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    Arquivo: Edição de 31-07-2021

    SECÇÃO: Crónicas


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    «Sabe, temos os dois 92 anos, nascemos no mesmo dia e éramos vizinhos»

    O grasnar do corvo acordou-me. A cabeça aparece fora da tenda qual gato madrugador. O que é menos próprio de fazer, faço. Toca a espreguiçar. Que bom, os gatos que o fazem amiúde sabem o que penso. Todas as aves canoras já estão despertas. A luz amarelo-prateada irrompe pelo vale. Luzes brilham das janelas do casario.

    Nas cidades, nas cidades começará o frenesim dos pais. Tratas tu deles que eu preparo o pequeno-almoço, levo o meu carro, vá despacha-te!.. Eu a espreguiçar!

    A mochila salta-me para as costas. Percorro as aldeias acompanhando a subida do sol. Os cestos nas portas já têm o pão e outros produtos. A minha primeira refeição foi atum com atum. Estou como o aço!!! O trilho serpenteia encosta abaixo, encosta acima. Ainda não entendi esta lógica. Os povoados vazios das suas gentes. Nem novos ou velhos vejo. A indicação de Sabugueiro. O trilho indica o caminho pelo meio da encosta. Até que enfim algo bem feito. Começo a percorrê-lo. De repente volta para trás, desce, desce… estou a sair da serra, quase no sopé. Páro. Olho para cima e não tenho forças para voltar a subir aquilo tudo. Em frente, sempre a descer. Transponho o ribeiro. Refresco-me. Uma tabuleta. “Aqui é o habitat natural do sapo-comum”. A sério? Quero lá saber do sapo-comum! Fazem-me descer só para ver o sapo-comum e terei que voltar a subir. Brincamos??? O trilho leva-me a percorrer a subida junto de uma levada. As botas encharcam-se. Mau sinal.

    Casa perto de Penhas Douradas
    Casa perto de Penhas Douradas
    Eis a povoação. Estive a dois km e fizeram com que percorresse 17 km. Pedi indicações a um casal sentado à beira da estrada, contemplando a paisagem. A certa altura diz-me ele. “Sabe, temos os dois 92 anos, nascemos no mesmo dia e éramos vizinhos. Uns meses depois ela viu-me logo o “pirilau”. A gargalhada entoou sonora. “Que vergonha. Olha o senhor,” ouvi. As mãos tocavam-se, os olhares cruzavam e os sorrisos afloravam. “Sabe, sempre foi muito meu amigo. Fazia pão, levava meio e um pouco de queijo para o campo. A outra metade comia eu e as meninas ao almoço. Quando voltava para jantar, dava-me a outra metade, porque não a tinha comido”. Os meus olhos ficaram marejados, a visão ficou turva.

    Hoje é o meu carro, a minha conta, o meu... a minha… Onde me perdi no caminho??? Onde nos perdemos??!?? Despedi-me. Quase de certeza que lhe diz. “Já viste o velho maluco com a trouxa às costas??” Mas ele dirá com o seu olhar brilhante. “Falta-me só realizar esse sonho”. Continuo a subir, mergulho na praia fluvial na Lapa dos Dinheiros, almoço uma refeição decente. Nada de atum. Sigo. Eis Sabugueiro. Pergunto a um pastor pelo meu destino. Olha para trás de mim. “Sozinho??”, o cajado eleva-se. Aponta às elevações no horizonte. “Ali é a Torre, depois a lagoa, ali à esquerda parece baixo mas não é, tem que a ultrapassar para o lado de lá. Umas quatro horas. Quer levar um dos meus cães?” Agradeço. Mas não, não voltaria para trás.

    Chegaria já de noite. Subi, o término era a 1437 m. Vale do Rossim. O trilho serpenteava, ora na crista da serra ora no vale junto de uma linha de água. A meio de uma subida parei. Lá estava a parede de betão armado da Lagoa Grande. O céu escureceu. As nuvens descem a encosta quais galgos de corrida. O vento uiva com rajadas caóticas. O som de um barril a rebolar encosta abaixo, mas que sobe a uma velocidade vertiginosa. Troveja. Penso, vai chover. Tento tirar a capa e estou encharcado até aos ossos. Tenho que lá chegar. Do nevoeiro ou da intensidade da chuva nada vejo. Não, não me posso perder agora. Sigo vergado. As rajadas de vento desequilibram-me. Choco com uma rede. Rede? É a cerca do parque de campismo. Estou safo. Percorro o caminho paralelo a ela. Eis a receção.

    (...)

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    Por: Manuel Fernandes

     

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