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Edição de 30-11-2024
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    Arquivo: Edição de 30-09-2019

    SECÇÃO: História


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    MEMÓRIAS DA NOSSA GENTE (9)

    Tradições agrárias: O MILHO – A CONFECÇÃO DO PÃO, DAS BROAS E DOS BOLOS

    Prosseguimos com a divulgação de actividades, ligadas, directa ou indirectamente, à agricultura. No que respeita à cultura do milho já nos referimos, em artigos anteriores, ao estrume que se deitava à terra para a tornar mais fértil, à sacha deste cereal, à festa da merenda e à “desfolhada”. Terminamos hoje este conjunto de artigos sobre o milho recordando a confecção do pão, da broa e dos bolos.

    DO AMASSAR AO LEVEDAR

    A quantidade de farinha, medida em alqueires, era calculada em função do número de pessoas. A fornada tinha um tempo limite de cerca de quinze dias, pois, como é sabido, a partir de determinado tempo, a broa ganha bolor.

    Colocada a farinha na masseira, abria-se uma «cova» no meio da masseira, onde era deitada a água quente, já temperada com sal.

    Começava depois o trabalho mais moroso e cansativo que era o amassar, usando-se primeiramente uma pá de cabo curto e depois, mais intensamente, as mãos. A determinada altura juntava-se o «crescente»(2), que tinha sobrado da fornada anterior e continuava-se a amassar por cerca de meia hora. Findo este tempo e verificando-se que a massa tinha ponto, polvilhava-se um canto da masseira com farinha e aí era amontoada, alisada e novamente coberta com esse pó branco.

    Benzia-se a massa, fazendo uma cruz a toda a largura, dizendo: «Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo». Este gesto era acompanhado da seguinte prece:

    «S. Mamede te levede,

    S. Vicente te acrescente,

    S. João te faça pão de gente»

    FORNO DE PÃO DE UMA CASA AGRÍCOLA
    FORNO DE PÃO DE UMA CASA AGRÍCOLA

    Deste ritual fazia também parte, antes de cobrir a massa com uma toalha, ou com o próprio saco, igualmente de linho, marcar-lhe, com o dedo, uma pequena cruz e passar-lhe um pau braseiro (pau em brasa), que tinha o condão de afastar algum bicho que por ali passasse e pudesse estragar tudo.

    AS BROAS E OS BOLOS

    O forno, que tinha sido aceso umas horas antes, continuava a aquecer e iria ser utilizado logo que a massa tivesse levedado. O tempo necessário para estar pronto a ser utilizado dependia da quantidade e tipo de lenha, da fornada e da sua grandeza. Logo que o seu interior começasse a avermelhar, isto é, com a cor própria da incandescência, era sinal de que se podia começar a operação seguinte.

    Entretanto, ia-se proceder à colocação das broas, tirando antes do forno as brasas e tições que não tinham sido consumidos e limpando o seu chão com um «varredouro»(3). Esta operação requeria maior apoio, pelo que outra mulher, até a própria jornaleira, ou mesmo um homem que estivesse livre na altura, vinha ajudar a dona da casa.

    A quantidade de massa, calculada a olho, apropriada à feitura do tipo de broa típica dessa casa de lavoura, era posta na «gamela» de madeira, tendo o seu fundo sido previamente salpicado de farinha. Atiravam-na várias vezes ao ar para que essa massa se amoldasse melhor ao recipiente. Por fim, era então posta em cima da pá de madeira, também já com farinha e ajeitada à mão. Uma após outra, iam sendo colocadas dentro do forno as broas previstas para essa cozedura, restando apenas na masseira a farinha suficiente para fazer os bolos destinados às crianças e ao gasto da primeira refeição, enquanto o pão não tivesse arrefecido, no forno.

    Os «bolos», como o próprio nome indica, eram redondos e leves, pelo que a sua cozedura era rápida.

    A «forneira» fazia-lhe cinco marcas correspondentes aos cinco dedos da mão. Nalgumas zonas colocavam-lhe no seu interior carne e por vezes sardinhas mas, em Ermesinde, essa prática não era muito usual.

    4)Ougados, (augados), - Aplica-se esta designação às crianças que, de tanto quererem uma coisa, lhe «cresce» água na boca. Desougar é a acção utilizada para acabar com essa dependência.

    (...)

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    Por: Jacinto Soares

     

     

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