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Edição de 31-03-2024
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    Arquivo: Edição de 31-12-2021

    SECÇÃO: Crónicas


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    A GUERRA COLONIAL PORTUGUESA (28)

    Início Oficial dos combatentes na Guiné-Bissau: ataque do PAIGC ao quartel de Tite

    Quase dois anos volvidos sobre o deflagrar da luta armada em Angola, eis que, na Guiné, atual Guiné-Bissau, ocorre o, até aí, mais significativo ataque do PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde), partido autonomista, inicialmente designado PAI (Partido Africano da Independência), fundado em Lisboa, em 1956, então liderado pelo guineense engenheiro-agrónomo Amílcar Cabral, a um aquartelamento das tropas portuguesas. Ataque esse que tem vindo a ser considerado o início oficial da guerra naquela antiga colónia lusa.

    Tratou-se do ataque ao quartel de Tite, situado no sul daquele território, ocorrido no dia 23 de janeiro de 1963 e perpetrado por cerca de uma centena de guerri-lheiros distribuídos por quatro grupos operacionais.

    Desde o já aqui falado “Massacre de Pidjiguiti” ocorrido em 3 de agosto de 1959, que aquele movimento se vinha preparando, quer política e diplomaticamente quer no campo militar, mobilizando as populações autóctones e recrutando simpatizantes para as suas fileiras, para, em último recurso, combater o exército colonial português, face à intransigência do regime em sentar-se à mesa das negociações com vista a uma solução política e, obviamente, pacífica, para as suas reivindicações autonómicas. Foram inúmeras as tentativas diplomáticas nesse sentido levadas a cabo pelos líderes daquele partido, com apoio político de vários quadrantes internacionais, nomeadamente da ONU, mas que sempre esbarraram num “não” categórico do governo da nação, que sempre foi respondendo com medidas cada vez mais repressivas e de feroz perseguição aos seus autores, tal como aconteceu em março de 1962, com a detenção de vários membros da direção, incluindo o respetivo presidente Rafael Barbosa. Aliás, segundo Luís Cabral , só em Bissau, terão sido presos mais de mil militantes e simpatizantes do partido, considerados pelo regime “agitadores e propagandistas”.

    Há que dizer, a propósito, que a atual República da Guiné (Guiné-Conacri), ex-colónia francesa, que confronta a norte com a Guiné-Bissau, se havia tornado independente em 2 de outubro de 1958, tendo prestado um valioso auxílio à causa independentista defendida pelo PAIGC, consentindo, inclusive, que ali fossem instaladas as suas bases operacionais. É óbvio que os independentistas guineenses terão pensado: “Bom, se os nossos vizinhos conseguiram, nós também haveremos de conseguir!” E a verdade é que estimulados por isso mesmo e pelo apoio internacional que lhes sobejava, lá foram resistindo como podiam à presença colonial, que desde sempre consideraram abusiva, usurpadora do seu território e opressora, cerceadora da sua própria soberania.

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    Em julho de 1960, o PAIGC desencadeia uma campanha de apelo geral à mobilização dos guineenses para a adesão ao partido e à necessidade do recurso à luta armada, através da distribuição de panfletos espalhados por várias localidades guineenses: “pela liquidação imediata da dominação colonial portuguesa na Guiné e em Cabo Verde”.

    A população autóctone guineense rondava, em 1960, as 500.000 almas, distribuídas por 28 grupos etnolinguísticos diferentes, num território cuja área — 36.125 km2 — é ligeiramente superior à do nosso Alentejo. À época, estariam naquele território cerca de 2.000 portugueses europeus, sendo que uma boa parte deles era constituída por militares.

    Ora, na madrugada desse dia 23 de janeiro, um desses grupos de guerrilheiros do PAIGC de que acima falámos logrou entrar no aquartelamento, após ter abatido a sentinela, que dormia no seu posto, espetando-lhe uma lança no pescoço, tendo provocado ainda mais dois feridos. Apesar de disporem apenas de 10 armas automáticas e de repetição, mantiveram o quartel sob fogo intenso durante cerca de meia hora, gerando o caos entre os militares portugueses que, colhidos de surpresa, reagiram emocional e desordenadamente, conseguindo, mesmo assim, repelir os atacantes para o interior da mata circundante, tendo abatido, segundo rezam as crónicas, três dos atacantes.

    Sobre este episódio, nada melhor do que lermos um excerto do testemunho frio e realista dum dos seus intervenientes, narrado na primeira pessoa, que, com a devida vénia, nos permitimos aqui reproduzir textualmente, do blog Graça Luís & Camaradas da Guiné :

    “Eram grupos sem qualquer comando organizado e preparado, por vezes, sem armas. Só quando estavam já no mato em perseguição dos atacantes é que se lembravam: Esqueci-me da G3?!... Eram os furriéis, os sargentos, os alferes, os tenentes, os cabos, os soldados, de cuecas, de chinelos, com armas ou com “mata mosquitos”; todos procuravam, à medida que o tempo ia permitindo, abrir mais a “pestaninha”, contra atacar, correndo com os atacantes, indo até às tabancas próximas à caça de muitos que na fuga e dispersão se desorganizaram ou ficaram feridos, com parte dos pés desfeitos, braços meios amputados, rostos semi desfigurados, barriga com as tripas na mão, etc… pelas balas ou granadas.

    Eram apanhados às dezenas, escondidos no capim ou na palhota. Foi uma caça que se prolongou até de manhã, onde o nascer do dia permitiu seguir rastos de sangue e localizar os atacantes feridos e outros que foram capturados e levados para a prisão de Tite, que “encheu até ao tecto”, só aos poucos foram “despachados” para Bissau e outros destinos, ilha das galinhas [era o que constava lá por Tite] no Arquipélago de Bijagós ou, quem sabe, nem lá chegaram [é a vida! Quando há guerra!!!]

    (...)

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    Por: Miguel Henriques

     

     

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