiram pessoas de todo o concelho, a vice-presidente da Câmara Municipal de Valongo, e personalidades ligadas à cultura e à música, designadamente da Agorárte – Associação Cultural e Artística, sediada em Ermesinde.

    Maurizio Padovan interpreta uma peça  musical no seu violino, lembrando a música do tempo do Holocausto
    Maurizio Padovan interpreta uma peça musical no seu violino, lembrando a música do tempo do Holocausto

    QUEM É MAURIZIO PADOVAN?

    É um músico, historiador e professor de música e de dança, que nasceu em Milão, Itália. Foi professor de História de dança e de música na Faculdade de Musicologia da Universidade de Pavia-Cremona. Desde 1989 tem estado com alguma regularidade em Portugal, a convite de várias escolas do ensino superior de dança e de música, de diversos Centros de Formação de Professores, de diferentes Câmaras Municipais para dar concertos, cursos de formação e realizar espetáculos de dança. Este contacto frequente com Portugal deu-lhe um bom domínio da língua portuguesa.

    Violinista de excelência tem vários discos gravados e centenas de concertos dados em inúmeros países, nomeadamente na Itália, Suíça, Hungria, Áustria, Alemanha, Bélgica, França, Espanha, Portugal e, entre outros, Singapura.

    Maurizio Padovan é autor de diversos livros e artigos que versam a História da Música, da Dança e da Etnomusicologia. Em junho de 2019 foi distinguido pelo Movimento Rotário com o Prémio de “Mérito Profissional” com a seguinte justificação: «por ter, com a Música, despertado as consciências para os factos históricos do séc. XX».

    Maurizio Padovan fala de Treblinka um campo de extermínio alemão, na Polónia,  onde muitos judeus foram exterminados em câmaras de gás
    Maurizio Padovan fala de Treblinka um campo de extermínio alemão, na Polónia, onde muitos judeus foram exterminados em câmaras de gás

    O CONCERTO MULTIMÉDIA

    Efetivamente o espetáculo a que tivemos o prazer de assistir narrou de forma musicada todo o terror sofrido pelos Judeus (e não só) nos campos de concentração criados pelos nazis, nomeadamente no Campo de Auschwitz (Polónia), onde a música chegou a funcionar, de alguma forma, quer como um elemento libertador, quer como elemento de tortura.

    O historiador músico lembrou em linguagem simples, mais incisiva e de grande rigor factual a expansão europeia do fascismo e do nazismo que haveriam de provocar o holocausto iniciado ainda antes da Guerra, mas que com ela se intensificaria, para só terminar com o fim da Guerra na Europa, em maio de 1945.

    Recordou a evolução musical e os seus vários veículos de difusão, nomeadamente a rádio, explicando a forma como os ditadores, e também Hitler, souberam utilizar a música ao serviço da sua propaganda.

    Falou da forma como Hitler foi dilatando a Alemanha, com as anexações mais ou menos consentidas da parte dos austríacos, sudetas e checos, para depois com a invasão da Polónia começar a pior Guerra que a humanidade conheceu até hoje.

    Não se esqueceu de fazer referência às leis raciais nazis que afastaram da sua atividade muitos músicos, cantores, coristas e trabalhadores da cultura musical, só por causa da sua ascendência judaica.

    Em resultado da influência nazi, Mussolini foi quase “obrigado” a seguir uma política antissemita, mas, na verdade, nunca atingiu a gravidade que teve nos territórios ocupados pelos nazis, a não ser quando a própria Itália (parte norte) foi ocupada pelos alemães, já no período final desta Guerra.

    Em termos de arte, música incluída, os nazis criticaram toda a arte vanguardista que consideraram “degenerada”, chegando ao ponto de organizarem uma exposição de todo o tipo de arte que deveria ser desprezada pelos alemães, que no caso da música até contribuiu para divulgação de alguns géneros musicais que alguns gostaram de ouvir, como o dodecafonismo, o jazz e algumas das músicas que animavam o cabaret berlinense.

    A música nos campos de concentração nazis acabaria por assumir «um papel de exaltação do horror e da aniquilação da dignidade humana». Em alguns campos de concentração, como Auschwitz e Mauthausen chegaram a constituir-se orquestras de que eram músicos os próprios presos que, ganhavam mais alguns dias de vida, enquanto iam dando concertos para membros das “SS” ou eram utilizados para marcar o ritmo dos prisioneiros a caminho dos trabalhos forçados ou mesmo a caminho das câmaras de gás.

    Em conclusão, foi um concerto multimédia muito bem conseguido. Maurizio Padovan avivou a memória dos horrores que humilharam e mataram milhões de seres humanos inocentes, durante a 2.ª Guerra Mundial, só porque nasceram judeus, ciganos, com limitações físicas e psicológicas ou de raças que Hitler considerava inferiores. É bom que a memória destas atrocidades não se perca, para que tais atos nunca mais se repitam com nenhum ser vivo. MD

     

     

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