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Edição de 31-03-2024
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    Arquivo: Edição de 31-07-2021

    SECÇÃO: Editorial


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    Um Bispo de coragem

    No mesmo dia em que a cidade de Ermesinde celebrou o seu 31.º aniversário, completaram-se 63 anos sobre a data em que o Bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes, escreveu a célebre “carta” a Oliveira Salazar, onde criticava a política do regime, que, entre outros aspetos negativos, responsabilizava pela manutenção da pobreza em Portugal. Não era propriamente uma carta, mas antes um “memorandum” (datado de 13 de julho de 1958) com a indicação das matérias a tratar num suposto encontro anunciado com Salazar, mas que nunca aconteceu. Estava-se no período escaldante que se seguiu às eleições presidenciais desse ano, em que houve manifesta fraude no que respeita ao n.º de votos atribuídos ao candidato da oposição, o general Humberto Delgado.

    Por causa da coragem do Bispo que ousou afrontar o Presidente do Conselho de Ministros, este conseguiu fazer com que depois de umas aconselhadas férias fora do país, fosse proibido de entrar em Portugal, no seu regresso. Havia deixado Portugal a 24 de julho de 1959, e quando pretendeu voltar, os agentes da PIDE não lhe permitiram passar a fronteira. Só dez anos mais tarde, a 5 de julho de 1969, em plena “Primavera Marcelista” é que a fronteira lhe foi franqueada.

    Durante esta ausência forçada viveu em Espanha, República Federal Alemã, Itália e França, sendo substituído na sua Diocese por um Administrador Apostólico. E é também neste período que ocorre o Concílio Vaticano II (1962-1965) tendo ele sido nomeado pelo Papa João XXIII, para a Comissão Pontifícia de Estudos Ecuménicos que preparou este Concílio, onde teve uma participação considerada brilhante. Outro bispo português com bastantes intervenções no Concílio Vaticano II, que teve igualmente problemas com Salazar, por denunciar a ditadura e o colonialismo, foi D. Sebastião Resende, 1.º Bispo da Beira (Moçambique). Este encontro alargado de prelados permitiu à Igreja Católica proceder a algumas alterações tendentes a acompanhar “os sinais dos tempos”. Assim, permitiu-se que a Missa passasse a ser celebrada em todas as línguas e não apenas em latim, autorizou-se o apostolado dos leigos, reconheceu-se a importância da liberdade religiosa e manifestou-se a preocupação com a unidade de todos os cristãos (ecumenismo).

    Recordemos que D. António Ferreira Gomes nasceu em S. Martinho de Milhundos, Penafiel, no dia 10 de maio de 1906. Frequentaria o Seminário do Porto, vindo a concluir o Curso Teológico em 1925. A seguir foi para Roma onde obteve o doutoramento em Filosofia pela Universidade Gregoriana. No dia 22 de setembro de 1928, António Ferreira Gomes seria ordenado sacerdote. Vinte anos mais tarde, no dia 2 de maio de 1948, na Sé do Porto, foi sagrado Bispo. Depois disso foi nomeado para a Diocese de Portalegre onde se manteve até outubro de 1952, altura em que tomou posse da Sé do Porto.

    Com o afastamento de Salazar, D. António Ferreira Gomes retorna à sua Diocese, onde se mantém mais 13 anos. Em março de 1982, com 75 anos de idade, pede a resignação do Ministério Episcopal e retira-se para a Quinta da Formiga (em Ermesinde), que, como sabemos, é propriedade da Diocese do Porto, e aqui viria a falecer com quase 83 anos de idade (13-4-1989), sendo sepultado no Cemitério da Lapa, no Porto. Dois anos mais tarde, os seus restos mortais foram trasladados para o Cemitério de Milhundos, sua terra natal, cumprindo-se assim a sua última vontade, registada em testamento.

    A 13 de abril de 1991, as mais altas figuras da Igreja, do Estado e da Cidade do Porto, homenagearam D. António Ferreira Gomes, inaugurando a sua estátua, que se situa nas proximidades da Igreja dos Clérigos, no Porto.

    Por: Manuel Augusto Dias

     

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