MEMÓRIAS DA NOSSA GENTE (9)
Tradições agrárias: O MILHO – A CONFECÇÃO DO PÃO, DAS BROAS E DOS BOLOS
Prosseguimos com a divulgação de actividades, ligadas, directa ou indirectamente, à agricultura. No que respeita à cultura do milho já nos referimos, em artigos anteriores, ao estrume que se deitava à terra para a tornar mais fértil, à sacha deste cereal, à festa da merenda e à “desfolhada”. Terminamos hoje este conjunto de artigos sobre o milho recordando a confecção do pão, da broa e dos bolos.
DO AMASSAR AO LEVEDAR
A quantidade de farinha, medida em alqueires, era calculada em função do número de pessoas. A fornada tinha um tempo limite de cerca de quinze dias, pois, como é sabido, a partir de determinado tempo, a broa ganha bolor.
Colocada a farinha na masseira, abria-se uma «cova» no meio da masseira, onde era deitada a água quente, já temperada com sal.
Começava depois o trabalho mais moroso e cansativo que era o amassar, usando-se primeiramente uma pá de cabo curto e depois, mais intensamente, as mãos. A determinada altura juntava-se o «crescente»(2), que tinha sobrado da fornada anterior e continuava-se a amassar por cerca de meia hora. Findo este tempo e verificando-se que a massa tinha ponto, polvilhava-se um canto da masseira com farinha e aí era amontoada, alisada e novamente coberta com esse pó branco.
Benzia-se a massa, fazendo uma cruz a toda a largura, dizendo: «Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo». Este gesto era acompanhado da seguinte prece:
«S. Mamede te levede,
S. Vicente te acrescente,
S. João te faça pão de gente»
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FORNO DE PÃO DE UMA CASA AGRÍCOLA |
Deste ritual fazia também parte, antes de cobrir a massa com uma toalha, ou com o próprio saco, igualmente de linho, marcar-lhe, com o dedo, uma pequena cruz e passar-lhe um pau braseiro (pau em brasa), que tinha o condão de afastar algum bicho que por ali passasse e pudesse estragar tudo.
AS BROAS E OS BOLOS
O forno, que tinha sido aceso umas horas antes, continuava a aquecer e iria ser utilizado logo que a massa tivesse levedado. O tempo necessário para estar pronto a ser utilizado dependia da quantidade e tipo de lenha, da fornada e da sua grandeza. Logo que o seu interior começasse a avermelhar, isto é, com a cor própria da incandescência, era sinal de que se podia começar a operação seguinte.
Entretanto, ia-se proceder à colocação das broas, tirando antes do forno as brasas e tições que não tinham sido consumidos e limpando o seu chão com um «varredouro»(3). Esta operação requeria maior apoio, pelo que outra mulher, até a própria jornaleira, ou mesmo um homem que estivesse livre na altura, vinha ajudar a dona da casa.
A quantidade de massa, calculada a olho, apropriada à feitura do tipo de broa típica dessa casa de lavoura, era posta na «gamela» de madeira, tendo o seu fundo sido previamente salpicado de farinha. Atiravam-na várias vezes ao ar para que essa massa se amoldasse melhor ao recipiente. Por fim, era então posta em cima da pá de madeira, também já com farinha e ajeitada à mão. Uma após outra, iam sendo colocadas dentro do forno as broas previstas para essa cozedura, restando apenas na masseira a farinha suficiente para fazer os bolos destinados às crianças e ao gasto da primeira refeição, enquanto o pão não tivesse arrefecido, no forno.
Os «bolos», como o próprio nome indica, eram redondos e leves, pelo que a sua cozedura era rápida.
A «forneira» fazia-lhe cinco marcas correspondentes aos cinco dedos da mão. Nalgumas zonas colocavam-lhe no seu interior carne e por vezes sardinhas mas, em Ermesinde, essa prática não era muito usual.
4)Ougados, (augados), - Aplica-se esta designação às crianças que, de tanto quererem uma coisa, lhe «cresce» água na boca. Desougar é a acção utilizada para acabar com essa dependência.
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Por:
Jacinto Soares
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