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Edição de 31-03-2024
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    Arquivo: Edição de 31-07-2021

    SECÇÃO: Crónicas


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    A GUERRA COLONIAL PORTUGUESA (23)

    O Início

    Na sequência dos acontecimentos ocorridos a 4 de fevereiro de 1961, em Luanda, seguidos da chacina perpetrada por elementos conotados com a UPA (União dos Povos de Angola), nalgumas fazendas do norte de Angola, em 15 e 16 de março desse mesmo ano, a que se seguiu, cerca de um mês depois, na metrópole, a eclosão dum pronunciamento militar visando derrubar o governo do doutor Oliveira Salazar, o senhor todo-poderoso do regime, e o próprio Presidente da República, seu fantoche(1), o então contra-almirante Américo Tomás, pronunciamento esse liderado pelo então Ministro da Defesa, general Botelho Moniz, episódio conhecido por “Abrilada”, tal como já aqui mencionámos, noutra sede, o Presidente do Conselho de Ministros, numa jogada de antecipação ao iminente golpe militar, procedeu, de imediato, a uma profunda remodelação das chefias militares e do elenco ministerial, demitindo os conspiradores e assumindo ele próprio a pasta da Defesa Nacional, conforme comunicação feita ao país, no dia 13 de abril, através dos microfones da rádio e das câmara de televisão.

    Aliás, já em finais de janeiro, desse mesmo ano, o assalto ao paquete Santa Maria, durante a “Operação Dulcineia”, comandada por Henrique Galvão, visava chamar a atenção da opinião pública internacional para a forma desumana como o regime tratava as populações autóctones das suas colónias africanas, na vigência do “Estatuto do indigenato”. Em 1947, por exemplo, enquanto deputado à Assembleia Nacional por Moçambique, profundo conhecedor do modo de vida dessas populações, chegou a afirmar, numa exposição à Comissão das Colónias da Assembleia Nacional, que os escravos eram mais bem tratados do que os contratados, sujeitos que estavam ao trabalho forçado, já que, relativamente àqueles, os respetivos donos, considerando-os propriedade sua, esforçavam-se por mantê-los vivos e com saúde; no que toca aos “contratados”, bem podiam morrer de doença, fome ou exaustão, que o único problema era ter de os substituir por outros que o próprio Estado recrutava.

    É neste contexto de contestação interna e reprovação internacional à política colonial portuguesa que, em 4 de março, os Estados Unidos da América informam o Ministério da Defesa sobre o ataque que a UPA planeia levar a cabo naquele território, na noite do dia 15 desse mesmo mês. Aliás, a própria PIDE e as autoridades administrativas já vinham alertando o governo para essa eventualidade, informação essa que foi completamente subestimada pelo comando militar de Angola. Dois dias depois, o embaixador dos Estados Unidos da América, em Lisboa, Charles Elbrick, reúne-se com o Ministro da Defesa, dando-lhe conta da alteração da posição do seu governo relativamente à postura que Salazar e o seu regime vinham assumindo no tocante à política colonial, segundo a qual iriam deixar de ser “tolerantes”, propondo-se votar favoravelmente a já aqui mencionada proposta de resolução apresentada pela Libéria, no Conselho de Segurança da ONU, sobre Angola, num pedido de reunião urgente, condenando Portugal por, naquela colónia, “fazer perigar a paz mundial”. Além desta pressão política, à semelhança do que já vinha acontecendo com outros países europeus, os Estados Unidos propunham-se, inclusive, auxiliar financeiramente Portugal a proceder a uma autonomização progressiva das suas colónias africanas. Mas o que Salazar faz é precisamente o contrário: vitimiza-se e vitimiza a nação portuguesa, ferida no seu orgulho patriótico, considerando que o país está a ser vítima dum complô internacional com base na inveja da grandiosidade do império luso. Mantém-se obstinadamente intransigente e apela dramaticamente ao verdadeiro patriotismo dos seus concidadãos e, estribado na “sagrada” tríade “Deus, Pátria e Família”, toca-lhes ao sentimento, invocando a herança heroica dos nossos antepassados, e ordena a imediata mobilização para a guerra. E, de todos os recantos do país, incluindo as províncias ultramarinas, milhares de mancebos arrancados às suas famílias e amigos, doravante com as suas vidas em suspenso, politicamente analfabetos, muitos até o eram literalmente, mas com a cabeça cheia de ódio aos “terroristas” incutido pela propaganda do regime, lá tiveram de acorrer apressadamente aos quarteis e aprender a manejar uma arma de fogo e outros instrumentos letais para matar gente de carne e osso como eles, alheios às razões que eventualmente lhes pudessem assistir, muitas da vezes apenas para não morrer. Sim, para não morrer, é a lei da sobrevivência que o dita. Estavam ali para agir, para cumprir ordens, obedecer, não para raciocinar ou sequer questionar o que quer que fosse. A defesa da sua Pátria, o seu sagrado dever patriótico tudo justificava, apresentando-se-lhes como valor supremo.

    Entretanto, logo no início do mês de abril, a pedido de Holden Roberto, os Estados Unidos concedem um financiamento secreto à UPA/FNLA, através do National Security Council Special Group, no apoio à sua luta anticolonial, materializado essencialmente no fornecimento de material bélico, via República do Congo (Ex Congo Belga)(2).

    Precisamente no dia 15 daquele mesmo mês de março, partiram de Lisboa quatro companhias de caçadores para reforço da guarnição militar daquela colónia/província.

    (...)

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    (continua)

    (1) Embora o Presidente da República, enquanto supremo magistrado da nação, fosse o contra-almirante Américo Tomás, a realidade demonstrava que quem verdadeiramente mandava no país era o Presidente do Conselho de Ministros, doutor António de Oliveira Salazar. Daí que aquele fosse popularmente conhecido por “corta-fitas”, pois quase sempre que aparecia em público era de tesoura em riste a cortar as fitas, nas inaugurações.

    (2) Há que ter presente que estávamos no período da guerra fria Leste-Oeste, pelo que os EUA, cientes de que, mais tarde ou mais cedo, Portugal iria mesmo perder aquele território, tinham todo o interesse em que este não caísse para o lado da URSS que, como se sabe, apoiava o outro Movimento de Libertação, o MPLA. Para além, obviamente, de salvaguardarem os seus interesses económicos ali já instalados, como, por exemplo, a exploração de petróleo, em Cabinda, através da Gulf Oil Company.

    (3) Isto é, de cada vez que fosse efetuado um disparo, o atirador tinha de puxar a culatra atrás para que o invólucro fosse extraído e a nova munição inserida na respetiva câmara de disparo.

    Por: Miguel Henriques

     

     

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